The Beatles

A Beatlemania no México

Los escarabajos en México – Beatleamania com sabor de pimenta

Carolina da Cunha Rocha

A relação do México com os Beatles é apimentada e colorida como o próprio país. Além da música, se pode dizer que o destino de alguns dos integrantes do Fab Four foi traçado naquelas terras, algo que talvez explique a paixão desenfreada dos mexicanos pela banda inglesa.

Ringo Starr foi o primeiro beatle a visitar o país. Foi em 1975, em Acapulco, com sua então namorada Nancy Andrews, que o baterista compôs a canção “Las Brisas”, uma ode ao estilo de vida praieiro da região, gravando a canção no ano seguinte com o grupo mariachi Los Galleros. No entanto, seria nas gravações do filme O Homem das cavernas (Caveman), filmado no início de 1980 nas zonas mexicanas de Durango, Jalisco e Zacatecas, que o coração de Ringo foi flechado por sua companheira de elenco, a atriz Barbara Bach, com quem o músico é casado até hoje.

George Harrison se casou com a mexicana Olivia Trinidad Arias, em 1978, ao som de um grupo mariachi. Nascida na Cidade do México, Olivia imigrou ainda na infância junto com sua família para Califórnia. George também realizou algumas visitas ao país nos anos seguintes, encarregando o maestro José Hernández, fundador do grupo mariachi Sol de México, a tradução e um arranjo ao estilo rancheiro de sua canção “Dark Sweet Lady”, conhecida no México, como “Morena Mía”, dedicada a Olívia. Se pode dizer que seu filho Dhani é, portanto, metade inglês e metade mexicano, aumentando a conexão do grupo com país.

Capa em Espanhol de uma coletânea dos Beatles.

Paul McCartney por sua vez não apenas cita o país em uma canção de 1971, “Back seat of my car”, como fez inúmeros concertos memoráveis por lá, sendo o mais inusitado deles o show gratuito realizado na praça principal da Cidade do México, o Zócalo, em maio de 2012. Realizado no Dia das Mães, o concerto reuniu mais de 200 mil pessoas e foi responsável por fechar ao menos sete ruas paralelas à praça principal, em razão da superlotação do Zócalo (lugar onde cabiam “apenas” 80 mil pessoas nos seus 57.600 m2 de diâmetro). Paul levou o público ao delírio com gritos de “Viva México, cabrones!”, hasteou uma bandeira mexicana e cantou com um grupo mariachi Gama Mil a música “Ob-la-di-ob-la-da”. Muitos fãs gritavam “Oe-Oe-Sir Paul” e pediam para que fosse o novo presidente do México, pois era ano de eleições presidenciais. A relação de Paul com o país, entretanto, não termina por aí. Em 1976, de férias com sua família em Puerto Vallarta, Paul não apenas terminou de compor sua canção “London Town”, como concebeu junto com Linda McCartney seu filho James, quem se auto considera metade mexicano.

Cartaz em Espanhol do filme Help! (Socorro!).

Sobre John Lennon paira uma dúvida misteriosa. Corre o boato no país que em 1980, John teria visitado María Sabina, uma famosa curandeira mexicana, em busca de respostas para sua vida semanas antes de morrer. Moradores da cidade de Huautla, no sul do México, afirmam ter visto a John entre os inúmeros turistas hippies que buscavam os cuidados da xamã no período. No entanto, a dúvida foi sanada por Yoko Ono, que em visita ao país para inaugurar sua exposição Terra de Esperança, em fevereiro de 2016, afirmou que John nunca esteve no México, levando à decepção uma legião de fãs que acreditava no boato.

Mais do que a presença física dos Beatles, é importante ressaltar também a presença cotidiana do quarteto na Cidade do México. Em julho de 2015, foi inaugurada no museu de arte Soumaya uma exposição intitulada The Beatles: ayer, hoy y manãna, que incluía objetos como cartazes, revistas, discos, brinquedos, roupas, acessórios, entre outros materiais de colecionadores e aficionados mexicanos que testemunhavam a invasão beatle no país. Nesse mesmo ano, a Cidade do México tentou quebrar o recorde do Guinness com o maior número de pessoas cantando “Let it be”, além do que a cidade ofereceu passeios em ônibus turísticos intitulados Magical Mistery Tour, onde se tocava música dos Beatles ao vivo enquanto se conheciam pontos emblemáticos da cidade, como o Anjo da Independência ou o bairro onde Frida Kahlo viveu.

Palco do evento Rock’ola Inglesa, Teatro Metropolitan.

Também são frequentes os concertos semestrais realizados no Teatro Metropolitan, intitulados de a Rock’ola inglesa, onde mais de 15 bandas cover dos Beatles se revezam ao longo de uma jornada extenuante de mais de 12 horas de música, em que são também apresentadas partes de entrevistas, filmes e documentários sobre a vida e trajetória da maior banda de rock de todos os tempos. Entre essas bandas se destaca o grupo cover mais conhecido e celebrado em terras mexicanas, o Morsa.

Conhecida por sua precisão vocal e instrumental e pela qualidade inconfundível de suas apresentações, a banda Morsa, além de ser considerada a terceira melhor banda cover dos Beatles do mundo, também possui uma escola de formação beatle, chamada Academia Morsa, onde pessoas de todas as idades aprendem instrumentos musicais (como bateria, guitarra e baixo), Inglês e também um pouco sobre a importância dos Fab Four no mundo. Segundo seus integrantes o que move o projeto é o fato de que a Beatlemania não pode acabar, devendo ser
repassada às novas gerações.

Este breve relato não seria completo sem mencionar o programa de rádio Club de los Beatles, emitido atualmente pela estação da rádio Universal (97.7). Desde 1964 até hoje (55 anos!), entre mudanças e permanências, o programa conduzido por Manuel Guerreiro transmite de segunda a sexta em duas edições (de 7h às 8h da manhã e outra de 13h às 14h da tarde) músicas do grupo e da carreira solo de seus integrantes, versões cantadas por outros artistas, além de efemérides e notícias sobre a banda. Impossível estar na Cidade do México e não ouvir o programa, seja em algum dos incontáveis táxis ou ônibus da cidade.

Termino este relato com uma breve anedota pessoal. Depois de subir a pirâmide do Sol, a mais alta do complexo arqueológico de Teotihuacán, e tentando me conectar com a energia do lugar, foi impossível não soltar uma gargalhada ao ouvir ao longe uma flauta indígena tocando “Yellow Submarine”. No México, os Beatles são simplesmente deuses.

Fachada do Teatro Metropolitan anunciando concerto em comemoração aos 75 anos de John Lennon.

 

Links:
Podcast sobre a visita de John Lennon ao México
http://universal977.com/enelcentro/manuel-guerrero-nos-cuenta-john-lennon-visitomexico.html?fbclid=IwAR1iDyhvJ1V5BQcCkus5jpNywNCXRHDpxumjOO5-
jzw39yustOy671agrQk

Página do Grupo Morsa, melhor banda mexicana de cover dos Beatles
https://www.facebook.com/pg/Morsa.Beatles/about/?ref=page_internal

Um pouco da trajetória dos Beatles no México
http://www.siempre.mx/2013/11/la-historia-de-ringo-starr-en-mexico/ 

Club de los Beatles, programa de rádio mexicano dedicado aos Beatles
http://www.eslocotidiano.com/articulo/tachas-304/club-beatles-radio-ciudad-mexicohistoria/20190407083909052939.html 

Show do Paul no Zócalo, centro da Cidade do México
https://www.proceso.com.mx/307112/la-noche-de-paul-mccartney-en-el-zocalo 

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José Carlos Almeida

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