(Discoteca Básica – Revista Bizz 122, Setembro de 1995)
Em 1973, Paul McCartney estava numa encruzilhada. Acusado de ser o “homem que acabou com os Beatles” e “traidor da contracultura”, ele via sua carreira solo como algo que ainda não havia decolado propriamente -a despeito de hits como “Live And Let Die” e “My Love”.
Decidido a acabar com a maré de azar, Macca pegou sua mulher Linda e o guitarrista Denny Laine e foi para Lagos, na Nigéria (coração da África). Band On The Run, o disco que resultou dessas sessões de gravação, foi aclamado como o melhor trabalho de Paul e os críticos viram nele uma continuação do “segmento sinfônico” que permeou boa parte do lado B de Abbey Road (69), o penúltimo trabalho dos Beatles.
Como Henry McCullogh e Denny Seiwell, outros integrantes do Wings, recusaram-se a viajar, Paul teve de tocar a maioria dos instrumentos sozinho. Paul não planejou um álbum conceitual, mas as melodias e temas quase sempre aludiam à liberdade, fuga. A faixa-título coloca o rockstar como um fora-da-lei disposto a sair da prisão, ou seja, fugir das regras estabelecidas. Mais tarde, ele revelou que a frase chave da canção -“se algum dia nós conseguirmos sair daqui”-era uma expressão que George Harrison repetia constantemente nos intermináveis e sufocantes encontros com advogados e executivos na época do fim dos Beatles.
“Band On The Run”, a música, desembocava em “Jet”, exuberante canção de cinco minutos que reforçava a idéia de uma mini-ópera. Paul não estava disposto a fazer as pazes apenas consigo próprio. Em “Let Me Roll It” ele prestava uma homenagem carinhosa a John Lennon, tapando um pouco das feridas que ficaram com o fim da maior parceria do século. A delicada “Bluebird” remonta a tradição das baladas acústicas de Paul e é uma espécie de visão mais otimista de “Blackbird” (clássico do “álbum branco”).
Paul também usou com maestria teclados eletrônicos na épica “Nineteen Hundred And Eighty Five”. Paul foi assim alvo de uma das maiores come-backs da música pop. Muitos apontaram que ele nunca mais conseguiu repetir o espírito de ousadia e aventura de Band On The Run. Pode ser, mas com certeza, nunca mais esqueceu como ser um legítimo superstar.
Paulo Cavalcanti
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