Paul no Brasil 2010

Silly Love Words (Kimmy Ruas)

Passado o estado de êxtase que experimentei em Porto Alegre e que se renovou em São Paulo, me bateu vontade de rememorar como me senti por aqueles dias. Apesar dos set lists idênticos (com exceção da “Ram On” de Porto Alegre), as sensações foram diferentes nos 2 shows.

No de PoA, eu fui com agonia, com fome – afinal, foram 20 anos de ausência, um buraco que eu preenchia com as memórias adolescentes do show do Maracanã em 1990, espichando a não mais poder aquelas lembranças que já estavam meio esgarçadas, tadinhas, mas que marcavam (e ainda marcam, porque têm um frescor permanente dos 16 anos de idade de então e de uma adorável união familiar – pai, mãe, irmãs, tia, tio e primas juntos na arquibancada) aquele dia 21 de abril como o melhor da minha vida.

Então em Porto Alegre eu era flor da pele, queimando de angústia e de calor debaixo do sol causticante – cheguei cedo, encontrei Aline, Mari e Felipe na fila e ali iniciei minha journée du jour, pousando de Mary Poppins para diminuir um pouco a insolação. A experiência da fila foi uma viagem – gente do Brasil todo, um tatuado de Abbey Road que curtiu minha tattoo e não queria conhecer o set list do show, a Paulinha Dantas, o JC, o gaúcho bonitinho com uma camiseta bem-humorada e corajosa (McCartney > Lennon; Beatles = Paul + 3), uma gurizada novinha que me fez lembrar de mim mesma em 1990 de novo (I go back so far I’m in front of me)…

Ao entrar no Beira Rio, a garganta deu um nó – eu ia ficar perto do palco, muito mais perto do que imaginava poder ficar. Passadas mais algumas horas, quando o Paul entrou caminhando naquele palco, como se ele fosse um mortal qualquer, just a guy in a band, eu podia morrer – juro que podia.  Naquele momento, entre mim e a grade, eram uns 5-6 metros – e entre mim e Paul, ninguém – porque ali, pra mim, era mesmo como se não houvesse mais ninguém.  Vivi uma sensação indescritível de emoção, felicidade, benção, prazer, gratidão, saudade.

Cada canção se desdobrava diante de mim, ofertada com generosidade e alegria genuínas pelo cara mais perfeito do universo. E quando ele olhou pra mim e começou “I’ve just seen a face” (que é a canção que o Paul fez pra mim sem saber e que representa quase tudo in my life),  eu surtei, porque o rosto que o Paul acabava de ver era o meu, eu sei – a minha música, cantada assim escancaradamente para mim, foi uma das coisas mais emocionantes que já vivi. Em “Let me roll it”, chorei demais -  eu cantava “I can’t tell you how I feel, my heart is like a wheel… let me roll it, let me roll it to you” e era simplesmente perfeito – era tudo que eu queria dizer ao Paul e tudo que eu queria ouvir dele também. Em “Live & let die”, ardi – muito apropriado, o fogo fora rimando perfeitamente com o fogo dentro. 

E assim foram passando aquelas 3 horas de perfeição terrena – e eu ali, de pé, erguia os meus braços, capturando a energia maravilhosa que o Paul emanava e que eu absorvia. E, apesar de ter chorado tantas vezes durante o show, eu sorri demais também – o olho pequenininho, permanentemente úmido, combinava estranhamente com o sorriso quase rasgando meu rosto; era uma felicidade tão pura e genuína, um sentimento em estado bruto, como se eu fosse um bebê, que ainda não tem filtros e deixa a emoção – toda ela – acontecer de forma absolutamente espontânea. E senti um amor tão grande por aquele homem e pelas pessoas e pela vida que tenho e por me ter sido dada a oportunidade de estar ali… Me senti privilegiada, e me senti grata, e me senti plena e abençoada. E foi nessa estado de graça que regressei ao hotel, e depois ao Rio, com a respiração presa até São Paulo.

E São Paulo – uma cidade que eu amo porque a fiz minha nos 7 anos em que lá vivi e porque abriga friends & lovers caríssimos ao meu coração – chegou. O esquenta foi maravilhoso – uma grande farra no bom e velho Little, na companhia de amigos antigos (inúmeros – começando pela minha familia paulistana – Piti, Gracia, Liga – e passando por Titico, Mazza, Nico, Telma, Aninha, Claudio, Mauricio, Beto, Elaine, Bel, Julinha, Lelê, Marcelim, Fabi Barilovski, Miguel, Nowhere Man) e novos, espalhados no palco e na platéia, homenageando o Carlão Assale e preparando os espíritos para o dia seguinte.

Me diverti demais e, entre uma Skol e outra, fui apresentada a pessoas que eu só conhecia de nome, como a Talma e o Paulo Seixas – todos no meio de uma onda de caras felizes, os sorrisos escondendo um fundinho de tensão pelo dia seguinte, cada vez mais próximo. E quando o domingo chegou… o entorno do Morumbi era pura eletricidade – eram umas 5 e pouco da tarde e eu fui impactada por toda aquela massa de gente e me senti em casa, irmanada com todo aquele povo adorador de Beatles, de Paul… Todas aquelas pessoas olhavam pra mim e me liam, me conheciam – e eu as conhecia também, e tão bem, que seria capaz de abraçar cada uma delas. Parecia muito simples, do jeito que deveria ser  – se eu amo o Paul e você ama o Paul, eu amo você and that’s all.

That’s what I talk about when I talk about love – um amor transbordante e sublime, um amor que apenas é e não requer nada mais – real love. Ali na rua, fui apresentada pelo Paulo Seixas ao grande Carlão (careduber) e descobri que todos iam estar no mesmo camarote – excellent news. E o clima do camarote não poderia estar melhor – muita gente bacana, uma angustiazinha coletiva de antecipação, um Ovolmaltine sensacional de Amarula… Ali, eu vivi uma experiência muito diferente da de PoA: embora eu estivesse longe fisicamente do palco, era uma coisa mais intimista, porque no meio de tantas carinhas conhecidas. E chorei – chorei muito, ainda mais que em PoA, pela alegria de compartilhar aquele show com meus amigos queridos – foi maravilhoso misturar as minhas lágrimas e soluços com as do Marcio, da Piti, do Fabiano, da Lelê e do Miguel, que foram os meus companheiros mais próximos naquela noite. E foi libertador ir para a pista e pular, dançar, me acabar de felicidade, aproveitando cada um dos minutos até The End.

Hoje, olhando em retrospecto, penso em como o Paul é um artista sublime, porque de um talento único e absurdo e de uma generosidade imensa, além da simpatia e do cavalheirismo, e das roupas bem cortadas (dá-lhe, Stella), dos olhos pidões mais lindos do mundo (mesmo com as rugas em volta – e talvez ainda mais por causa delas?), da interação com a banda (que caras mais energéticos e bacanas – adoro todos eles), do amor que ele exala e que ele atrai para si – como disse uma menina que estava perto no show de PoA, “Mas bah, ele é tri-amado, né?” – e é claro que é… E reforço meu testemunho: não há ateu que resista a ver Deus se manifestando tão maravilhosamente num palco. Deus existe, Paul é deus, eu sou deus, eu sou Paul.  Nada pode ser mais perfeito.

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