Acreditem: houve uma época em que não tínhamos Facebook, Instagram, Pinterest, Wikipedia, nem mesmo Google. Aliás, houve uma época em que nem Internet nós tínhamos (pelo menos não no formato que conhecemos hoje). Mas já existia a Beatlemania, inclusive bastante forte no Brasil. Quem é dessa época, quase sempre se lembra com nostalgia, mas o fato é que, nos anos 70 e 80, era muito difícil – e caro – ser fã dos Beatles, pois para conseguir qualquer informação, por mínima que fosse, era preciso garimpar de verdade.
Mas tínhamos fortes aliados na eterna busca de informação sobre os Beatles: os fã-clubes. Era uma comunicação bastante precária, em comparação aos tempos de hoje, e com frequência, produtos bem simples, como uma VHS com algum show, custavam uma boa grana. Mas era o que tínhamos e cada fanzine xerocado era lido e relido dezenas de vezes.
Em 1980 aconteceu a maior tragédia da história dos Beatles. Falo do assassinato de John Lennon. Se esse fato representou o fim do sonho (principalmente o sonho de ver os Beatles juntos novamente), também criou uma nova geração de fãs no mundo todo, graças à enxurrada de livros, documentários, matérias na TV, execuções em rádios e… revistas. Como essas duas, lançadas pelo maior fã-clube do Brasil, o Revolution, liderado por Marco Antônio Mallagolli, uma das raríssimas pessoas nascidas no Brasil que já se encontrou (e foi fotografado) com John, Paul, George e Ringo.
John Lennon Documento – Lançada no começo de 1981, pela Editora Três (a mesma da revista SomTrês), apresenta um conteúdo para deixar qualquer fã muito mais que satisfeito: todas as músicas de Lennon traduzidas, uma entrevista, a discografia oficial da sua carreira solo e, principalmente, sua biografia, escrita por Marco Antônio Mallagoli, esse mesmo do fã-clube Revolution – que por sinal, já mantinha uma coluna de página inteira dedicada aos Beatles, na já citada revista SomTrês. O ponto mais marcante da história toda é o momento em que o Mallagolli viaja a New York, encontra John na porta do Dakota, é fotografado ao seu lado e ainda consegue um autógrafo. Mais ainda: naquele ponto, há uma informação surpreendente, a de que John Lennon, motivado por uma súbita simpatia que sentiu pelo “rapaz brasileiro”, declara a intenção de vir ao Brasil, usar uma máscara e curtir o Carnaval anonimamente. Infelizmente, jamais teve a chance, pelo motivo que todos já sabemos. O ponto negativo da revista é a capa sensacionalista, em que a bela foto de John Lennon é sobreposta por uma vidraça quebrada, representando um tiro de revólver.
Beatles Documento – No mesmo formato da revista sobre John Lennon, ela é mais completa, por se tratar da história e obra dos Beatles ainda juntos. Aqui, além de uma biografia muito informativa e bem escrita, temos análise de todos os discos oficiais e de vários piratas (ou bootlegs). Também há uma detalhada discografia, a mais completa lançada no Brasil até então, com todos os lançamentos feitos no Brasil, na Inglaterra e nos EUA. Tudo isso emoldurado e ilustrado com fotos incríveis, mesmo pros dias atuais. Não é pouco! Me lembro de ter lido e relido essa revista (assim como a de John Lennon) centenas de vezes.
Relíquias – Mais de duas décadas depois, o fã-clube Revolution voltou a lançar revistas de primeira qualidade, todas com o nome de “Revolution” e com o mesmo acabamento primoroso dessas duas revistas. Talvez até melhor. Infelizmente chegaram apenas até a edição 07. Embora não tão raras quanto essas duas anteriores, permanecem sendo verdadeiras relíquias para colecionadores e “juntadores” (como eu). Mas essa coleção merece uma postagem só dela. Uma coisa é certa: quem ainda possui esse material em casa, não empresta, não vende, não doa nem troca.