George Harrison

11 anos sem George Harrison (Big Charles)

Big Charles
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Saber da morte de alguém que sempre viveu dentro da gente é também morrer um pouco. Na mesma proporção da distância física que agora temos de George, crescem no nosso coração as lembranças da sua música magnífica, das suas palavras de paz e seus acordes de amor. Assim como John jamais deixou de cantar nas vitórias sobre a opressão e na luta por todo tipo de liberdade e verdade, George é visto serenamante nas preces que enaltecem a esperança e nos mantras e canções que engrandecem a alma humana.

Era madrugada do dia 30 de novembro de 2001 quando o telefone yellow-pequi gritou. Isso era ruim. A última vez que ele havia tocado fora quando Paul tivera um acidente de carro em New York, dias antes de um boeing cair no bairro do Queens. Sir JC, na Central Les Beat, me avisara naquela ocasião que tudo estava bem e, caso eu visse ou lesse alguma notícia que não fosse o que ele estava me passando – ‘shit press!’, frisou -, que eu não me aborrecesse, pois Paul nada tinha sofrido, além de um grande susto, e que ele me mandava um abraço e …um soco no nariz! Velho Paul.

Agora o compenetrado Sir JC estava chorando e eu senti que tinha chegado a hora de ouvir aquela terrível notícia. Notícia que nos últimos dias parecia um bicho de geleia tentando se segurar numa estalactite, mas que escorregaria e se esborracharia, inevitavelmente.

George Harrison partira.

Imediatamente corri até a minha beatlebox, onde estavam as duzentas e oitenta e sete fitas cassete gravadas pelos meus amigos John, Paul, George e Ringo, desde a nossa separação. As de Lennon, datadas até 2005, eu já havia escutado – nosso trato era o de ter que ouvir as fitas o mais rápido possível quando algum de nós morresse – e as de George, que eram em número bem menor, tinham a ‘last date’ em 25 de fevereiro de 2003, ocasião em que ele completaria 60 anos.

Liguei o aparelho, encaixei a fita e a sua voz, com apenas 26 anos, ecoou pelo quarto naquele indefectível: “Hello, Big Charles” carregado no “erre”, num outrora achincalhado inglês do norte, o scouse, e não tive como, ali mesmo, não interromper a sua fala formidável e deixar um convulsivo choro me invadir.

– George se fora mesmo, man? Porra!

Nada mais consegui ouvir até hoje, 03 de dezembro. A dor é muito grande.

Não sei se Paul e Ringo conseguiram ouvir as fitas de Lennon na velocidade que imaginávamos ao nos despedirmos entre risadas, algum constrangimento pela Apple (Klein e os Eastman ainda duelavam) e um certo temor de que não estávamos fazendo a coisa certa…

Nesses péssimos últimos três dias nada mais faço além de olhar no espelho e ainda tentar achar em mim as partes de John – como estás, velho? – e agora de George…

– Êi, Paul! Êi, Ringo! O que está acontecendo com a nossa face?

Carlos Edu Bernardes – Big Charles
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