Você já ouviu falar no disco “malucão” do John? Claro que sim! Aquele, em que ele está com o pinto de fora! É o famoso “Two Virgins”, que John Lennon lançou em parceria com Yoko Ono em 1968, quando ainda era um integrante da maior banda de rock do momento, mesmo ano em que seria lançado o “Album Branco”. Este não foi o primeiro disco solo de um Beatle (George já havia lançado seu igualmente experimental ‘Wonderwall’), mas certamente o mais polêmico. E não é pra menos: na capa, como voce pode conferir acima, John e Yoko apareciam completamente nus, de frente e abraçados, cada um com suas respectivas genitálias à mostra. Como ironizou um crítico na época “todos deveriam mostrar que têm pêlos pubianos, e vocês mostraram!”. Nada poderia ser mais provocativo. Essa atitude seria inconcebível mesmo hoje, mais de trinta anos depois.
Principalmente se considerarmos que a Yoko Ono não era na época muito mais que “aquela japonesa do John”. Sua estréia no showbiz pode ser considerada uma das mais chocantes e polêmica de todos os tempos, e boa parte desse “mérito” deve-se a essa capa. No documentário “The Beatles Anthology” pode-se conferir a reação dos próprios colegas de banda, e todos se disseram espantadíssimos com a notícia do disco (Ringo chega a soltar um palavrão). Se John queria mesmo dar um fim à velha imagem de “beatle bonzinho” ele tinha conseguido agora.
Quanto ao disco (sim, havia um bolachão de vinil dentro da capa!), quem pelo menos esperava alguma melodia por tras (ou melhor, por dentro) da capa tão marcante acabou quebrando a cara novamente: não havia nenhuma música ali! No lugar dela ouvia-se mesmo é um monte de assobios, fitas ao contrário, pianos quase fantasmagóricos, vozes balbuciadas, ruídos de objetos se arrastanto, sussurros e (como eu poderia esquecer?) gritos e mais gritos, com Yoko soltando aquela sua inconfundível voz. A história das gravações explica a loucura: desde que havia conhecido aquela artista plástica oriental John não era mais o mesmo. Ele estava definitivamente apaixonado.
Certa noite, aproveitando que a Cynthia (sua esposa na época) estava viajando, telefonou para a Yoko e a convidou a aparecer em sua casa. Ele veio no rastro. “Sem ter o que falar, mostrei uns sons que havia gravado em uma fita. Ela sugeriu: por que não fazemos algo nosso?” Segundo o próprio Lennon o casal passou a madrugada gravando as fitas que resultaram no disco e no amanhecer fizeram amor pela primeira vez. Apesar de seu caráter puramente experimental, nada musical, o “Two Virgins” é um disco muito interessante. às vezes lembra algumas músicas experimentais gravadas pelos próprios Beatles, como “Revolution #9” e “(What’s The New) Mary Jane”. O disco trouxe vários problemas para o John, que entre outras coisas, teve o desgosto de ver um trabalho seu ser censurado pela primeira vez. As gravadoras se recusavam a distribuí-lo, as lojas de vendê-lo, e a capa ganhou uma sobrecapa, que só deixava à mostra seus rostos e os nomes.
Mesmo assim só gravadoras independentes se propuseram a lançá-lo (Tetragrammation Records nos EUA e Track Records na Inglaterra). Tocar em rádio? Nem em sonho! O disco foi tão mal vendido e distribuído que cópias em vinil costumam atingir cotações altíssimas entre os colecionadores. Curiosidade: o disco deu muito trabalho pra ser aprovado pelos outros três colegas de banda, e a discussão durou cerca de cinco meses. Mas lennon saiu no lucro. De quebra acabou levando um “prefácio” na capa escrito por Paul McCartney: “Quando dois grandes santos se encontram é uma trágica experiência. A longa batalha irá provar quem foi santo”. Frase tão estranha quanto o próprio disco, diga-se.
Gravadora: Tetragrammation Records (EUA) e Track Records (UK)
Produção: John Lennon E Yoko Ono
Lançamento: 11/09/1968 (EUA) e 29/11/1968 (UK)
Lado 1:
Two Virgins Side One
Lado 2:
Two Virgins Side Two
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