Uma competente banda de canções de pop e rock animou cerca de 6,5 mil pagantes no ginásio do Gigantinho na noite desta quinta-feira (10), em Porto Alegre. Mas não se tratava de um conjunto cover qualquer. Nos vocais e na bateria, havia um ex-integrante dos Beatles: Ringo Starr.
O baterista da banda mais famosa de todos os tempos estreou no Brasil trazendo o mesmo repertório – sem nenhuma margem para surpresas – dos shows pela América Latina – antes de chegar a Porto Alegre, o músico inglês passou por Buenos Aires, Santiago e Cidade do México.
A apresentação de Ringo e de sua All Starr Band não ficou devendo em animação, precisão e diversão para o público gaúcho. Em 1h50min, o set list de 21 músicas alternou entre canções dos Beatles eternizadas na voz de Ringo e músicas dos integrantes da banda que acompanham o baterista. Se falta unidade para o repertório, os músicos compensam com muita simpatia e competência.
Depois de passar pela capital gaúcha, o ex-beatle ainda faz mais seis shows pelo Brasil: São Paulo (12 e 13), Rio de Janeiro (15), Belo Horizonte (16), Brasília (18) e Recife (20).
Ringo surgiu ao palco com cinco minutos de atraso sorridente e saltitante, em forma invejável para os seus 71 anos. Abriu o show cantando “It don´t come easy” dançando de pé, microfone na mão, revelando passos desajeitados que combinam com a personalidade adorável e um tanto boba que ajudou a diferenciar Ringo dos companheiros de Beatles. A segunda música foi o clássico “Honey don´t” e foi seguida por “Choose love”, quando o cantor deu lugar ao baterista no meio da canção e levou o público ao delírio.
Ringo segue cantando e balançando a cabeça no comando das baquetas, sentando no alto da plataforma que eleva a bateria do palco, exatamente como no tempo de Liverpool.
Comparações com turnê de Paul McCartney
Como se trata de uma apresentação de um ex-integrante do mítico quarteto de Liverpool, o show de Ringo não escapa das comparações com a turnê de Paul McCartney. Há um ano, em 7 de novembro, o baixista tocou para 50 mil pessoas no estádio Beira-Rio, a poucos metros do Gigantinho, que estava apenas parcialmente lotado com o público de 6,5 mil pessoas. McCartney veio ao Brasil com dois grandes telões de alta definição e efeitos pirotécnicos.
Em Porto Alegre, o show do baterista não tinha telões ou qualquer efeito que costuma fazer parte das grandes turnês da atualidade. O palco era decorado apenas com um painel onde uma grande estrela e algumas flores se destacavam.
As diferenças também atingem o repertório. Depois de “Choose love”, Ringo voltou a apresentar uma música da época dos Beatles somente na sétima canção, com “I wanna be your man”. No intervalo, abriu espaço para seus companheiros de banda brilharem – exatamente como fazia nos Beatles.
Paul McCartney conta com um time de primeira linha, mas os músicos que acompanham Ringo têm estrela própria e já haviam construído uma carreira antes de integrar a All Starr Band. É o caso de Rick Derringer, guitarrista que fez parte da banda The McCoys e que cantou o hit “Hang os sloopy”, a quarta música da noite – conhecida no Brasil pela versão em português, “Pobre menina”, de Leno e Lilian.
O multi-instrumentista Edgar Winter, dono de uma bem sucedida carreira solo na década de 70, interpretou duas músicas suas: “Free ride” e o tema instrumental “Frankestein”, um funk com toques psicodélicos e experimentais, canções que atingiram grande sucesso comercial no início dos anos 70.
A All Star Band ainda tem Wally Pallmar, (guitarrista ex-integrante dos The Romantics), Gary Wright (tecladista ex-integrante do Spooky Tooth), Richard Page (baixista e ex-Mr. Mister), Mark Rivera (saxofone e percussão) e Gregg Bissonette (bateria).
A junção de talentos no palco permite que a banda transite entre baladas e rocks com total desenvoltura. Embora o público não conheça grande parte das 10 músicas dos colegas de Ringo, os gaúchos tiveram boa vontade com o desfile de canções e aceitaram a proposta do anfitrião de transformar o Gigantinho em uma festa de celebração à boa música, mesmo que o astro principal fique esquecido em alguns momentos.
A plateia de Porto Alegre se deixou contagiar principalmente pelo carisma de Wally Palmar, que cantou “Talking in your sleep” e “What I like about you”.
Quando os companheiros assumem o microfone principal, Ringo vai para bateria e toca com facilidade, confortável na posição de coadjuvante – um papel que aceita muito bem desde a década de 60.
Mas, ainda assim, a grande estrela era Ringo e a plateia reagia com reverência a cada aceno com os dedos em forma de “V”, símbolo do movimento paz e amor.
O baterista brincou com o público a todo momento, mas evitou frases de efeito sobre o Brasil ou Porto Alegre. Preferiu se declarar ao público e fazer piadas com a própria idolatria. Em certo momento, perguntou duas vezes “Qual o meu nome?” e ouviu o público responder “Ringo!” em coro. E completou “Eu amo isso”.
Em “Yellow submarine”, balões amarelos tomaram conta do ginásio. O baterista ainda levantou o Gigantinho com as duas últimas músicas, “Act naturally” e o medley “With a little help from my friends / Give peace a chance”. Não houve bis, detalhe que pareceu não incomodar uma plateia que se sentia satisfeita por poder aplaudir ao vivo dois integrantes dos Beatles num período de um ano.
Set list
Don’t come easy (Ringo)
Honey don’t (Ringo)
Choose love (Ringo)
Hang on sloopy (Rick Derringer)
Free ride (Edgar Winter)
Talking in your sleep (Wally Palmar)
I wanna be your man (Ringo)
Dream weaver (Gary Wright)
Kyrie (Richard Page)
The other side of Liverpool (Ringo)
Yellow submarine (Ringo)
Frankenstein (Edgar Winter)
Back off boogaloo (Ringo)
What I like about you (Wally Palmar)
Rock’n roll hootchie koo (Rick Derringer)
Boys (Ringo)
My love is alive (Gary Wright)
Broken wings (Richard Page)
Photograph (Ringo)
Act naturally (Ringo)
With a little help from my friends / Give peace a chance (Ringo)
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