ÉPOCA NEGÓCIOS – Durante uma sessão de gravação em 1968, John Lennon e Paul McCartney discutiam os méritos de “Ob-La-Di, Ob-La-Da”. Paul buscava uma introdução para sua música. John achava perda de tempo. Após horas de discussão, John perdeu a paciência e saiu batendo a porta. Quando voltou, sentou ao piano e martelou as notas que ficariam mais tarde tão famosas, dizendo “Está aqui a sua introdução!”
Em vez de gritar ou de brigar, Paul simplesmente disse: “É muito boa”.
Moral da história: duas mentes criativas funcionam melhor do que uma. Ou, como consta no livro “Come Together: The Business Wisdom of The Beatles” (Turner Publishing, US$ 24,95), a “resolução do conflito tornou o trabalho mais forte, em vez de destrui-lo”. Em linguagem de gestão, o case mostra que um desentendimento pode levar à síntese.
A história é uma das 100 lições que aparecem no livro para mostrar como líderes e executivos podem gerenciar seus negócios tirando exemplos da carreira bem sucedida dos Beatles. Escrito por Richard Courtney e George Cassidy, “Come Together” quer provar, acima de tudo, que estudando gente muito criativa e apaixonada pelo que faz, qualquer um pode ampliar sua criatividade e seu conhecimento de negócios – mesmo que em outro setor de atuação.
Como fica aparente na concepção e durante a leitura, Courtney e Cassidy não passam de grandes fãs do quarteto de Liverpool. Mas até que fazem bom uso de episódios na vida de John Lennon, Paul McCartney, George Harrison e Ringo Starr para motivar o leitor. Um exemplo típico é o modo como os Beatles trataram a sucessiva rejeição da gravadora Capitol, braço norte-americano da EMI Records, de quem eram contratados, para lançar um compacto nos Estados Unidos. Tentaram “Love Me Do”, seu primeiro sucesso no Reino Unido. Tentaram “Please Please Me”, sucesso na Europa. Nada. Em vez de bater cabeça, continuaram compondo novas músicas até enviar “I Want to Hold Your Hand”, que seria então seu primeiro número 1 nos EUA. Desse fato vem a lição: não insista em algo que seu cliente já viu, procure sempre melhorar seu trabalho. Mas não desista.
A decisão de Lennon e McCartney, tomada desde cedo, de dividir sempre os créditos das músicas, mesmo as que eram escritas apenas por um deles, sugere que em vez de perder tempo discutindo sobre migalhas, é melhor unir forças e construir uma padaria – no caso, o catálogo completo dos Beatles, que vale mais de US$ 5,5 bilhões.
O livro também usa exemplos de alguns fracassos, principalmente no final dos anos 1960, quando já havia uma clara divisão entre os integrantes da banda sobre a melhor maneira de gerir seus negócios. Os Beatles certamente foram uma máquina de fazer dinheiro, do ponto de vista de marketing. Mas como empresários, nunca foram grande coisa. Mesmo assim, os autores lembram que mesmo após as brigas e disputas, o que restou de melhor na memória das pessoas é sua música. E isso mostra que ao fazer o que se sabe de melhor, as chances de crescer em um setor e liderar são tão boas quanto canções como “Hey Jude” e “Help!”.
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