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Raul Seixas será tema de um documentário

 
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Fonte: Correio Braziliense
Raul Seixas começou imitando o ídolo Elvis Presley a partir do filme Balada sangrenta (King Creole, 1958), que viu mais de 20 vezes. Mas em uma guinada brusca, depois de chegar ao Rio de Janeiro em 1972, ele misturou chiclete com banana, cinturão com abacate, rock e baião, construindo uma carreira fulgurante, veloz e meteórica, no curto período de 16 anos, até a sua morte, em 1989. Raul deixou a sensação de ser fugaz e eterno. O compositor baiano é o tema do documentário Raul Seixas, o começo, o meio e o fim, dirigido por Walter Carvalho, com estreia marcada para janeiro de 2011 : “Será Raul Seixas em overdose, será uma injeção de estriquinina na veia”, promete o diretor.

O mito do rock durante o II Festival Latino-americano de Arte e Cultura, sua última apresentação na cidade, no Ginásio Nilson Nelson – (Mila Petrillo/CB/D.A Press – 12/8/1989)   
O mito do rock durante o II Festival Latino-americano de Arte e Cultura, sua última apresentação na cidade, no Ginásio Nilson Nelson
No momento, Walter está queimando os neurônios para transformar as mais de 200 horas de material filmado ou pesquisado em uma hora e meia do filme que vai bater nas telas. Walter fez uma varredura pesquisando imagens em arquivos de emissoras de televisão, relíquias familiares e nos baús dos fãs. Há material em Super 8, em vídeo, em VHS e em fotos. O filme está enraizado na trajetória de Raul, no grupo Raulzito e seus panteras, na parceria com Paulo Coelho, no seu jeito de compor, de intervir no palco, de se relacionar com os amigos, o público, as cinco companheiras e as três filhas. Walter realizou filmagens em Salvador, no Rio de Janeiro, em São Paulo, na Suíça e nos Estados Unidos.

Na verdade, Walter recebeu um convite dos produtores Denis Feijão e Jorge Peregrino, presidente da Paramount no Brasil. Mas o filme o recolocou em conexão com os tempos de adolescente na Paraíba, quando fazia a mesma coisa que Raul: cultuava Elvis Presley e assistia ao filme Balada sangrenta para imitar o ídolo do rock norte-americano: “Tenho a impressão de que se não existisse Elvis Presley, Raul não existiria. Com 9 anos de idade, Raul Seixas se identificou com Elvis, levantava a gola da camisa imitando o ídolo e viu mais de 20 vezes o filme Balada sangrenta.”

Raul foi uma espécie de clone ou cover de Elvis Presley até chegar ao Rio em 1972. Ele morava perto do consulado americano em Salvador e os filhos dos embaixadores traziam muitos discos de rock para que ele ouvisse: “Naquele tempo não havia tantos discos dando sopa”, comenta Walter. Lá, descobriu Elvis Presley, aprendeu a falar inglês com a namorada Edite (filha de pai americano) e ensinou português para ela. Mas Raulzito só se tornou Raul Seixas depois que encontrou um ponto certo para misturar, rock e baião, Jackson do Pandeiro e Little Richard, Luiz Gonzaga e Bob Dylan.

Ele conseguiu a façanha de agradar, simultaneamente, o público intelectualizado, as classes populares, os jovens e os mais velhos. Raul dizia que havia estudado filosofia só para provar como era fácil ser medíocre: “Quando sacou que Jackson do Pandeiro tinha uma equivalência com Little Richard, ele deitou e rolou”, comenta Walter Carvalho. “Caetano e Gil já haviam colocado guitarras elétricas na Tropicália, mas foi Raul quem fez o cruzamento dos ritmos. Este engodo criativo, esta genialidade, fez com que ele fosse apreciado tanto pelas empregadas domésticas quanto pelos jovens ou pelos velhos.” Walter lembra que, em São Paulo, todos os anos ocorre uma passeata que começa às 14h e vai até as 19h numa concentração louca de gente se vestindo igual a Raul Seixas: “Não tem organização, não tem assessor de imprensa. O Raul é um fenômeno, ele tem algo da tragédia brasileira, tem a euforia e a derrota, tudo misturado”.

O aspecto que o diretor considera mais revelador no filme é o da carreira veloz de Raul Seixas: “É esta genealogia que a gente tenta trazer para o filme: o artista que tem pressa, libertário, provocador e criativo”, comenta Walter: “O que mais me impressionou foram as coisas mais tênues. O que consigo revelar é uma pessoa inquieta e criativa que só dura 16 anos. Isso é a grande descoberta: como a sua carreira foi tão rápida, tão meteórica e como tudo permanece.”

Raul morreu em consequência de problemas decorrentes do seu vício com bebidas alcoólicas. Mas seria uma sina de destruição do rock ou haveriam outras razões pessoais influindo em seu comportamento? O filme não responde a essa pergunta explicitamente, mas, depois de mergulhar na vida de Raul Seixas, Walter Carvalho tem uma interpretação: “Acho que Raul morreu por amor. Ele teve uma grande paixão, que foi a Edith, a primeira esposa, que ele abandonou no auge do sucesso. E quando a quis de volta, ela não o aceitou mais. E Raul foi privado de ver a filha que teve com essa mulher. Isso o fez mergulhar mais em um fundo boêmio sem volta. Quando se falava dela, ele chorava. Ele tinha muita dor daquilo e passou a se dedicar à boemia de forma mais intensa. Raul compôs a canção Medo da chuva para a Edith”.

Fotógrafo que virou diretor
O paraibano Walter Carvalho é um dos mais talentosos fotógrafos e diretores do cinema brasileiro na atualidade. Começou trabalhando nos filmes do seu irmão Vladimir Carvalho. Como fotógrafo atuou em Central do Brasil, Chega de saudade, O veneno da madrugada e Abril despedaçado, entre outros. Ganhou mais de 40 prêmios de fotografia em festivais do Brasil e do exterior. Mas ele vem se destacando também como o diretor de Cazuza: o tempo não para, Janela da alma e Budapeste (adaptado a partir do romance de Chico Buarque).


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