Andreas Kisser, o cara por trás da guitarra da banda brasileira mais bem sucedida de todos os tempos (Sepultura, é claro!), está longe de curtir apenas Heavy Metal, o estilo que desenvolve, dentro do qual é um dos grandes ídolos mundiais. No seu liquidificador sonoro cabe muita coisa, mas os Beatles tem destaque especial! Tanto que, além de tocar com a banda Clube Big Beatles em Vitória, também viajou com a banda para a Inglaterra, onde tocou para 15 mil pessoas na Beatleweek, além de uma apresentação inesquecível no próprio Cavern Club.
Aproveitando uma folguinha entre um show e outro da nova turnê, respondeu da Letônia (país do centro-norte da Europa) algumas perguntas para o Portal Beatles Brasil.
Por José Carlos Almeida
Acredito que a maioria dos fãs do Sepultura não imagina que você seja um beatlemaníaco. Desde quando você gosta deles?
Bom, na verdade eu não me considero um Beatlemaníaco, eu conheço bem a música dos Beatles, sem dúvida é uma banda necessária a qualquer músico que se preze e ainda tenho muito a aprender com eles. Os meus pais tinham uma coleção bem eclética de discos, tinha Samba, Sertanejo, os discos de tema de novela, Bee Gees e o disco HELP! dos Beatles. Este disco eu escutei muito na minha infância, faz parte do meu DNA como músico, mas somente mais tarde, quando já estava tocando profissionalmente, que eu comecei a escutar os outros discos e a aprender mais sobre a carreira da banda, mas até hj o meu preferido é o HELP!.
Tem um beatle favorito? E quanto às carreiras solo, você curte também?
Paul McCartney, acho ele o melhor compositor de todos, bom gosto total. Ele tem uma energia única. Claro o John Lennon eu admiro pela atitude, pelas suas palavras e o ativismo intenso, mas musicalmente eu acredito que o Paul já estava muito à frente de todos. A carreira solo dele é fantástica, até hoje é o que se chega mais perto do que os Beatles poderiam ser no palco. Band on the run é muito melhor do que muitos discos dos Beatles.
Muitos apontam “Helter Skelter” como sendo o “primeiro Heavy Metal”. Você, como um dos maiores ídolos do estilo, concorda ou discorda disso?
Acho que sim, sem dúvidas é uma música extremamente pesada para 1968, quando o Black Sabbath (verdadeiros inventores do Metal) ainda engatinhava nos primeiro acordes. Tenho certeza que Helter Skelter influenciou muita gente naquela época, gente como o próprio Black Sabbath, Deep Purple e Led Zeppelin, todos que começaram mais ou menos no mesmo ano de 68.
Há algo no som do Sepultura que tenha, de alguma maneira, sendo influenciado pelos Beatles? Aliás, entre os músicos do Sepultura, alguém já se mostrou fã dos Beatles, além de você?
Acho que dentro do Sepultura eu seja o mais fã dos Beatles e creio que a atitude, mais do que a música em si, influenciou bastante as letras do Sepultura. O Sgt. Peppers influenciou bastante, não somente o Sepultura, claro, mas a maneira como eles apresentaram a música foi realmente algo novo e fantástico, até hoje as bandas procuram fazer o “seu” Sgt. Peppers.
Nos tempos de garagem em BH, quando bandas cada vez mais pesadas e radicais começavam a surgir… havia espaço para os Beatles na “turma da Cogumelo”?
Esta época era muito radical, realmente não havia espaço para os Beatles, e nem para nenhuma outra banda de outros estilos, na cabeça dos metaleiros.
Como você analisa os guitarristas dos Beatles (John, George e, eventualmente, Paul) tecnicamente? Eles entram no seu ranking dos grandes instrumentistas?
Sem dúvida, os guitarristas de mais bom gosto do rock. Simples e eficientes, isto é uma das técnicas mais difíceis na música. A rapidez pode ser adquirida através de muito exercício, é mais mecânico. Os Beatles estavam preocupados com a canção e a guitarra servia a este propósito perfeitamente.
Como você se sentiu ao tocar na Beatleweek (para 15 mil pessoas) e no Cavern Club, como convidado da banda Clube Big Beatles?
Foi uma das experiências mais marcantes da minha vida, aprendi muito sobre tudo dos Beatles, é inacreditável o clima de Liverpool nesta época. O show mais marcante foi o do Cavern, aquele lugar é mágico. Apesar de não ser o original, o clima esta lá, afinal de contas, Sir Paul tocou lá com David Gilmour e Ian Paice! Foda, né? Eu fiquei realmente emocionado depois do show, foi espetacular.
Você fez uma visita ao ex-beatle Pete Best. Que impressão você teve dele?
Ele foi muito simpático com todos nós, o Edu já conhecia ele e fomos muito bem recebidos. Foi emocionante encontrá-lo na mesma casa onde os Beatles tiveram seus primeiros ensaios, num porão super pequeno. Tiramos algumas fotos com ele, no andar de cima da casa e ali ele nos disse que tinha escutado a nossa entrevista na BBC de Liverpool. Yeeeaaahhh!!!
O Cavern Club vai fazer uma homenagem a você em sua Parede da Fama. O que você acha disso?
É inacreditável, foi uma grande surpresa quando o Edu me disse sobre a homenagem. Na verdade foi uma sugestão do próprio Edu e que os donos do Cavern aceitaram. Fiquei muito feliz e honrado, nesta homenagem existe o peso de mais de 25 anos de história com o Sepultura e a grande “tour” que fiz com o Clube Big Beatles por Liverpool. Sou eternamente grato ao Clube Big Beatles e ao Cavern.
Yoko Ono sempre foi apontada como a “causa da separação dos Beatles”. Você concorda? Acha que uma mulher teria mesmo o poder de separar uma banda?
Sem dúvidas a mulher tem o poder de fazer qualquer coisa com o homem! Já vi muito disso acontecer em várias bandas. Não sei bem se foi somente a Yoko a grande culpada da separação, mas que elas tem o poder, isso tem!!!
Sempre achei a iniciativa da gravadora Cogumelo muito similar à dos Beatles na Apple. Você já pensou nisso?
Sim, com certeza, são vários exemplos, inclusive no Heavy Metal, de gravadoras pequenas que acreditam e determinado artista e conseguem o sucesso juntos. A Cogumelo foi muito corajosa em lançar as bandas que ninguém queria, eles acreditaram e graças a isso o Sepultura teve como gravar o seu primeiro registro, o primeiro de muitos.
Quando sai o próximo disco do Sepultura? Dá pra nos adiantar algo sobre ele?
Nós lançamos o KAIROS em Julho do ano passado e ainda estamos promovendo este álbum. Te escrevo hoje de Riga, na Letonia. Será o nosso primeiro show de uma tour que vai até o final do ano e que inclui o Rock in Rio Lisboa e o festival do Metallica “Orion + more” – entre outros grandes concertos. Será um ano muito intenso pra gente. Por favor, acesse o nosso site para conferir a agenda completa: www.sepultura.com.br
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