Paul no Brasil 2011

Entrevista: Lucia Camargo, a garota da Camisa 10

 
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Se para cada pessoa presente no Estádio do Engenhão os dias 22 e 23 de maio de 2011 vão ficar guardados pra sempre na memória, imagine para a jornalista Lucia Camargo Nunes. Ela foi além e durante os 5 shows que Paul McCartney fez no Brasil, estabeleceu um verdadeiro sistema de comunicação com o próprio ex-beatle, que chegou ao seu ápice no soundcheck do da segunda-feira, quando se encontraram pessoalmente para aquele abraço tão sonhado durante anos. Confira aqui toda a emoção de Lucia McCartney em entrevista exclusiva para o nosso www.thebeatles.com.br (JC).


Vamos começar falando do momento máximo: como foi que você conseguiu ter contato direto com Paul McCartney?

Tudo começou porque aquele era meu quinto Hot Sound e quando cheguei no local onde ficávamos “concentrados”, os seguranças e produtores do Paul me viram e vieram me perguntar: “Hey, você de novo? Quantos soundchecks você já foi?” Aí disse que era meu quinto e que dessa vez tive de vender meu carro para conseguir comprar os ingressos. Eles ficaram muito impressionados com isso e eu completei: “Faço qualquer sacrifício para estar perto do Paul. Vendi o carro, amanhã trabalho e recupero o dinheiro. Mas e o Paul? Quando terei a chance de vê-lo novamente?” Uma das produtoras disse que ia “chorar” com isso, que a história era linda e que o Paul precisava saber disso. Ela foi buscar um cartaz amarelo para mim e me deu uma caneta (a mesma que o Paul depois viria a usar para me dar o autógrafo) e pediu para eu escrever isso. O cartaz dizia: “I sold my car to buy tickets and have a chance to shake your hand”. E de fato: depois de me “quebrar” com 4 Hot Sounds em novembro (dois em POA, para mim e meu marido) e 2 em SP (fui sozinha), agora mais 4 no Rio (meu companheiro, que nem fã é, foi junto!) Ele viu o cartaz durante o soundcheck e pediu para me levar ao palco.

Que impressão você teve dele pessoalmente? O que você falou e ouviu dele?
Uma incrível energia, um ser diferente, sem dúvida. Sabe uma pessoa iluminada? É indescritível! Amo o Paul desde meus 12 anos – hoje tenho 41. São 29 anos de muita dedicação. Conheci outros artistas ingleses queridos e sempre me lembrava de um mantra: muito, muito respeito diante deles, nada de agarrar, nada de fazer algo que o decepcione! Ingleses, principalmente, prezam muito pelo respeito, então peça “por favor” e sempre agradeça! Eu fiquei quietinha ali, só olhando para ele. Afinal, ele tem quase 70 anos… são outros tempos, jamais tentaria agarrá-lo ou algo assim. Fomos três sortudas para o palco durante o soundcheck de segunda (dia 23/5). A primeira, Rafaela, fazia aniversário e fiquei ali cantando Happy Birthday junto. Depois ele veio falar comigo, quis ver o cartaz, fez alguns comentários, me deu a mão, me abraçou forte e naquele momento eu saquei a caneta e pedi o autógrafo no braço. Ele me disse “Sure!” e escolheu o local do meu braço e começou a assinar. Aí eu disse: “With a little heart, please?” e ele disse “Yeah!”. O mais incrível é como ele se diverte! Ele adora isso tudo… Trocamos algumas palavras e sinceramente me lembro muito pouco do que falamos, me deu um branco. Eu cheguei a ter a frieza de ligar o gravador do celular que estava no meu bolso um pouco antes de chegar ao palco, mas ficou na pausa e não tenho registro desse áudio. Fiquei olhando muito para aquele rosto já flácido do tempo, meio rosinha, os olhos verdes (!) e caídos… É algo inesquecível! Sem dizer que depois que ele assinou dei a mão de novo para ele, como se fôssemos velhos amigos e peguei em seu ombro. Ele está bem magrinho, mas sua mão é muito forte! E ele é bem mais alto do que imaginava! Engraçado que teve gente que estava lá no soundcheck e me falou: “Vendo vocês dois conversando pareciam velhos amigos!” Foi exatamente o que senti…

É verdade que aquela camiseta da seleção foi presente seu?
Sim! Quando anunciaram que ele vinha para o Rio, antes de comprar os ingressos, pensei: preciso dar um presente para ele. Sei que não é nada original, mas tinha certeza que a camisa da Seleção ele iria adorar. Comprei numa loja perto de casa e pedi para colocar nas costas: “Macca 10”. Uma amiga americana (conhece o Paul e tem contato direto com ele) me deu a dica de fazer um cartaz escrito: “You are a 10! Shirt is 4U”. Bom, até dia 22 foi tudo pensado, mas para aquilo acontecer eram necessários vários passos: eu precisava estar perto dele, na grade, na frente dele, precisava arremessar a camisa com força, pois mesmo da primeira fila o palco é alto e longe… E só quando eu estava no estádio lembrei de fazer um bilhete para ele. Meu maridão querido, Edilson, que nem fã é mas é o melhor parceiro e companheiro que eu poderia ter, me ajudou a “costurar” um bilhetinho na camisa. Eu já havia planejado de só fazer isso no fim do show. Então, enquanto ele cantava Sgt. Pepper’s, peguei o cartaz e mostrei. Ele viu e respondeu dando um sim com a cabeça e então mostrei a camisa e ele arregalou os olhos, como uma criança! No fim de tudo, quando ele cumprimentava o público com a banda, meu anjo da guarda Edilson, atirou a camiseta em seus pés… O resto todo mundo viu! Foi uma emoção sem igual! Eu estava filmando tudo, mas naquela hora a máquina entrou no pause e perdi a cena. Se alguém tiver, aliás, adoraria rever!
O bacana é que foi algo em que investi, tempo e dinheiro, não foi barato, não sabia se ia dar certo… mas você tem que depositar amor, boas vibrações naquilo que faz.

Em São Paulo e Porto Alegre você tentou chegar perto também, certo? Como foi naquelas ocasiões?
Porto Alegre foi muito especial, quem estava lá sabe que rolou uma energia muito, muito boa. Eu levei alguns cartazes e num deles eu dizia que era a “184ª pessoa a estar no Maracanã em 1990 e perguntei se eu mereceria um autógrafo”. Mostrei logo no começo do show e me lembro dele quase perdendo o início de Jet porque ele parou para ler o cartaz! Fui muito insistente, aliás, e aí fica uma dica: esses cartazes distraem muito ele. Frases mais originais levam mais chances, claro, mas é preciso lembrar que nosso querido britânico preza pelo respeito. Em Let Me Roll It eu abri de novo o cartaz e enquanto ele solava lembro-me (e depois revi isso em vídeo) dele me dizendo: “Ok, ok, ok!”, como se dissesse, calma, mais tarde, já li! Eu entendi a mensagem. E parei de mostrá-lo, curti o show! No fim, antes do primeiro intervalo, eu abri de novo a faixa e para não deixar sombra de dúvidas lhe mostrei uma caneta! Ele olhou para mim, mostrou o polegar (positivo) e eu estava certa de que minha estratégia daria certo. Logo após o primeiro bis eu ouvi um dos seguranças dele dizendo no rádio, bem na minha frente: “Two girls on the stage!” e apontou em minha direção! Embora eu acredite piamente que  Paul havia me escolhido depois de “nossa comunicação imediata” e minha insistência, durante Helter Skelter os seguranças pegaram a Elisa, a gaúcha 20 anos mais nova que eu exatamente do meu lado. Eu também subi, me apoiando na grade, mas outros seguranças mais à minha direita já haviam puxado a Ana Paula. E aí pediram para eu voltar, de forma pouco carinhosa. Foi uma sensação péssima, mas… eu não poderia ficar triste, apesar da decepção! Logo após elas saírem do palco, lembro de uma cena forte: acho que minha cara de decepção estava bem estampada e o Paul olhou para mim dizendo “Sorry, next time!” Eu sorri e logo em seguida escrevi bem grande atrás daquele cartaz: “See you in SP!” Mostrei para ele e o segurança, ambos acenaram com a cabeça.

Em São Paulo, no primeiro show, senti nos primeiros instantes que ele estava tenso e diferente – até o pessoal da equipe me confirmou isso no dia seguinte, de que ele estava preocupado em fazer um show correto porque estava sendo televisionado ao vivo! Nada aconteceria e apesar de eu levar alguns cartazes e ele acenar para mim, não houve nada além disso. Na segunda, dia 22, choveu muito, não houve soundcheck e a entrada do pessoal do Hot Sound foi uma bagunça, só consegui ficar em frente ao piano, na grade, onde a comunicação é mais remota. O mais marcante naquele dia foi depois de A Day in The Life ele veio andando para a esquerda (à direita da plateia) e eu abri uma faixa dizendo “Thanks for make the world a better place”. Ele ficou curioso de ler, chegou mais perto, leu e disse “Thank you!” e então foi para o piano. Aquilo foi muito, muito forte! Aquele “thank you” ficou na minha cabeça por muito tempo (e ainda está!).

Reconhecidamente você é uma das fãs mais representativas que Paul McCartney tem no Brasil. Em algum momento de todos aqueles anos colecionando revistas e jornais do mundo todo, você imaginava que um dia fosse conseguir isso?
Sim, eu sempre acreditei que o encontraria. É preciso confiar nos seus sonhos, investir, se sacrificar. Eu nunca tive “sorte” na vida nem na loteria jogo! Mas tudo o que conquistei foi porque acreditei. Fui a Londres várias vezes, juntava 90% do meu salário para ir todos os anos para lá. Fiz isso umas três vezes e numa delas cheguei muito perto dele (na saída de Standing Stone, no Royal Albert Hall). Desde que eu soube que ele voltaria, agora ao Rio, eu passava, sem querer, esse filme na cabeça antes de dormir: subindo ao palco e vendo ele de perto. Só era diferente porque pensei que seria durante o show e não no soundcheck (à tarde). Tentava me controlar porque tinha medo também da decepção. Mas, acredito, é preciso correr riscos para conquistar grandes realizações na vida. E se não desse certo eu continuaria tentando.

E os shows do Engenhão, o que você achou? Tem como dizer de qual do quê gostou mais?
Ele estava simplesmente muito especial no Rio! Já dava para sentir isso nos soundchecks. Ele estava num “good mood”! Acho que a atmosfera do Rio, aquele quarto dele no alto do Copacabana Palace com vista para o mar, aquela cidade realmente maravilhosa, o tempo (sol, não tão quente), aquela luz de outono, aquele estádio incrível (o Engenhão é muito bonito!) e a atual fase de sua vida (apaixonado, noivo!), tudo isso contribuiu. O primeiro show foi muito bom, melhorou muito com a interação do público animadíssimo e em Hey Jude ele desmontou! Enquanto ele estava no pequeno piano seus olhos espantados procuravam o Brian Ray e imagino que ele queria dizer “What is that?” Ele ficou encantado com aquilo. E o mais gostoso é que isso é muito a gente, esse espírito do bem dos brasileiros! Parabéns a quem organizou isso, aos que participaram, porque de fato isso fisgou o Macca. Saímos de lá no domingo com uma sensação de que tudo, tudo valeu muito a pena! Mas ninguém poderia imaginar que o dia seguinte seria aquilo tudo. Ninguém. Abrir com Magical Mystery Tour e todo aquele bom astral que ele estava! Dois momentos marcantes foram as meninas que subiram ao palco (três ou quatro) elas pulavam nele, ele se divertiu muito! E aqueles ursinhos que jogaram e ele pegou? Me lembrou o Macca de 64, das palhaçadas com John, George e Ringo! Assisti a 13 shows do Macca até agora (no Brasil, EUA e Inglaterra) e posso classificar o dia 23 de maio de 2011 como um show insuperável, sinceramente! Porto Alegre viria em segundo e o show do Rio em 21 de abril de 1990 como o terceiro…

Além dos shows, aconteceram algumas surpresas musicais nos soudchecks, certo? O que você se lembra daqueles mini-shows?
Ele mudou o repertório nos dois dias do Engenhão e estava muito mais à vontade no segundo dia. Como é proibido filmar e gravar eu não me lembro de todo o repertório. No domingo, um momento marcante foi ele cantando Ebony and Ivory. Lindo, lindo! Uma menina chamada Renata mostrou, no primeiro soundcheck, um cartaz pedindo um autógrafo em uma foto que o pai dela havia feito no show de 1993, no Pacaembu. Ele leu e a chamou no palco e autografou a foto. Além de ter os olhos muito bons (não usa óculos nem lente!) ele é muito carinhoso! Na segunda, além dele fazer umas micagens com o baterista Abe, de brincar de ficar paralisado quando ele parava de tocar, ele cantou Petruska e estava bastante brincalhão. Logo que chegou, bem atrasado, disse ao microfone “Bad traffic!”. Depois, ao ouvir um rapaz, o Felipe Araujo, gritar “I love you” ele respondeu fazendo voz fininha: “I love you too”. O que deu para sentir é que ele estava muito à vontade mesmo.

Na camisa da seleção havia um bilhetinho. Dá pra revelar o que estava escrito?
“Come back soon!” com meu nome, celular e e-mail. Mas até agora nenhum contato… rs Espero que ele volte, mesmo!

Outro show à parte são os amigos e pessoas que você conhece no estádio. Do que você se lembra nesse sentido?
Sem dúvida, um clima muito amistoso e amizades preciosas. Encontrei muita gente de Porto Alegre e de São Paulo no Engenhão e agora no Rio fiz mais novas amizades. Conheci um paranaense em julho de 2009 no Citi Field, e ficamos muito amigos! Ele é piloto da Webjet e estava viajando quando abriram a venda de ingressos, então, comprei ingressos para ele. Conseguimos nos ver de longe na Prime. O Tirson, de Manaus, amigo do coração que conheci em POA, e depois ele conseguiu ter seu Album Branco autografado em São Paulo, trouxe agora sua linda família para ver os dois shows no Engenhão e ficamos juntos lá na frente. Reencontrei em POA o Gilson, amigo dos anos 80 que teve a loja Magical Mystery Tour em São Paulo, e eu havia perdido contato, agora nos falamos sempre! Revi amigos e conheci outros, como o Scott, um maluco que veio do Canadá, a Paula Dantas, a Mariana Sanmartin de Mello, Felipe Araujo, Marcelo Fróes, Ricardo Martinelli, Cláudio Dirani, Ricardinho (Paul do Beatles Forever), Aline Sodré, Edu Henning, e tantos outros! Isso é muito importante para mim! Sem dizer que conheci pessoalmente (finalmente!) o JC do site thebeatles.com.br, amigo e irmão de longa data. Para mim juntar a paixão pelo Paul e o carinho dos amigos é uma das grandes celebrações da minha vida!

 
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O que você diria para todos os milhares de fãs que, como eu, também sonham em um dia conversar com Paul McCartney? Aliás, você acha possível que ele volte ainda esse ano, como tem sido especulado?
Sempre acredito! Meus amigos, que me acompanham no Facebook, sabem que desde o início do ano, acho que foi no carnaval, eu já dizia: ele vem! E acho que de fato existem esses rumores de que ele voltará no fim do ano, pode ser que seja em 2012, mas acredito sim que ele volta, graças a essa recepção calorosa, ao povo brasileiro que é maravilhoso! Já existem conversas para ele fazer dois shows no Morumbi e precisamos ficar atentos à imprensa argentina porque dessa vez ele deve voltar a Buenos Aires também. Espero que as vendas de ingresso tenham sido boas nos dois dias do Rio – no domingo acredito que lotou, na segunda não estou certa, apesar da sensação de estádio cheio! Porque essa parte financeira também é importante.

Quanto às dicas, apesar de minha experiência, acho que tive uma boa parcela de sorte. Mas vou dar algumas:

– Hot Sound é uma das maiores invenções que poderiam criar. Eu sugiro fazer qualquer sacrifício por isso. Conheço gente que se endividou, pegou financiamento no banco, para ter essa oportunidade. Na conta são cerca de 40, 45 minutos a mais de sua vida perto do Paul! Quando eu era mais jovem e ele veio ao Brasil (90, 93) nem sonhava com isso! Mas no mínimo uma Prime é fundamental! A Elisa, gaúcha que subiu ao palco em Porto Alegre, estava na Prime… Fora isso, fica mais difícil…

– Se você estiver lá na frente e abrir algum cartaz, faça isso em algum intervalo ou em alguma música mais lenta. Se tiver certeza que ele leu, basta. Ele realmente se irrita com gente que deixa o cartaz aberto o tempo todo! Isso atrapalha sua concentração

– Frases criativas são as que dão mais chances de chegar perto dele

– Se chegar perto dele, seja lá onde for, na rua, na frente do hotel, no palco, tente manter o controle! Apesar dele não se importar com histeria (ele brinca com isso, aliás!) garanto que você aproveitará muito melhor esses incríveis e inesquecíveis segundos!

– Respeito acima de tudo: não só pelos seus 69 anos, mas porque ele merece isso. Tente conversar, não grite, não agarre, não beije se ele não quiser. Peça tudo antes, e se ele se recusar (como já se recusou a dar autógrafos ou tirar fotos, por exemplo) não tente insistir.

– Por incrível que pareça ele é de carne e osso! Tem dias que ele não está de bom humor, e se você não sentir que ele não está a fim o problema não é com você! Nossa sorte é que ele é tão incrível que isso geralmente não acontece!

– Tentar pegar ele andando de bicicleta ou velejando, por exemplo, é roubada. Ele realmente não gosta de ser abordado nesses momentos.

– E por fim: estude inglês. Sem isso, a comunicação fica difícil!

 
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José Carlos Almeida

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