De acordo com a legislação, 70 anos é a idade na qual se é oficialmente velho. Só que o Rock’n’roll contradiz em absoluto essa afirmação. Seja porque guitarras não envelhecem (e as mais bonitas e charmosas são as Fender, Ricks, Gretshes, Les Paul com seus desenhos clássicos), seja porque os rockeiros também não ficam velhos. A não ser que você se apegue ao senso comum de que ruga é velhice.
Ringo Starr completou 70 anos em 2010. John Lennon completou 70 anos em 2010. Um está vivo na terra. O outro permanece vivo nos nossos corações e na obra que deixou. Envelhecer fisicamente, não envelheceu. Sequer enrugou. Com 40 anos de idade, estava magro e sem espaço para flacidez do corpo.
Que teria sido de John Lennon se permanecesse vivo nesta terra e tivesse atravessado a eferverência dessas últimas três décadas? Como estaria lidando com as redes sociais e a internet? O que acharia dos downloads pagos? Creio que seria favorável aos torrents piratas. Os projetos Anthology, Let it Be…Naked, Live at BBC, e Yellow Submarine Songtrack teriam saído com ele entre nós? Let it Be teria sido relançado digitalmente? O Lennon que sequer conheceu o CD, o que acharia do DVD blue-ray?
John Lennon não faz falta somente porque desfalcou os Beatles para sempre quando se foi. É que não há ninguém no espaço que ele ocupou. Nem nunca haverá. Por isso continuamos a cultuá-lo. Nenhum outro cara expressou nas composições a dor e a delicia de ser o que é como ele. Quando ouço “Jealous Guy” fico observando como Lennon sabia ser com toda simplicidade o poeta do cotidiano. Qual homem não sofreu dores de amores e não sentiu ciúmes alguma vez nesta vida? E quem entre nós não tem momentos de absoluta identificação com o conteúdo da letra de “In my Life”?
O cargo mais cobiçado do mundo do Rock’n’roll bem poderia ser a ‘curadoria’ do acervo deixado por John Lennon. Porque lá existe uma essência que Yoko Ono não consegue captar, nem ela que viveu tantos anos perto de Lennon mas, por se achar superior a ele, não consegue compreender o sentido de certas coisas. Talvez por isso não nos saiba repassar o que tem lá, nas entranhas dos arquivos dos sons e das imagens. O John Lennon que sabemos, conhecemos, sentimos, mas não conseguimos rotular nem explicar.
John é resistente, e se faz presente quando a gente ouve uma “Gimme Some Truth” ou “Crippled Inside” ou “Oh My Love”. Aflora quando nos rebelamos e quando mandamos às favas as regras estabelecidas.
Paul McCartney está chegando ao nosso país de novo, e eu estou lembrando de John Lennon, de como ele reagiria ao ver Paul com 68 anos dentro de imensos estádios se exibindo ao mundo nos palcos, tocando e cantando Beatles sem trauma, culpa ou medo. John Lennon adicionaria muito mais charme viço e conteúdo ao velocissimo mundo digital. Adicionaria mais Rock’n’roll puro, qualidade, simplicidade e verdade também.
Cláudio Teran
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