Se você é beatlemaníaco – ou até mesmo roqueiro – certamente já vibrou ao ler algum texto do jornalista Jamari França, tanto no Jornal do Brasil quanto em veículos das organizações Globo. Ele, que escreve sobre o assunto desde 1982, já fez matérias e entrevistas épicas, enfocando sempre o bom e velho Rock’n’roll e o universo Pop.
Mas ele não esconde que sua paixão mesmo, é a banda formada por John, Paul, George e Ringo. Simpático, como sempre, ele topou responder algumas perguntas para o Portal Beatles Brasil. Não deixe de conhecer o Blog do Jama e seu programa de rádio Jam Sessions (links no final da matéria).
Por José Carlos Almeida
Já foram publicados textos seus sobre os Beatles no JB, sempre bem positivos. Como você os classificaria num suposto ranking da música mundial?
Para mim são número um por razões de criatividade, pela importância que tiveram no momento em que surgiram. Eu tinha 14 anos em 1964, não havia música para jovens e eles me deram um Norte, uma razão de vida, de finalmente ter algo meu, da minha geração. Depois vieram os outros.
Você se lembra do dia em que os conheceu? Se considera um fã?
Eu Morava no Grajaú, um amigo chegou lá em casa e disse que ‘tava passando um filme no Bruni Grajaú com uns caras cabeludos correndo de um monte de meninas’, isso pelos cartazes que ele viu na porta do cinema. Fomos ver juntos, entrei na primeira sessão e saí na última. Sou fã roxo e hoje me considero um estudioso de Beatles, tenho um monte de livros.
Entre os Beatles e os Stones, se precisasse escolher uma só das duas, com quem você ficaria?
Me perguntam muto isso e sempre respondo que não faço comparações. Os Stones foram a minha segunda banda nos anos 60, segunda no sentido de ter conhecido depois. As duas seguem linhas diferentes do rock, os Stones mais de raiz, com os grandes mestres do Mississippi e de Chicago – os chamados na época de ‘race records’, para o mercado dos negros. Já os Beatles com a linha mais popular da música negra, das gravadoras Motown, Stax e Atlantic, com um certo grau de diluição para atingir o público branco. Tiveram linhas evolutivas igualmente ousadas, os Beatles mais bem sucedidos em alguns álbuns como Revolver e Sergeant Pepper’s em termos de criatividade.
Você é mais conhecido como um dos maiores divulgadores do rock nacional. Você vê a influência dos Beatles principalmente em quais artistas?
Em termos de ousadia acho que só os Paralamas do Sucesso em dois álbuns, Os Grãos e Severino. Em termos musicais, Biquini Cavadão e Kid Abelha no começo em comparação com o começo dos Beatles. 14 Bis e Skank lembram, porque o rock de Minas é bem influenciado desde o Clube da Esquina, Beto Guedes também. Nas outras a gente sente em diversos momentos que os Beatles estão presents, embora alguns caiam nitidamente em outra direção, como o Barão Vermelha, bem ao estilo dos Rolling Stones na primeira fase. Existe a influência para a maioria, menos para as bandas de inspiração punk.
Paul e Ringo fizeram juntos, mais de 20 shows no Brasil de 2010 pra cá. Você foi em quais?
Paul só perdi um porque estava doente e Ringo só vi um porque não vi necessidade de assistir aos outros. Foi um para vê-lo de perto e pronto.
Aliás, você já esteve pessoalmente com algum beatle? Seria possível escolher o seu “beatle favorito”?
Infelizmente não, se me visse frente a frente com Paul McCartney acho que ia dar um branco, eu ia tremer, tenho dúvidas se conseguiria fazer o profissional prevalecer sobre o fã, pelo significado que os Beatles tem na minha vida. Meu Beatles favorito era John Lennon pelo humor mordaz, o cinismo, a ousadia em seus livros e depois com Yoko. Paul era o baby face, o melhor instrumentista da banda, George introspectivo, no começo um compositor sem grande criatividade, cresceu depois. Ringo um grande baterista, meio engraçado, boa gente, as meninas gostavam dele pelo jeito de rapaz tímido.
Li outro dia uma comparação entre o show de Paul e o dos Stones, com clara preferência para o ex-beatle, em sua performance. Continua com a mesma opinião?
Tive um período de desilusão com os Stones, achei que tinham perdido o espírito de banda, que se tornaram uma empresa para faturar e só se reúnem para turnês ou negócios como a atual exposição em Londres sobre a carreira deles. Achava displicente a postura de Keith Richards no palco, parando de tocar para ficar fazendo caretas e se exibindo, enquanto o Paul faz um show de quase três horas dando a alma, uma entrega que não estava vendo nos Stones. Também achava Mick Jagger frio demais, professional demais. Reconciliei-me nesta última turnê, que assisti no Maracanã. Estavam todos concentrados, engajados e pulsantes. As duas são minhas bandas de coração. Acho o Led Zeppelin excepcional, à altura das duas.
Atualmente suas principais atividades roqueiras são no Blog do Jama e na Radio Cult FM (programa Jam Sessions), confere? Fale-nos mais a respeito.
Sim. Eu sempre quis fazer radio, não consegui. Quando fui convidado para fazer um programa topei na hora. Gosto de inovações, fui um dos primeiros da imprensa escrita a ir para a internet quando saí do JB e fui para a Globonews.com. Sou um entusiasta do radio online, acho que vai ser o rádio do futuro, é uma emissora que gosto de ouvir, não tem locução, nada daqueles locutores pela saco de FMs, faço o que quero e me divirto muito. Em 2006, no Globo Online, successor do Globonews.com, ganhei o blog Jam Sessions em que tinha mais liberdade do que jamais tive. Eu me pautava, deixavam fazer o que queria em grande parte, mas tinha limitações, era das organizações Globo. Só no Blog do Jama cheguei onde realmente queria. Coisas que não podia fazer antes, como ter uma linguagem inteiramente livre e fazer as matérias do jeito que queria. Sempre quis fazer matérias de disco completas, dando ficha técnica e falando de coisas como gravação e mixagem, mas sofria restrições no Globo Online. Então se hoje perdi em alcance ganhei em liberdade. Quem gosta do meu trabalho sabe onde me encontrar
Existe alguma coisa na música atual que você considere genial? O que você recomenda como essencial para quem gosta de boa música?
Eu pesquiso muito para fazer o Jam Sessions, encontro coisas legais, mas nada que considere genial ou à altura da trinca Beatles, Rolling Stones e Led Zeppelin. Curto bandas como Body Count, Placebo, Nine Inch Nails, Metallica, Ministry, Royal Blood, Rage Against The Machine, Naam, Radio Moscow. O rock hoje é de muita reciclagem, algo realmente novo foi o rock eletrônico. Admiro Prodigy, um punk eletrônico de alta qualidade, mas no geral é uma coisa aqui, outra ali. Pra quem gosta de boa música, aconselho o que eu faço: muita pesquisa. O You Tube é uma ferramenta maravilhosa para isso.
Seria possível fazer um ranking dos 10 melhores álbuns de todos os tempos?
Não. Também me fazem muito esta pergunta. Não tem a menor condição, é um vasto universo de música que não pode ser limitado a 10, 20, 50 melhores. Publicações como a Rolling Stone Americana quando se metem a fazer isso partem de 100 maiores guitarristas, por exemplo, a 500 maiores álbuns, mas isto na avaliação de críticos e público que votam em suas preferências, não necessariamente no que é realmente melhor. Só Beatles, Rolling Stones e Led Zeppelin dá mais de 10 fácil.
O PORTAL BEATLES BRASIL RECOMENDA:
Blog do Jama: www.blogdojama.com.br
Blog do Jama no Facebook: www.facebook.com/blogdojama/?fref=ts
Programa Jam Sessions: www.radiocultfm.com
Comente