Você foi a primeira e única atração extra-musical da BHBW 2014. Como se sentiu ao abrir um evento como esse?
Não tinha olhado por este aspecto. Apenas procurei o Aggeu Marques e propus a ele incluir minha exposição na BH Beatle Week por achar que casaria bem com o evento. Os quadros já estavam prontos, foram produzidos ao longo de 2014 e eu estava preparando a exposição na Urban Arts, onde ela iria acontecer de qualquer maneira na mesma época da BHBW. O Aggeu e o Carlos Alberto Xaulin, coordenadores do evento, acharam que iria enriquecer a BHBW e o resultado é que surgiu a idéia de, a partir da próxima, serem incluídos outros atrativos extra-musicais, o que eu acho muito válido. Agora, como eu me sinto, só posso dizer que me sinto honrado demais, por todos terem considerado o trabalho como agregador ao evento, pois a principio seria quase um favor me deixar expor na Beatle Week. Deixar de ser favor pra virar atração com certeza foi um upgrade!
Na sua exposição também teve algumas jam sessions, né?
Todo lançamento que eu faço de algum novo trabalho, seja de livro, revista ou exposição, eu faço questão de abrilhantar com música boa ao vivo. Tenho inúmeros amigos músicos de excelente gosto e qualidade musical, e os convido de acordo com o tipo de evento. E eles fazem questão de comparecer. No caso de Beatles, a jam session foi a melhor pedida, pois todos eles tem Beatles em seu repertório, então foi só juntar e escolher na hora o que iriam tocar. Compareceram Cabeto Carli, que tem também um trabalho autoral em MPB e rock, com seu fiel escudeiro Fernando Kim na percussão; Auder Jr., que tem trabalho autoral em blues e toca em duas bandas cover (Santanna e Led Zeppelin); Neto Meirelles, da banda beatle cover Anthology; André Katz, da banda beatle cover Sgt. Pepper’s Band; e encerramento com MPB por Flávio Boca e Nando Araújo, ambos também tem trabalho autoral.
Quantos quadros foram expostos na BHBW 2014? Você tem algum favorito?
Considerando que o painél do Album Branco, que tem seis telas, como uma só, foram 17 trabalhos. Gosto de todos… mas tenho um xodó especial justamente pelo painél do Album Branco. Tem também três telas que iriam entrar e eu exclui, pois não foram pintadas nesta leva, estão em meu acervo pessoal há anos e achei melhor deixar lá mesmo rsrs.
Pouco antes do evento já circulava uma edição especial da Jararaca Alegre. É verdade que ele é o mais antigo do Brasil ainda em atividade?
Esta edição foi lançada no sábado anterior à BHBW, justamente para circular durante todo o evento. A Jararaca Alegre foi o jornalzinho que criei junto a colegas de colégio quando estava na 7a série do primeiro grau (não sei o que corresponderia a isso hoje em dia). Já fazíamos um jornalzinho estudantil antes dela, e era voltado à literatura, folclore, curiosidades, noticias etc, valia nota e tal. Com a experiencia adquidida (este começou na 6a série) resolvemos começar um jornalzinho de humor, desta vez a intenção era brincar com os colegas, professores, fazer piada, divertir mesmo. Então o nome do jornal tinha de ser engraçado. Na época (1975) a revista MAD tinha acabado de ser lançada no Brasil. Nunca tinha visto nada igual, um humor escrachado, autodepreciativo, sarcástico e extremamente inteligente, embora se julgasse e aos seus leitores como a ralé da intelectualidade (mas só da boca pra fora). Querendo ser uma “MAD” do colégio, criamos a Jararaca Alegre.
Acontece que, o que era pra durar só durante um tempo, acabou me acompanhando pelo resto da minha vida, pois enquanto meus colegas foram ser outra coisa na vida, eu entrei pra imprensa, primeiro como repórter no jornal local (O Jornal de Caratinga) e fui exercendo funções como copydesk e editor, depois como chargista no diário Jornal do Norte, em Montes Claros (MG), onde exerci o oficio pela primeira vez e nunca mais parei. Então, mesmo trabalhando em outros veículos, sempre que podia, em ocasiões especiais como encontros de caratinguenses ausentes, festas, férias etc eu soltava uma edição avulsa da Jararaca Alegre. Assim, foram publicadas cerca de 100 edições, mimeografadas, xerocadas ou em off-set.
A partir do ano 2000, decidi profissionalizar a revista, e ela passou a ser feita em off-set, com várias páginas coloridas, papel melhor, capa plastificada. Desde então foram publicadas 13 edições (reiniciamos a numeração), além de duas especiais e dois livros.
Quanto a ser o fanzine mais antigo, é possivel sim, uma vez que o que é considerado oficialmente, “Barata” sei lá o que, acho que de SP, existe desde 1979. Amigos me incentivam a reivindicar o título. Ainda não animei a correr atrás disso, mesmo por que não sei pra que faria isso.
Além das publicações regulares do Jararaca Alegre, você também a transformou em editora e selo fonográfico, confere?
Uma editora e selo fictícios, diga-se de passagem… na verdade é um esquema de brodagem. Assim como meus amigos músicos tocam em meus eventos, eu os ajudo a produzirem seus CDs, seja elaborando projeto para leis de incentivo, seja produzindo o design gráfico de capa e encarte, e também produzindo shows de lançamento. Como é tudo um núcleo de pessoas ligadas à revista, a gente coloca o selo “Jararaca Records” nos CDs produzidos, e isto também ocorre com os livros publicados pelos nossos colaboradores, os quais recebem o selo “Jararaca Books”. Mas é só interno, um ajudando a produzir e por na rua o trabalho do outro, não temos um esquema profissional de distribuição nem editamos livros sistematicamente para por no mercado. Ou seja, é bem underground mesmo, como a Jararaca, circulando em nichos, de mão em mão, um contando pro outro.
Além dos shows e da sua exposição, uma coisa muito bacana em eventos como a BH Beatleweek (entre outros) são as pessoas que vamos conhecendo e reencontrando com o passar dos dias. Também é assim com você?
Com certeza. Se você olhar bem o conteúdo da Jararaca Alegre, verá que, além da minha turma que escreve e desenha, tem também colaboradores do Rio, SP e diversas cidades de MG e outros estados. São tudo gente que conheci em salões de humor, feiras de quadrinhos e outros eventos culturais. Você mesmo, José Carlos, passará a ser colaborador da Jararaca Alegre agora que nos conhecemos na BHBW. Isso é o que acho mais legal nestes eventos; neste caso, conhecemos várias pessoas com afinidades que iniciam no amor à música dos Beatles e se estende só Deus sabe até onde! É muito legal isso. Um evento muito legal que acontece em BH, só em anos ímpares, é o FIQ – Festival Internacional de Quadrinhos. Pra você ver, em 2013 conheci ali ninguém menos que George Perez! Recomendo muito!
Você deve ter em mente suas atrações favoritas na BHBW 2014. Quais são elas? Há alguma banda que você gostou mais?
Olha, fui pouco a shows no Circuito do Rock, mas a Beatle Rock Band, de Juiz de Fora, me impressionou muito no seu show no Jack Rock Bar. As BGirls, de Sampa, me impressionaram na Status, onde também tocou a Calanglees, fazendo mashups de Beatles com clássicos do Led Zeppelin, Queen e outros. E no Cine Theatro Brasil Vallourec, todas as noites foram memoráveis – não à toa foi o palco principal, mas destaco os 4BeatleBand da Argentina, com sua interpretação teatral dos shows dos Beatles no auge da beatlemania, e o show de Aggeu Marques e Yesterdays, onde interpretaram na íntegra o “Band on the run” do Paul McCartney. E a noite de abertura, com Lô Borges, Beto Guedes e outros ícones da música mineira interpretando suas influencias beatlemaníaas é hors concours, uma apresentação que sensibilizou a todos até a raiz dos cabelos!
Você está longe de ser um beatlemaníaco novato. Ainda se lembra de como e quando conheceu os Beatles? Tem algum álbum ou beatle favorito?
Eu fui concebido quando os Beatles entraram em estúdio para gravar seu primeiro single e nasci quando o primeiro álbum chegou às lojas. Nasci no dia 6 de abril de 1963 e no dia seguinte nasceu Julian Lennon. Costumo brincar (é, os outros pensam que eu falo isso brincando) que dei azar, pois se tivesse deixado pra nascer um dia depois poderia ter nascido filho do John Lennon. Passei minha infância vendo meus tios reunindo amigos em volta da radiola que tinha na sala da casa da minha vó, para ouvir Beatles. Quando criança, cantava Hey Jude e Revolution no chuveiro. Além de Yellow Submarine, que quando via meus tios com o disco na mão achava que os desenhos tinham sido feitos por eles mesmos (“Revolver”). Enfim, eu conheci os Beatles junto com a mamadeira e o babador, não sei se nessa ordem.
Não tenho Beatle favorito. Como se provou depois, os Beatles juntos são maiores que a soma de suas partes. Quando os Beatles acabaram, se achava que agora em vez de um disco novo dos Beatles teríamos 4 de cada vez. Mas nem um disco solo dos Beatles chega aos pés de nenhum disco da banda completa. Embora alguns tenham chegado bem perto, claro. Por isso, acho que os Beatles foram um encontro perfeito no espaço e no tempo, no local certo, na hora certa, de quatro personalidades que se somaram e cuja soma equivalia a uma multiplicação, uma potencialização. Um encontro tão perfeito que ainda tinha Brian Epstein como o cara que soube coloca-los no mercado, e embora sem nenhuma experiencia anterior, foi o maior gênio do marketing musical de todos os tempos – ele criou isso (o Coronel Tom Parker não conta, ele era só um gigolô). Completando a equação ainda teve George Martin, cujo conhecimento de música erudita foi o que possibilitou lapidar o diamante bruto que eram as composições dos quatro. Tudo isso mais a química existente entre eles, a amizade, a harmonia, a valorização das suas distintas personalidades tornam pra mim os Beatles como uma coisa única, que não dá pra separar em “Paul e os outros” ou “John e os outros”. Não tenho beatle preferido. Tenho OS BEATLES.
Album, eu tenho um de cada vez. Agora mesmo acabo de ouvir o Let It Be e estou ouvindo o Magical Mistery Tour. Mas se tivesse de escolher mesmo, escolheria o Abbey Road. Além de ser maravilhoso, é um que eu tive idade suficiente pra lembrar hoje de que ouvi quando lançou, peguei nele na casa da minha vó, coloquei na radiola e ouvi até minha tia chegar e falar “tira a mão daí menino!”
Quando sai a próxima edição do Jararaca Alegre e o que vem por aí para 2015?
A Jararaca Alegre alcançou este nível de qualidade gráfica graças ao apoio da Lei Estadual de Incentivo à Cultura de MG, e nosso projeto tem de ser renovado a cada ano. Entrei com o pedido mas o resultado ainda não saiu. Por isso não posso dizer ainda quando sai a próxima. Em 2014 foram 3 edições. Para 2015, nosso projeto prevê a comemoração dos 40 anos da Jararaca Alegre: Reedição de todas as edições da nova série, para serem vendidas em uma caixa com a coleção completa, além do Álbum da Jararaca Alegre que traz recortes dos tempos de mimeógrafo até o início da nova série; um documentário em DVD contendo também um show acústico com músicas compostas para participar de festivais nos tempos de estudante e que nunca foram registradas; uma festa “Anos 70” reunindo os primeiros leitores da jararaca espalhados pelo Brasil, como fizemos no aniversário de 30 anos, além de mais duas edições inéditas. Isto é o que projetamos para 2015 mas só será possível se formos novamente aprovados na LEIC/MG. Caso contrário continuaremos publicando como Deus permitir, afinal fazemos isto há 40 anos.
Em tempo: Tudo isso que falei aí em cima, mais a reativação do site www.jararacaalegre.com.br, que está desatualizado há séculos e agora será mantido em parceria com o Portal Beatles Brasil (www.thebeatles.com.br)!
Jararaca Alegre:
https://www.facebook.com/jararacaalegre?fref=ts
Camilo Lucas:
https://www.facebook.com/camilo.lucas.1?fref=ts
Obrigado pela honra de constar no site referência da Beatlemania nacional!!