Em 1978, durante um show do Fleetwood Mac em Los Angeles, George Harrison entrou discretamente na área VIP, usando óculos escuros que escondiam sua expressão. Não era uma cena comum para ele, que sempre preferiu a calma dos jardins e das guitarras ao agito das multidões. Algo na performance de Stevie Nicks, porém, chamou sua atenção. Ela também percebeu. Sem trocar palavras, seus olhares se cruzaram em meio à névoa das luzes do palco e à fumaça de cigarro. Esse encontro marcou o início de uma amizade singular e profunda, que geraria conversas reservadas, anos de especulações e rumores persistentes.
Naquele momento, Harrison tentava se recuperar de uma década intensa: a Beatlemania, sua jornada espiritual na Índia, o fim público dos Beatles e as complicações de sua vida pessoal, como o divórcio amplamente noticiado de Pattie Boyd. Já em sua carreira solo, ele havia criado obras-primas como All Things Must Pass e buscava uma vida mais serena, afastada do tumulto da fama.
Stevie Nicks, por sua vez, vivia um furacão. Após o sucesso estrondoso de Rumours com o Fleetwood Mac, ela começava a esboçar sua identidade como artista solo. “Edge of Seventeen” ainda estava por vir, mas seus cadernos já transbordavam de ideias. Atraída por místicos e poetas, Nicks encontrou em Harrison — calmo, filosófico e sutilmente melancólico — um espírito que se destacava entre as estrelas do rock.
A amizade entre eles cresceu em silêncio. Diferente de muitos no meio musical, eles não a exibiam. Harrison a convidou várias vezes para o Friar Park, sua casa na Inglaterra, e a visitou em momentos tranquilos, longe dos flashes dos paparazzi, muitas vezes sob a chuva que camuflava seus encontros. Pessoas próximas contavam que passavam horas falando sobre reencarnação, escalas musicais e o apreço mútuo por Bob Dylan. Para Nicks, Harrison era uma fonte de sabedoria serena; para ele, ela trazia uma energia vibrante e caótica, reminiscentes dos anos 60, antes de tudo se tornar tão pesado.
Logo, os rumores começaram. Tabloides, sempre famintos por escândalos, sugeriram um romance. Histórias de sessões de estúdio secretas, letras misteriosas e supostas cartas manuscritas circularam entre os fãs. Nicks nunca negou a amizade, mas também nunca alimentou as especulações. Em uma entrevista de rádio em 1983, ao ser questionada sobre um possível namoro com Harrison, ela sorriu e disse apenas: “George era meu gêmeo cósmico”.
Alguns episódios curiosos mantiveram os rumores vivos. Durante uma festa na casa de Eric Clapton em Surrey, os dois desapareceram no jardim por mais de uma hora, retornando com pétalas de flores silvestres no xale de Stevie e os dedos de Harrison manchados de tocar cítara sob as árvores. As pessoas comentaram, mas nenhum dos dois jamais tocou no assunto.
A música era o verdadeiro elo entre eles. Nos rascunhos iniciais de “If I Were You”, uma canção inédita de Nicks, há versos que falam de “um homem com cordas de oração no bolso e trovões por trás de seu silêncio”, possivelmente uma referência a Harrison. Já em demos póstumos de Harrison, há uma melodia acústica chamada “Silver Witch” — apelido que Clapton supostamente usava para Nicks.
Amigos próximos afirmam que a relação deles ia além de um romance; era mais um encontro de almas. Dois artistas marcados pela fama, em busca de algo autêntico, encontraram isso um no outro, desafiando rótulos. Nicks certa vez confidenciou a um amigo: “Nunca fomos amantes. Éramos mais do que isso. Éramos velhas almas cruzando caminhos.”
Ao longo dos anos, a conexão deles oscilou entre a discrição e breves vislumbres públicos. Quando Harrison faleceu em 2001, Nicks esteve presente na cerimônia privada em Friar Park, chegando cedo e ficando até tarde. Ela nunca falou sobre aquele dia, mas dizem que deixou uma pena branca no altar.
A história deles, envolta em música e silêncio, permanece um dos laços mais intrigantes do rock. Não se sustenta em manchetes, mas em riffs de guitarra, anotações à mão e no espaço intangível entre duas almas serenas. Algumas amizades não precisam de provas; elas ecoam suavemente em acordes que só eles podiam ouvir.