“Eu sou free, sempre free, eu sou free demais…”. Lembra dessa música pop que colou feito chiclete nas paradas, nos anos 80? O single lançado pela banda Sempre Livre fez um sucesso estrondoso, daqueles que todo artista gostaria de fazer pelo menos uma vez na vida. Saiba que naquele hit tem influência dos Beatles (como tudo nesse mundo), pois ali estava a baixista Flávia Cavaca, a beatlemaníaca da turma, garantindo um toque de sofisticação no baixo, 100% influenciada por Paul McCartney. A banda Sempre Livre está completando 30 anos e vai comemorar com um show muito especial no Rio de Janeiro, cidade das meninas.
Flávia Cavaca também gravou uma belíssima homenagem a George Harrison (“O Trem”) e continua firme na Beatlemania. Confira aqui uma simpática entrevista com Flávia e curta um pouco do seu trabalho nos vídeos abaixo.
Por José Carlos Almeida
Você sempre foi fã dos Beatles? Como conheceu e quando se tornou fã?
Sempre fui fã dos Beatles. Comecei ouvindo no rádio e vendo foto nas revistas. Os discos no Brasil chegavam bem depois de lançados no exterior. Eu ia às lojas todos os dias perguntar se já tinha chegado e ouvia sempre que ia chegar no dia seguinte… e nada! Me lembro de filas quando o disco chegava! Daí vieram o filmes A Hard Day’s Night e HELP!, que foi o boom total. Passava o dia inteiro no cinema. Em alguns se podia assistir a uma sessão, tendo que pagar pra assistir a segunda. Então era uma sessão vendo o filme e outra do lado de fora trocando fotos dos cadernos dos Beatles que tínhamos, ou gritando do lado de fora do cinema. Às vezes havia troca de farpas entre fãs que tinham preferência por um outro Beatle, que não fosse o seu. Eu era John doente!!!
Sua música “O Trem” é em homenagem a George Harrison, certo? Conte-nos detalhes da composição e da gravação.
“O trem” representou pra mim caminhar sobre novos trilhos. Foi uma mudança interna minha. Depois de muito sexo, drogas e Rock and Roll, tirei drogas e álcool. Tive um despertar espiritual – nada a ver com religião. Foi filosofico! George sempre representou esse lado nos Beatles. Então foi ele que me inspirou na letra e na música. Chamei Rick Ferreira pra fazer guitarra e steel guitar, por se tratar de um grande conhecedor da obra dos Beatles, além de ter sido músico, arranjador e produtor do Raul Seixas. De quem sou muito fã também!
Além de “O Trem” você já participou de mais algum projeto ligado aos Beatles?
Diretamente não. Mas quem não coloca um Beatles no repertorio?
Até que ponto você é influenciada por Paul McCartney no modo de tocar baixo?
Sou totalmente influenciada por ele! A linha de baixo dele é melódica e sem exageros. Tive uma paixão musical pelo baixista do Yes, Chris Squire. Achava ele tudo de bom, talvez o melhor do mundo, até ver numa entrevista dele que sua influência como baixista era o Paul. Isso é só pra exemplificar a minha identificação com o jeito Paul McCartney de tocar!
De 2010 pra cá, Paul McCartney fez quase 20 shows no Brasil. Você esteve em algum? O que achou?
Fui a todos no Rio. Começando pelo Maracanā (1990) com direito a distribuição de capa de chuva, que por sinal parou na hora do show! Foi sensacional e além das lendárias músicas dos Beatles, fiquei fascinada com o fogos em “Live and let die”. São shows emocionantes, contagiantes e atingem a perfeição
Entre as dezenas de bandas cover no Brasil, há apenas uma formada só por mulheres (BGirls – Beatles por Elas). Você acha que há alguma dificuldade extra para as bandas femininas?
Dificuldade propriamente não, nos dias de hoje. Mas mulheres tocando era um tabu numa herança machista. Homens tocam e mulheres cantam. Tinha uma banda no Rio que o nome já diz tudo: “Mulheres Cantam Beatles”. Fui ver muitas vezes e quem comandava os instrumentos eram os meninos… kkkkkkkk
Que bandas do universo Pop Rock influenciaram o som do Sempre Livre nos anos 80? O que você costuma ouvir nos dias de hoje?
Eu era “a beatlemaniaca” da banda. Mas tinha a que gostava de jazz, a outra adorava um samba de raiz, a outra estudou profundamente violão clássico. Mas todas ouviam The clash, Pretenders, UB40, a galera da Motown toda, The Police… e ai começou a chegar o rock brasileiro a todo vapor! Começamos a deixar de ouvir um pouco os de fora pra ouvirmos os daqui do Brasil. Tirando o Funk, o Sertanejo sem raiz e o Sertanejo Universitário, ouço tudo. Mas continuo fiel aos Beatles e aos Stones, além de suas bem influenciadas bandas. Rock progressivo ainda ouço muito no vinil (Mutantes e outras bandas). E obviamente as bandas dos anos 80.
Quem são as outras garotas da banda Sempre Livre?
Denise Mastrangelo (teclados) é arquiteta, faz trilhas e cenografia para filmes nacionais e sul americanos. Renata Prieto (guitarra) tocou 12 anos com os Golden Boys e se afastou da música para se dedicar à causa animal. Fundou o G.A.R.R.A. (Grupo de Ação, Resgate e Reabilitação Animal). O convite para tocar no sempre Livre foi irresistivel e ela retornou à música. Ane Duá (cantora) fez um disco solo “Todos nós”, participa de trabalhos da nova geração do Samba, como Galocantô, Lula Matos e Renato da Rocinha.Tem uma música na trilha da novela Roque Santeiro (“Indecente”). E é arquiteta. Trabalha projetando e construindo brinquedotecas em hospitais, reformando e acessibilizando casas para crianças com deficiência. Leticia Andrade (bateria) é designer gráfica e produtora. Faz shows com a banda Dona Joana e o espetaculo Zé-Zenas com Marcelo Adnet.
E quanto às meninas da formação original, dos anos 80?
Dulce Quental (cantora) foi fazer carreira solo. Gravou alguns discos e acabou de lançar um livro. Lelete Pantoja (teclados) mora nos Estados Unidos e nos vimos pela ultima vez numa entrevista para a MTV. Marcia Gonçalves (Guitarra) fez o CD de “O Trem” comigo e continua tocando. Acabou de fazer um show homenageando Suely Costa com outras cantoras. Está fazendo um show hoje, segunda feira, só para convidados de voz e violão no Teatro Tônia Carreiro. E Lucia Lopes é designer gráfica e andou fazendo uns shows de samba de raiz por aí.
Como estão sendo as comemorações dos 30 anos da banda? Existe algum plano para o futuro? Lançar um disco com músicas inéditas e turnê, por exemplo.
Lançaremos um CD que já está em fase final, e inclui além das autorais, uma que a Ângela RoRo compôs especialmente para nós, além de uma do Carlos Colla. Depois escolhemos a música de trabalho para fazermos um clip. Compusemos e gravamos a música “Eu acredito em anjos” para a trilha do Clipe do G.A.R.R.A., que mostra as ações de resgate de animais em condições de abandono e maus tratos. Essa música faz parte do CD e já está bombando no YouTube. Faremos shows no Imperator e no Miranda, aqui no Rio, comemorando os 30 anos da banda. Depois partimos em turnê pelo Brasil.
Quando eu era criança eu sempre achei que vocês cantavam “eu sofri” (Eu Sou Free). E tentava imaginar a causa de tanto sofrimento.
Mil pessoas pensavam assim. Agora vou te contar uma de bastidores: A baterista Lucia Lopes achava que era “minha mãe fazia o maior ‘mó’ pastel legal”! E era “minha mãe fazia mapa astral legal”.
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