Paul McCartney

Entrevista com Cecília Cury, a criadora do “Paul, Vem Falar Uai”

por Adailton Lacerda

A jovem Cecília Cury, de 21 anos, estudante de Relações Econômicas Internacionais da UFMG, é a criadora da campanha “Paul, Vem Falar Uai”. Lançado em novembro de 2011 no facebook, o pedido ganhou força na rede social e, eventualmente, tornou-se uma proposta concreta para que Paul McCartney realizasse um show em Belo Horizonte.

A confirmação do concerto no Mineirão veio em março de 2013. E, finalmente, no dia 4 de maio, o eterno beatle fez um show impecável e cheio de novidades na capital mineira. Foi a estreia da nova turnê. Na etapa final da noite, o músico convidou  Cecília para subir ao palco com suas amigas Priscila Brito, Luísa Mattos, e Camila Flores. Elas abraçaram McCartney e conversaram brevemente com ele.

Cecília recebeu do próprio Paul o presente por sua campanha para trazê-lo a Belo Horizonte. Ele autografou o corpo da moça e a assinatura foi eternizada em uma tatuagem, posteriormente. Conversamos com Cecília sobre a realização de seu sonho.

Cecília, como você descobriu os Beatles?

Os Beatles sempre estiveram presentes na minha vida, desde quando me conheço por gente. Cresci em uma família de beatlemaníacos, onde minhas lembranças mais antigas são as de minha mãe cantando “I Will”, “Golden Slumbers” e “Hey Jude” para me fazer dormir. E as tardes de domingo, em que eu e minhas irmãs nos sentávamos na sala e meu pai colocava o vinil “Abbey Road” para tocar, enquanto nos contava um pouco sobre “quem eram aqueles quatro atravessando a rua”. O interesse nos Fab Four foi aumentando enquanto eu crescia. Aos poucos comecei a colecionar revistas antigas onde eles eram citados, escrevia as letras das músicas para tentar entender o que diziam e, finalmente, comecei a frequentar os covers de Belo Horizonte. Em 2012, tendo consciência do elo que a banda criou comigo e minha família, resolvi eternizá-los em tatuagem. O que ela representa pra mim não é só a banda. É toda a minha vida em que eles fizeram parte de maneira essencial.

Você diria que Paul é o seu beatle favorito?

Por toda a minha Beatlemania, cada um deles foi o meu favorito em algum momento. John foi o primeiro pelo ar de liderança. Por volta dos 7 anos, assisti “A Hard Day’s Night” e fui conquistada por toda a simpatia e carisma do Ringo. Depois da morte de George, me interessei mais em ouvir sua carreira solo e suas músicas nos Beatles, e ele passou a ser meu favorito pelas letras maravilhosas e pela maestria musical de sua guitarra. Agora, o Paul… o Paul roubou meu coração nos primeiros acordes de “Venus and Mars”, em São Paulo. Foi meu primeiro show. A primeira vez que eu via um Beatle. As conversas que ele tem com o público, a emoção que ele transparece no palco, as frases em português e as expressões regionais, a energia que ele passa pra todo mundo… era mais do que suficiente para mim! Desde 2010, portanto, ele é meu Beatle favorito.

Você esteve nos shows de Paul McCartney em São Paulo e no Rio de Janeiro. Como foi a experiência?

Maravilhosa! O primeiro show, de São Paulo, fui com meu pai, minha irmã Fernanda e meu cunhado Marcelo. Foi um sentimento único. Não há como descrever a emoção de ver um beatle pela primeira vez tocando as músicas que você passou a vida inteira escutando. No show de SP, ainda tive a ideia de ir para o hotel em que ele estava, e de quebra o vi bem de pertinho no hall de entrada. No Rio de Janeiro resolvi que queria estar o mais perto possível do palco e acabei acampando na porta do Engenhão com meu namorado na noite anterior ao show. Foi uma experiência fantástica (e repetida no show de BH!), pois as pessoas que se dispõe a passar por isso estão no mesmo clima que você, felizes e ansiosos, cantando e falando de Beatles o tempo todo. Ainda tive a sorte de vê-lo chegando e saindo do estádio, na noite anterior, bem de perto e com toda aquela simpatia de sempre. O show, sem dúvidas, foi inesquecível.

Como surgiu a campanha “Paul, Vem Falar Uai”?

O movimento começou logo após nos conhecermos, em 2011, na fila do show do Ringo Starr em Belo Horizonte. Eu, Priscila Brito, Luisa Mattos, Camilo Lucas, Camila Flores e Ana Paula Teixeira continuamos a amizade pela internet e resolvemos unir nossas forças para atingir nossa nova meta: ver o Paul em Belo Horizonte. Após sondagens com produtoras e adquirirmos certas informações, notamos que precisávamos, além da nossa vontade de vê-lo aqui, mostrar aos produtores o potencial que Minas Gerais possue. Contando com todo o histórico da Beatlemania em BH, fomos tentando reunir cada vez mais pessoas e divulgar nosso movimento nas redes sociais (Facebook, Twitter, Google+, Instagram, Blog e até Orkut ) para chamarmos a atenção para o fato de que BH podia (e queria!) ter um show de Macca. Após quase 2 anos de campanha soubemos das negociações e ficamos muito felizes ao saber, pelo próprio Luiz Oscar Niemeyer (proprietário da Planmusic), que a campanha “Paul, vem falar Uai” influenciou bastante na decisão.

Qual foi a sua reação quando o show em BH foi confirmado?

Minha primeira reação foi achar que era um alarme falso. Meu pai me ligou avisando, e como já tinha feito a pegadinha antes, eu não acreditei. Ele disse: “entra na internet e confirma você mesmo”. Parei o carro com o pisca-alerta ligado na Avenida Antônio Carlos e confirmei: ele viria. Foi um choro só, ligação para muitas pessoas que me apoiaram e uma noite com aquela sensação de vitória.

Fale um pouco sobre os dias que antecederam o show e o dia do show. Como foram os seus preparativos para o grande momento?

Foram dias de pura ansiedade! Fui armar minha barraca na porta do Mineirão na quarta, e lá permaneci até o dia do show. Eu e duas amigas levamos comida, água, muitos cobertores e protetor solar para passar os dias (dias de MUITO sol e noites MUITO frias). Revezávamos para voltar para casa e tomar banho e conhecemos pessoas maravilhosas na fila. Na sexta, passei o dia na porta do Hotel Ouro Minas e ainda tive a sorte de vê-lo chegando ao hotel, recepcionado por meia dúzia de pessoas. Durante o dia, confeccionei um cartaz no qual dizia que eu possuía uma tatuagem dos Beatles e que gostaria que Paul a autografasse. Também pude revê-lo na saída do ensaio no Mineirão. No sábado acordamos bem cedo, por volta das 6h, pois os seguranças nos pediram para desmontarmos as barracas para começarem a organizar a fila. Passei o dia entregando as nossas plaquinhas de “Thank You” e acabei encontrando muitas pessoas que conheci durante a vida por causa dos Beatles. Foi um dia de pouca água (afinal, banheiro não estava à disposição!) e muito nervosismo. A cada hora que passava o coração batia mais depressa – e, no meu caso, só foi se acalmar dias depois do show.

No momento em que Paul falou ao microfone: “finalmente, Paul veio falar uai”, qual foi a sua reação?

Sempre me perguntavam se eu queria que o Paul falasse “Uai” no palco. Pelo histórico da questão que o Sir faz em conhecer as expressões regionais e reproduzi-las no palco, o “Uai” já era esperado. O que eu queria mesmo era ouvir essas palavras: “Finalmente, Paul veio falar Uai”. Foi um sonho. O ápice do show para mim e para o resto das pessoas da campanha. Afinal, essas palavras deixavam clara a consciência de Macca em relação ao movimento dos mineiros que sonhavam em vê-lo aqui. Chorei muito, muito mesmo, ao ouvir essas palavras. Desfaleci na grade, abracei meus amigos e dizia: “ele disse, ele disse!”. Foi como um prêmio.

Alguma música te marcou ou te surpreendeu mais no show de BH?
 
Nunca tinha escutado “Hope of Deliverance” ao vivo. Sou apaixonada por ela. Mas escutar “Lovely Rita, “Being for the Benefit of Mr. Kite” e “All together Now” teve um gostinho especial também. Ele ter escolhido BH para estreia da turnê e ter tocado “Eight Days a Week” pra abrir o show foi maravilhoso, um presente para todos os mineiros que estavam ali no Mineirão.

Como você foi chamada para subir ao palco? É possível descrever a emoção de estar cara a cara com um beatle?

Não houve uma “chamada”. Ao final de “Hey Jude”, olhei para o lado e vi a Camila, a Luisa e a Priscila sendo erguidas pelos seguranças para fora da grade. Em segundos, eles estavam caminhando em minha direção e de repente, me erguendo também. A minha cabeça não conseguia processar o que estava para acontecer. Nós quatro estávamos sem reação. Quando entrei no palco, queria lembrar de cada detalhe dele: seus olhos, suas palavras, o suor de sua testa. Eu sentia tanta coisa, tanta felicidade! Eu queria aproveitar aquele momento de todas as formas. Eu chorei ao vê-lo, comemorei ao ser assinada e agradeci por tudo que ele já fez. E o mais inesquecível foi o jeito dele de nos olhar, o abraço dele, o que ele nos disse… É inacreditável o sentimento que ele transmitia para nós.

O que você falou para o Paul e o que ele lhe disse?

Assim que entramos no palco, ele disse “I Love You” logo antes de me abraçar. Chorei de emoção nesse momento, e enquanto o abraçava respondi “I Love YOU”. Ele disse “What a lovely tattoo”, bem baixinho, quando abaixou para assiná-la. Ao se despedir de nós, eu não perdi a oportunidade de dizer “You are my hero! Thank you for everything! You made my dream came true today” já saindo do palco, fazendo um “jóia” com o polegar. Ele nos olhava emocionado e dizia “Obrigado, see you girls”. Inesquecível.

Descreva a sensação do sonho realizado em conhecer Paul McCartney?

A sensação de que a gente nunca pode desistir daquilo que acredita. Vejo as fotos, os vídeos, olho a tatuagem… e não parece real. Eu passei semanas sonhando com isso. Acordava e dizia pro meu pai: “Sonhei que conheci o Paul. De novo”. Minha mãe respondia: “Filha, vai dar tudo certo”. Há 6 anos carrego a frase de Goethe na minha carteira, juntamente com uma foto dos Beatles: “Quando uma criatura humana desperta para um grande sonho e sobre ele lança toda a força de sua alma, todo o universo conspira a seu favor”. É nisso que eu acredito!

Qual foi a reação da sua família?

Cada um teve uma reação diferente. Cada um da sua maneira. Meus pais, que estavam juntos, não me reconheceram de primeira e pensaram que eu não tinha subido. Ao me ver, minha mãe agarrou meu pai e gritou “É ELA DU, É ELA!!!” e ficou pulando e abraçando as pessoas em volta. Meu pai se sentou e ficou emocionado demais, não conseguia falar, nem fazer nada. Minha irmã ficou histérica, gritava “ELA CONSEGUIU!!!” e chorava muito, por saber do meu esforço e do quanto aquilo significava pra mim. Meu cunhado, chorando muito também, agarrou meu sobrinho de 7 anos e disse: “Filho, nunca desista dos seus sonhos. Olha o que sua tia conseguiu!”. Outros familiares também me descreveram a emoção e a felicidade que ficaram ao me ver lá em cima. Ao reencontrar todo mundo, para irmos embora de van, meu cunhado me ergueu em seu ombro e corremos pela rua comemorando, enquanto meus pais e minhas irmãs choravam e diziam o quão orgulhosos estavam de mim. Foi maravilhoso.

Quando você fez a tatuagem do autógrafo?

Sem encontrar nenhum tatuador aberto após o show, fiquei sem banho no sábado e no domingo, conseguindo marcar a tatuagem apenas para segunda de manhã. Tatuei na Hardcore Body Piercing da Bandeirantes, com o Márcio Martin, que reproduziu perfeitamente a assinatura, inclusive com as falhas da caneta.

Houve muito assédio depois que você se tornou uma fã conhecida?

Houve muitos pedidos de amizade no Facebook e muitas manifestações de agradecimento e carinho das pessoas. Elas vinham me dizer que ficaram muito felizes por isso ter acontecido comigo, que nós merecemos muito ter conhecido o Paul, que mandamos muito bem na campanha. Pessoas mais velhas vieram me agradecer por terem realizado o “sonho de ver um Beatle”. Recebi muita energia boa, muito carinho mesmo. Dizem também que somos exemplo de nunca desistir, que ficaram emocionados por nós. As pessoas estão sendo incríveis comigo.

Você pode dizer qual o seu álbum favorito e sua música predileta?

Meu álbum favorito é o “White Album”. Minha música preferida é “Something”, mas tenho um carinho especial por “I Will”, “Ob-la-di, Ob-la-da” e “Golden Slumbers”.

Qual a importância dos Beatles na sua vida?

Os Beatles são essenciais na minha vida. Conheci muitas pessoas maravilhosas e tive experiências incríveis por causa deles. Além de serem um elo com a minha família, fazem a trilha sonora de tudo que acontece comigo. Não é fanatismo, é gratidão. E amor, muito amor!

Gostaria de te agradecer pela atenção e simpatia, e também te dar os parabéns pelo sucesso da campanha e por ter conhecido Paul de perto. Alguma mensagem para os beatlemaníacos brasileiros?

Muito obrigada! Fico lisonjeada com as palavras e o carinho. Sim, primeiro parabenizar por terem se deixado levar pelo sentimento que os Fab Four transmitem para nós. E segundo, para nunca deixarem de acreditar no que sonham!

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