O caminho para a aceitação do rock no Brasil demandou tempo e paciência. A bossa nova dominava o mercado e tinha forte apelo junto aos jovens mais sofisticados que consideravam o rock coisa de suburbano inculto. Pioneiros como os irmãos Celly e Tony Campello, Sergio Murilo, Ronnie Cord, Demétrius e Carlos Gonzaga se viravam como podiam, gravando de forma barata, mas entusiasmada, versões de canções estrangeiras. A produção era incipiente e o ritmo também lutava contra o bolero e a música italiana, que por incrível que pareça, eram vendidos como “música jovem”.
A TV Record tinha perdido o direito de transmitir os jogos de futebol durante os domingos. Para preencher a lacuna, foi decidido criar um programa de música jovem. Depois que a escolhida Celly Campello disse não, os produtores chamaram Roberto Carlos, um ídolo em ascensão. Roberto indicou Erasmo Carlos e Wanderléa para ajudá-lo na tarefa e o programa, batizado de Jovem Guarda, estreou no dia 22 de agosto de 1965 e teve um impacto cultural semelhante à beatlemania.
A Jovem Guarda criou novos ídolos, lançou moda e popularizou de vez as guitarras no Brasil. No mesmo instante, Roberto estourava com “Quero Que Vá Tudo Pro Inferno” e se consagrava como o Rei da Juventude. Tudo mudou com o impacto cultural causado pelos Beatles a partir de 1964. Todos os países ocidentais e capitalistas tiveram algum movimento similar ao causado pelo quarteto britânico. No Brasil, o papel foi destinado no ano seguinte à turma da Jovem Guarda ou Iê-Iê-Iê, como chamavam os contemporâneos.
O recorte estético sonoro e visual passava pela Inglaterra, mas a Jovem Guarda possuía uma brejeirice e inocência que eram tipicamente brasileiras. As elites culturais massacraram o movimento, afirmando que as canções tinham letras ingênuas e harmonias simplórias. A Jovem Guarda hoje exerce um apelo nostálgico, mas em sua época foi fundamental para cimentar o status da cultura jovem no país. Tocar guitarra elétrica passou a ser algo normal e desejado. E um movimento que tinha na linha de frente Roberto e Erasmo Carlos não poderia ser chamado de banal.
As guitarras e amplificadores haviam chegado para ficar, mas haviam alguns desavisados que não acreditavam nisso, como os que participaram da famigerada passeata contra a guitarra elétrica, ocorrida em São Paulo em 1967. O mais irônico é que, fazendo o papel de gaiato, lá estava justamente o futuro tropicalista Gilberto Gil. E afinal, os tropicalistas eram roqueiros? Sim e não. Eles tinham no sangue a bossa nova e música regional, mas felizmente não eram puristas ou fechados a outras influências. Caetano Veloso enxergava valor na Jovem Guarda e, alertado por Maria Bethânia, passou a prestar atenção em Roberto Carlos.
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