Beatlemania Nacional Entrevistas

Entrevista: Lizzie Bravo

Algumas pessoas dispensam apresentações. Lizzie Bravo é uma dessas, principalmente para nós, beatlemaníacos. Afinal, ela é a garota que cantou, gravou e esteve com os Beatles durante dezenas de ocasiões. Figurinha fácil aqui no Portal Beatles Brasil, na verdade podemos considerá-la nossa maior estrela. Aqui vai mais uma entrevista, onde ela fala novamente sobre o seu celebrado livro Do Rio a Abbey Road, entre outros assuntos do interesse de qualquer bitoumaníaco como eu e você [Por JC]

 

Seu livro lançado em 2015 apresentava centenas de fotos e histórias inéditas. É um deslumbre, mas tenho que perguntar: existem mais fotos e histórias que ficaram de fora? Tem planos de um segundo livro?

Não… o que vocês leram são meus diários de todo o tempo que passei por lá. Achei duas fotos que ficaram de fora, uma do John e outra do George, mas é só, vão para a edição em inglês. Usei todas as fotos, só não botei as que estão irreconhecíveis, muito desfocadas, etc. Não tem como fazer um segundo livro do mesmo assunto, da mesma época.

Algo que chama a atenção nele é a diagramação incrível. Deve ter dado muito trabalho e gasto muito tempo. Como conseguiu?

Eu tinha a história, os diários, cartas, anotações, fotos, autógrafos e todas as outras ilustrações, mas todo o conceito do livro e diagramação foi feito por minha melhor amiga, a excelente designer e fotógrafa (e fã do Paul…) Cecilia Leal de Oliveira. Sim, levou anos e anos, porque só passamos a trabalhar no livro com muita frequência no começo de 2015. Deu muito trabalho, foram muitos detalhes. Eu sentava ao lado dela e ia dando palpites, explicando quais fotos tinham que ser em tamanho maior, etc. Foi dela a brilhante ideia de eu escanear minhas roupas dos anos 60 e ela usar como fundo para algumas das fotos.

O famoso Rooftop Concert completou 50 anos. Você estava lá? Como soube do acontecimento? O que você fez naquele dia?

Eu estava em casa em Londres, não fiz nada de mais. No meu diário diz que fui à escola (raridade… eu vivia na frente dos estúdios). Eles NUNCA iam pra Apple na hora do almoço. Só teve uma das minhas amigas que por acaso passou por lá. Ela ouviu tudo lá de baixo, mas não a deixaram subir. Soube do evento como todo mundo, quando saiu no jornal.

Voltando ao livro, como está o trabalho de tradução do material? Teremos inglês e espanhol?

A tradução para o inglês está bastante adiantada. Já tem uma boa parte que foi até corrigida por meu amigo em Londres. Ele não só estava lá comigo e faz parte do meu livro com um belo capítulo, mas escreve para a BBC, trabalhou na EMI por anos onde fez trabalhos para as carreiras solo dos Beatles.

No momento estou traduzindo os diários. Está dando um certo trabalho pois estou lendo os diários originais escritos à mão para recuperar as palavras em inglês que se perderam ao passar para o português, mas estou me divertindo um bocado. E encontrando pequenas coisinhas aqui e ali que me escaparam da primeira vez – nada drástico, só pequenos detalhes. Depois vou ter que incorporar ao texto em português.

Não me perguntem como consigo traduzir com a mamãe me chamando a cada poucos minutos, chorando, gemendo, etc… mas estou conseguindo.

O plano é lançar internacionalmente ainda este ano. Estou negociando com uma editora na Europa.

Não tenho planos para o espanhol no momento, embora tenha morado 8 anos em Caracas quando criança e fui alfabetizada em espanhol, no qual evidentemente sou fluente.

Gostaria de dizer que tenho tentado conseguir uma editora para lançar uma segunda edição do meu livro, mas até agora não consegui. Falei com duas das maiores agentes literárias do Brasil e o que elas dizem é surreal… Uma delas me disse que esgotei o mercado tendo vendido 1000 livros – sendo que só uns 700 deles foram aqui no Brasil. Ok, só tem 700 fãs dos Beatles no Brasil… Tem gente que pode estar ocupando cargos altos mas parece muito burra!

Muito antes da Internet, você mantinha um fã clube e fanzine, não é? Como funcionava na época? Quantos anos durou?

Sim! Meu amigo Lula (Luiz Augusto Tiribás, da loja de discos e cds All the Best) e eu tínhamos um fanzine chamado Hello Goodbye. Era tudo feito em casa, datilografado na máquina manual, recortado, colado, xerocado. Tinha amigos ajudando, escrevendo artigos. Não lembro quanto durou. O Lula organizou os primeiros eventos de vídeo de Beatles no Brasil, os Hello Goodbye, que foram épicos. Começou no Shopping da Gávea com vários monitores, depois foi pra outros locais com telões. Nessa época pré-internet nós nunca tínhamos visto aqueles videos. Ele comprava nos Beatlefests de Nova York e Chicago onde íamos juntos, eu conseguia com amigos do exterior. Conseguíamos posters e brindes com a gravadora para sortear. Eu vendia ingressos, minha filha – então, uma pré-adolescente e fã do Ringo – ajudava nos sorteios, pregávamos os posters pelas paredes, organizávamos os brindes, enfim, todo mundo ajudava.

Você também mantém um incrível acervo fotográfico de artistas importantes da música nacional e internacional. Pretende lançar esse material em livro?

Tenho sim, um material incrível, momentos que só eu fotografei. Eu tinha laboratório em casa, comprava filme em latas e rebobinava, revelava os mesmos e ampliava as fotos. Esse livrão (coffee table book) já é um projeto impresso. Prefácio de Egberto Gismonti e texto de Tárik de Souza, queridos amigos. Mas… só posso pensar nisso depois de terminar tudo relativo ao “Do Rio a Abbey Road”.

Minha sorte era ser amiga da maioria dos músicos que fotografei, portanto eles ficavam super à vontade e o resultado demonstra isso. Comecei levando a máquina quando ia gravar vocais, fotografava de curtição, mas os músicos começaram a gostar das fotos e me pedir para fotografar gravações, capas de discos, fotos para divulgação. Resultado: tive que me profissionalizar!

A chance que nós, fãs, temos de vê-la ao vivo são nas palestras e bate-papos sobre os Beatles. Existe alguma agendada para 2019?

Tenho enorme prazer em contar meus “causos” para os Beatle-amigos. Infelizmente, ainda não tenho nada agendado para 2019. O último foi na excelente Niterói Beatle Week. Eu ia fazer o evento de Visconde Mauá, mas em vez disso passei o final de semana no hospital com a mamãe…

Uma curiosidade pessoal: Zé Rodrix gostava dos Beatles? Ele tinha álbum, música ou beatle favorito? Foi musicalmente influenciado por eles?

Claro, Zé gostava muito de Beatles. Não lembro de álbum ou Beatle favorito. Claro que foi influenciado, quem não foi naquela época? Ele tocava “Maybe I’m Amazed” pra mim no piano, dizia que era “nossa” música!

Vamos ter Paul McCartney por aqui em março. Terei o prazer de encontra-la novamente no Allianz Park?

Amigo, vontade não me falta, mas… imagino que alguns dos leitores deste site devem saber do que meu irmão e eu estamos passando: cuidamos em tempo integral da nossa mãe de 89 anos com Alzheimer. Nosso tempo e nosso dinheiro não mais nos pertence, ela é a prioridade em tudo. É com enorme tristeza que vemos a nossa mãe passar por essa terrível doença.

Não sei te dizer se vou conseguir ir… Gostaria muito, não só pra ver nosso Paulie, mas rever os amigos e minha filha, que mora em Sampa há mais de um ano. Vamos ver… farei o possível.

Você está sempre em eventos e shows aí no Rio de janeiro. Como está o cenário de bandas cover por aí? Quais são as que você mais gosta?

Aqui tem muuuuita banda cover. Minhas favoritas são Bluebeetles, Os Beatlemaníacos, Eleanor Band, Calangles, Thiago Peguet e Chris Bastos – mas tem muito mais gente boa por aqui.

Mando meu abraço para todos os leitores do site e espero que possamos nos encontrar em algum Beatle-evento pelo Brasil!

Editor

José Carlos Almeida

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