Paul no Brasil 2010

Eu vi um herói do século XX (Arnaldo Jabor)

 
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Amigos ouvintes, eu vi um herói do século XX. É eu fui ao show de Paul McCartney no Morumbi, uma produção da Traffic. Grandes coisas vocês poderão dizer, nós também fomos e mais de 100 mil pessoas foram naquele dia também.

Grandes coisas, é, mas muita gente que foi ver o Paul não sabe que eu estava em Londres em 1967, quando chegou às lojas o long play Sgt. Pepper. É, e mais, eu vi a Yoko Ono antes do John Lennon conhecê-la. É, a japa chegou pra conquistar o John e também para desagregar o conjunto dos Beatles – porque no fundo ela preferia os Rolling Stones naquela época em que a transgressão, a rebeldia formal, a chatíssima vanguarda destrutiva era a linguagem do futuro. Bem, mas isso é outra história, apesar de eu achar a Yoko uma tremenda cortadora de onda.

Muito bem, mas muita gente que estava no Morumbi vendo o show não conheceu a época de que falo. Havia um sentimento nos anos 60 que podemos dar o nome de “esperança”. Isso. Hoje temos esperança de ganhar uma grana, um bilhete de loteria, uma mulher que desejamos, mas eu estou falando de uma esperança mais geral que existia no mundo.

Os anos 60 foram o momento culminante não só da minha pobre vida mas da cultura ocidental. Foi o momento do pós-guerra em que inventaram o jovem. Isso. O jovem surgiu naquela época, ele não existia. Eu me lembro que em meus 14, 15 anos não havia roupas de jovens. A gente usava o paletó do pai, a camisa do tio, os garotos viviam cheios de espinhas ignorados pelos mais velhos, oprimidos. Até que surgiram os Beatles. Não digo, é claro, que os Beatles inventaram os jovens, mas os consagraram. A indústria cultural, que ainda era tolerante na época, estranhamente criou contestadores melódicos e harmônicos, assim como também deu a luz aos Stones mais demoníacos e igualmente geniais. E foi nesse momento que o século XX começou a mudar.

Foi um fenômeno social e político muito amplo e que parecia apenas música nova, filha das baladas inglesas como Ryhthm& blues, Chuck Berry e Jazz. Mas foi muito mais do que isso. Os Beatles mudaram o comportamento da humanidade ocidental, jovem. Mudaram os cabelos, mudaram os hábitos sexuais, mudou a juventude que passou a liderar o pensamento das sociedades. E não foi uma mudança explícita, ideológica. Foi um vento abstrato e belo, foi a beleza como revolução. A vida passou a ter um sentido futuro, um lugar aonde chegaríamos um dia para a plena liberdade e alegria. E isso durou na prática até a aparição da mocréia Yoko, mas se manteve ainda até a morte terrível de Lennon e Harrison.

O sonho acabou, mas a magia ficou. E anteontem, no Morumbi, parecia um milagre. O Paul McCartney sequinho, malhadinho, generoso cantou durante 3 horas nosso futuro passado. Isso. O que muito jovem viu foi a genialidade da música que ficou e que todos amam. Mas eu, que estava em King’s Road em 67, vi o que seria o nosso futuro que a estupidez do mundo estragou. Eu vi com emoção, a esperança que tínhamos na vida, talvez ingênua , mas real.

E mais: a música dos Beatles e do Paul, seu nome maior, sedimentou-se para sempre. Num futuro, seja ele qual for, teremos um grupo musical que sempre será parte do século XX e da cultura humana, assim como Mozart criou a alma harmônica e melódica do século XVIII. Por isso chorei quando ele cantou o Magical Mistery Tour.

Arnaldo Jabor

Ouça o áudio original:
http://cbn.globoradio.globo.com/comentaristas/arnaldo-jabor/2010/11/24/PAUL-MCCARTNEY-E-UM-HEROI-DO-SECULO-XX.htm

 
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