O Primeiro show a gente nunca esquece!
Por Aline Sodré
Eu sou apenas mais uma entre milhões de Brasileiros vibrando muito com a vinda do Paul ao Brasil, e não poderia ser diferente.
Assim como muitos, minha paixão por ele começou cedo: Aos 6 anos, em 1986! Só que, diferente de muitos, eu conheci o Paul antes dos Beatles. Eu me tornei fã dos Paul me deleitando ao som de um vinil do meu pai, Give my regards to Broad street, e me apaixonei… por ele, pela voz, por aqueles olhinhos lindos que te pedem atenção. Só queria ouvir aquele disco, sempre com a capa na mão. Fiquei enfeitiçada! Meses depois dessa “descoberta”, quando meu pai assistia a um especial sobre os Beatles na extinta TV Manchete, eu perguntei “Ué, pai, o que o Paul está fazendo nessa banda?” Dadas as explicações, surgia aí o nascimento da Beatlemania em mim!
Em 90 o Paul veio ao Brasil. Fiquei louca, doente. O Brasil parou, mostravam cada passo dele na TV! Eu queria muito ir, mas os meus 9 anos e meio de idade, não me permitiam, meu pai não quis me levar. Odiei – e odeio – todo mundo que esteve naquele show! (rs) Eu mal consegui ver na TV porque achava que ninguém merecia estar ali mais do que eu. Trauma de infância!
Achei que ele nunca mais voltaria, mas, eis que um dia em 93, eu já “adolescente”,enquanto estudava para as provas finais da 7ª série, – com a televisão ligada - escuto bem de longe o solo de “live and let die” no piano. E em seguida ouço “Lacta apresenta Paul McCartney no Pacaembu!” Desnecessário descrever minha reação: surtei, gritei, chorei! Foi uma das maiores emoções da minha vida!
E claro que quis comprar o ingresso no primeiro dia. Na época, foi muito fácil, sem filas, ou preço exorbitantes. Comprei na C&A do centro da cidade por 35 mil cruzados novos. Naquela época, show era pra fã, não tinha esse “oba-oba” em torno dos ingressos, essa exposição toda na mídia e na Internet, que naquela época nem existia. Infelizmente nos dias de hoje, show é evento, é “point” de encontro de celebridades e marketeiros.
Chegado o dia do show, 03/12/1993, claro que quis ir cedo pra fila pra garantir um bom lugar. Não existia pista VIP: quem chegava cedo, garantia um bom lugar. Cheguei em torno do meio dia e a fila estava tranquila. De repente, às 15h, todo mundo resolveu chegar na mesma hora, e a fila ficou imensa. Havia várias radios com promoções instaladas por ali, e duas caixas de som bem grandes do lado de fora. Uma hora tocou “Got my mind set on you” do George Harrison, e a galera vibrou, ja entrando no clima. Às 17h30 abriram se os portões. Peguei a revista que estavam distribuindo e para desespero do meu pai, saí correndo feito uma louca. Na verdade, eu voeeei, corri como uma maratonista! Grade garantida!
As horas que antecederam o show pareciam eternas. Minha ansiedade me matava, coração saía pela boca, ainda não tinha caído a ficha que eu ia ver o maior ídolo da minha vida tão de perto. Quando deu 21h29 (o show estava marcado para às 21:30), falei pro meu pai “pode esperar, que vai atrasar”. Mas o Paul é Britânico! Logo em seguida, apagam se as luzes, os telões exibem um clipe de “Help”, com crueldades feitas com animais! Galera já entra no clima! De repente fica tudo escuro. Eu olho pro meu lado direito, vejo a Linda entrando e se acomodando em seu teclado, Hamish Stuart, Robbie Mcintosh! Todo mundo ali, mas… cadê ele??? Cadê o homem? Cadê o Paul? Cadê??? Ouço então, a introdução de “Drive my car”, levanto os olhos e bem na minha frente o “HOMEM”. Ele existe. Ele é de verdade! E aí a emoção toma conta!
A sensação de ver o Paul pela primeira vez nos primeiros minutos é pura anestesia: você fica fora de órbita, seu cérebro não processa as informações, você não sente seu corpo… e depois, quando você volta a si, se derrama em lágrimas a cada novo acorde ou a cada gracinha feita por ele no palco. Show perfeito, com muitas emoções. Quem foi, jamais irá se esquecer da imagem do Paul e John no telão em “C’mon People”. E quem foi também não se esquece do “Good night, see you soon” que ele não cumpriu, Humpft!
17 anos! Uma vida! 17 insuportáveis anos de espera! Poxa, Paul, logo com o Brasil, seu público mais apaixonado? Basta ver imagens dos últimos shows ao redor do mundo. Chega a assustar o número de bandeiras brasileiras presentes! Só dá Brasil!
Acredito que o show desse ano será ainda mais especial do que os de 90 e 93, pois serão muitas gerações presentes. E isso devemos à “Geração Anthology”! Eu me lembro que eu aos meus 13 anos, era minoria no Pacaembu. Havia jovens também, claro, mas a maioria levados pelo pai, e poucos tão fanáticos como podemos ver hoje. Graças à Geração Anthology, hoje veremos pessoas que nem eram nascidas em 93 se deleitando no show de Sir Macca! O show da vida de cada uma delas!
Vejo muitos comentários condenando preços absurdos e tudo mais. É caro? É muuuito caro, um abuso! Mas não é de hoje que vem sendo assim no Brasil! Shows aqui são caros, e não somos nós que vamos conseguir mudar isso. Infelizmente, o buraco é mais “embaixo”. Então não dá, “ou é isso ou nada”!
O que eu falo para uma pessoa que vejo lamentando que não irá ao show porque os preços estão altos? “É uma questão de ponderação e escolha – considerando é claro, as limitações de cada um – , como disse Lippe Araujo, meu querido amigo e parceiro de “Paulmania”: “Tem pessoas que pagam 1.000 reais num óculos, 500 num relógio, coisas que eventualmente, vão se desgastar. Mas reclamam de pagar 250, 700 reais para um show do Paul McCartney, esperado há 17 anos?”. Quando eu penso assim, chego à conclusão de que todo o sacrifício financeiro que irei fazer, valerá a pena!
Claro que não posso ser radical e falar isso pra todos, afinal no Brasil tem familias que vivem com menos de R$ 1.000,00 por mês, e obviamente pra essas pessoas seria um sacrifício desumano pagar o preço máximo. Mas o que digo é: quem quer muito ir e tem condições! Vai atrás, qualquer sacrifício é válido, mesmo que você passe os próximos 6 meses da sua vida apertado, você se lembrará que estará apertado por um motivo pra lá de nobre.
Enfim, mas pra quem está de fora desse fenômeno que nos acomete, deve mesmo soar pra lá de estranho fazer todas essas loucuras. Somos tachados de “doentes”. Outro dia ouvi de uma amiga “Mas, poxa, pagar tudo isso por um show de apenas 3 horas?!” O que eu prontamente respondi: “Aí que você se engana, não dura 3 horas, dura A VIDA INTEIRA.” Vamos atrás do nosso sonho, pessoal, PAUL IS COMING!
“We were only waiting for this moment to arise”
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