Paul no Brasil 2010

Eu vi Paul McCartney em SP (Agnes Alegria)

 
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Acho que sou dos poucos casos de beatlemania que não foi herdada de família, o que sempre me gerou certa frustração. Conheci os Beatles com 5 anos por meio de uma amiga de minha mãe que dividia o apartamento com ela, que tinha Help! e A Hard Day Night e eu adorava pedir pra tocar. Minha mãe acabou incentivando, por achar mais interessante ter uma filha que preferia disco dos Beatles a discos da Xuxa.

Em 1990, primeira vez que o Paul veio ao Brasil, minha mãe não me deixou ir ao show por ser menor de idade (eu tinha 13 anos). Ela achava perigoso eu ir a um mega show no Maracanã. Foi quando percebi, pela primeira vez, o quanto poderia ser ruim não ter pais beatlemaníacos. O que ela não contava era com o fato de eu matar 2 dias de aula pra ficar ligando pra rádio tentando conseguir um ingresso. Bom, quem me conheceu em SP, viu meu porte: hoje aos 33 anos ainda tenho a voz parecida com a de criança, imagine aos 13 anos! Conclusão, nenhuma rádio me deu ingressos, mesmo eu tendo conseguido ligar várias vezes. Minha mãe descobriu minha armação, me deixou de castigo. Em 93 um casal de amigos dela se ofereceram para me levar no show em SP, ela chegou a contabilizar e ver que daria pra pagar ingresso e viagem, mas na hora H não deixou eu ir. Desta vez eu botei minha mãe de castigo e fiquei sem falar com ela 2 semanas. Chorei uma semana inteira. Para fazer as pazes, ela arumou uma fita VHS com o show para me dar. Esse meandro é importante para dimensionar a emoção que senti no dia 21/11 no Morumbi em Sampa.

Sem contar os outros momentos Beatles de minha vida: discutir Beatles na escola, tentar explicar quem eram eles. Alguns poucos amigos conheciam bem e todos por influência dos pais. Lembro do livro que ganhei da minha professora de inglês na formatura do primário, livro argentino com letras e gravuras artísticas dos Beatles. De gastar minha primeira mesada em uma única tacada pra comprar o Flowers in the Dirt. Da festinha do colega da minha rua que deixei de ir pra ficar em casa assistindo Give My Regards to Broadstreet – filme esse que nunca mais consegui ver novamente, até hoje. De cantar “Paperback Writter” a cada vez que alguém me perguntava o que eu queria ser quando crescer. O McCartney I, que ganhei de um dos primeiros namorados que tive, pois toda vez que eu ia na casa dele tocava esse disco (e ele já tava de saco cheio de ter que ouvir o mesmo disco todas as vezes – risos!). Da vaquinha que uns amigos fizeram para me dar a coletânea All the Best do Paul de presente de aniversário nos meus 15 anos, ano que também ganhei o The Complete Beatles Recording Session do Lewisohn, que dormiu comigo na cabeceira da cama durante anos.

Enfim, não ir nos shows do Paul em 90 e 93, foram pra mim como o fim do mundo, na época. Desde então eu aguardava a chance de poder assistir ao Show. Quando começaram a rolar os boatos do show em 2010, avisei ao meu marido que este era um tema que não cabia discussão. Paul poderia fazer show até no Acre que eu iria nem que fosse de Jegue! Meu coração acelerou com a confirmação dos shows e, quando consegui o ingresso pista prime na primeira tentativa, sem grandes dificuldades, comemorei como se tivesse ganho na mega-sena! Ao entrar no estádio e ver o palco de perto, cheguei a ficar tonta de imaginar que faltavam apenas algumas horas. Quando o povo todo que tava sentado no chão levantou, o clima era de solidariedade e alegria. Ao meu lado tinha uma família inteira com a camisa igual. Família essa que antes mesmo do show começar, já me passou pra frente deles por causa dos meus “gigantescos” 1,58m de altura.

Quando o show começou, “Venus and Mars”, eu praticamente não vi o palco tamanho o tumulto, sei que comecei a pular e gritar como todo mundo. Mas não consegui entender até agora se me joguei mais pra frente, ou se fui jogada. De repente, dei por mim a apenas 5 pessoas da grade que separa público e palco. Lá encima, Paul McCartney elegantésimo em um blaizer azul claro e o baixo Hoffner tão familiar de fotos, próximo, perto, nítido, como nenhum DVD é capaz de reproduzir. Pensei: “não tô acreditando nisso!” e desabei a chorar. Foi impossível, pelo menos nas primeiras músicas, cantar uma palavra! Uma moça ao meu lado, vendo o meu estado quase de choque, chegou a me oferecer água que ela tinha trazido do camarote VIP. Foi meu segundo baque: eu estava no meio deles, do povo do “hot sound” que achei que me fariam ainda mais distante do Palco. Mas foi o contrário, um rapaz ao me ver baixinha como sou, ainda me passou mais a frente em “JET”.

Impossível descrever o que foi estar ali naquele momento! Vivenciar todo o clima de um show do Paul, que sonhei a minha vida inteira. Ver tanta solidariedade entre o público! Poder ver de perto cada trejeito com o baixo, cada movimento de cabeça ao cantar, detalhes que só os apaixonados conhecem com certa intimidade. E o melhor de tudo: era real! Poder bater fotos quase sem zoom e sem precisar pedir a alguém mais alto pra fazê-lo por mim (risos!), ver o brilho de suor do rosto do Paul, cantar O-Ê-O com o público em Mrs Vanderbilt. Chorar muito em “Let me roll it”, “My Love”, “Letting Go”, “Here Today”, “Something”, “A day in the life”. “Eleanor Rigby”. Vibrar loucamente ao ouvir “Band on the Run”, “Mrs Vanderblit”, “Back the USRR” e até “Obla-di Obla-da” que nunca foi das minhas favoritas. Se inclinar pra trás junto com todos no susto e sentir o calorão do fogo que sai no palco em “Live and Let Die”. Cantar “Give Peace a Chance” brincando com balões brancos, e  cantar “Nanana nana Jey Jude” com 65.000 pessoas.

Se arrepiar inteira ao ver “I’ve Got a Felling”, “Helter Skelter”, e “Sgt Pepper-The End”. Descobrir que Paul McCartney não existe apenas em fotos e vídeos, mas que é real, que pode desafinar algumas vezes (como no começo de “Helter Skelter”) e até tropeçar e cair no final do show ao sair do palco. Sei que aquele homem, aquele senhor de 68 anos que estava no palco, bem diante dos meus olhos, representa grande parte da trilha sonora da minha vida. Pude assistir naquele momento, com olhos cheios d’água, ao vivo, algumas músicas que me acompanham desde a infância, como que revendo as várias fases da minha vida em cada uma das músicas dos Beatles e carreira solo resgatadas na turnê. Era emoção demais, tanta, que já tem quase uma semana do show, ainda estou impossibilitada emocionalmente de ouvir “Venus and Mars” sem que meus olhos se encham d’água.

Foi tudo tão lindo, tão melhor do que imaginei que poderia ser, que não canso de rever as fotos e os vídeos mal gravados que trouxe comigo de volta a minha realidade.
Depois deste dia os discos do Paul ganharam uma nova sonoridade para mim!

Mais: Veja fotos da Agnes no Facebook e vídeos no Youtube.

 
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