O que Brian Epstein fez na música pode inspirar líderes e empreendedores
Brian Epstein viveu pouco, mas o suficiente para marcar seu nome na história da música. Foi ele quem descobriu os Beatles e ajudou a abrir o caminho da banda para a fama internacional. Recentemente, sua história ganhou novos contornos com o lançamento do livro “O Quinto Beatle”, escrito por Vivek Tiwary e lançado em maio no Brasil pela Editora Aleph. Em formato de quadrinhos, a trajetória de Epstein é contada desde a primeira vez em que ele ouve falar dos Beatles, quando gerenciava uma loja de discos em Liverpool, até sua morte, aos 32 anos.
Tiwary pesquisou sobre Epstein durante 21 anos. As entrevistas e materiais reunidos ao longo desse período acabaram virando a biografia em quadrinhos, mas sua ideia inicial era apenas reunir as lições de um case de sucesso no mundo da música. “Eu era estudante em Wharton [escola de negócios da Universidade da Pensilvânia] e meu sonho era trabalhar com artes e entretenimento. Aí eu pensei que, para ser bom nisso, eu deveria estudar a vida de visionários dessa área. Foi isso que me levou ao Brian”, disse o autor em entrevista à Época NEGÓCIOS.
Com o foco inicialmente voltado para o lado dos negócios, Tiwary conseguiu reunir cinco lições valiosas aplicadas por Brian Epstein na gestão da banda que se tornou mais famosa que Jesus Cristo, segundo as palavras de Lennon. Tiwary, que já produziu espetáculos da Broadway e é dono de uma empresa de entretenimento, garante que ele mesmo usou o que aprendeu durante sua carreira. Nesta matéria, ele compartilha o que aprendeu.
1. Estabeleça metas
Saber onde se quer chegar é muito importante para líderes e empreendedores. Segundo Tiwary, o ideal é ter duas metas: uma mensurável e outra mais visionária. No caso de Epstein, ele queria transformar os Beatles em um fenômeno maior que Elvis Presley. Era ambiciosa, mas ainda assim possível de quantificar – quantos discos venderam, em quantos países fizeram shows. Ao mesmo tempo, Epstein dizia que os Beatles colocariam a música pop em outro patamar, para transformá-la em arte. “No fundo, é essa outra meta que vai fazer a sua companhia ser não só um simples sucesso, mas uma lenda. Vai torná-la diferente de todas as outras que fazem a mesma coisa que você. É preciso ter um objetivo prático e outro mais sonhador”, explica.
2. Abrace a tecnologia do seu tempo
Epstein aproveitou como podia a tecnologia disponível na década de 60 para tornar o seu produto viral – no caso, os Beatles. É claro que na época a internet e as redes sociais estavam longe de existir, mas havia o rádio, que era um poderoso meio de comunicação, especialmente para os jovens. Tiwary conta que no Natal de 1963, quase ninguém nos Estados Unidos conhecia a banda, mas poucos meses depois, durante a turnê em fevereiro de 1964, 72 milhões assistiram pela televisão ao show dos Beatles no programa de Ed Sullivan. Nesse intervalo de tempo, segundo o autor do livro, Epstein fez o possível para garantir que os maiores DJs das rádios americanas soubessem sobre os Beatles, tocassem suas músicas e falassem sobre a chegada da banda ao país. Durante o voo da Inglaterra para os EUA, inclusive, ele passava informações sobre a situação da banda. “Naquele ano, o rádio portátil foi o presente mais desejado. Os jovens iam para a rua ouvindo seus aparelhos, não precisavam mais estar em casa sentados em frente ao rádio. Epstein aproveitou esta oportunidade e conseguiu resultados espetaculares para os Beatles”, diz Tiwary.
3. Embalagem e apresentação
Para ser bem-sucedido, o produto, seja qual for, precisa ter uma embalagem e ser apresentado de um jeito que faça sentido para o seu público. No caso dos Beatles, se eles queriam mesmo conquistar o mundo, teriam que inicialmente convencer muita gente de que eram caras bacanas. Foi por isso que Epstein trocou as jaquetas de couro e cigarros acesos no palco por ternos e cabelos arrumados – o visual de bons moços do início da banda. “Ele sabia que, dependendo da apresentação, eles seriam mais ou menos amados. Ternos e um bom comportamento agradariam meninas, meninos, pais e até mesmo avós. O mundo todo poderia recebê-los de braços abertos”, diz Tiwary.
Porém, ao mesmo tempo que eles precisaram seguir tendências por um período, Epstein percebeu que com a maturidade da banda chegava também a hora de lançar tendências. “Foi aí que ele incentivou os Beatles a criar o que os faria únicos. Deixou eles decidirem como se vestir e dar suas opiniões políticas. Isso era radical para a época.”
4. É preciso testar os limites sem radicalizar
No caso de uma empresa, isso quer dizer inovar sem surpreender negativamente os consumidores ou apresentar algo de difícil compreensão. No caso dos Beatles, Epstein dava liberdade para eles comporem suas músicas e testar novos sons, desde que as gravadoras estivessem de acordo com a novidade e que não causasse tanta estranheza entre os fãs. “Você precisa crescer com seu público, não se alienar dele. É algo muito difícil de se fazer, mas ele foi bem-sucedido nisso”, afirma Tiwary.
5. Delegue e faça um plano de sucessão
Claro que líderes e empreendedores precisam ter paixão pelo que fazem, persistência e confiança em seus projetos. Por outro lado, é preciso ter humildade para reconhecer que não é possível ser bom em tudo ou onipresente. Por isso, é importante se cercar de pessoas que dividam as responsabilidades e ajudem a tornar sua empresa e seu produto ainda melhores.
Tiwary também destaca a relevância do plano de sucessão. “É preciso saber quando é a hora de deixar outra pessoa começar a tomar conta. Claro que isso não é fácil. Pensar que um dia você estará muito velho ou não estará mais aqui para cuidar de seus projeto é difícil para todo mundo”, diz. Nesses dois aspectos, Epstein não foi tão bem-sucedido. Ele lidou sozinho com a pressão de ser o empresário de astros da música e não deixou ninguém para tomar seu lugar. O empresário morreu aos 32 anos, em 1967, de overdose de medicamentos para insônia. Depois de sua morte, o quarteto de Liverpool teve vários desentendimentos, parte deles pela decisão sobre o novo empresário.
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