Agora é a vez de José Carlos Almeida, webmaster do site Beatles Brasil, dizer qual o seu bootleg favorito.
Meu bootleg favorito de todos os tempos não é o mais caro, nem o mais importante, nem o primeiro, muito menos o mais caro dos itens disponíveis para colecionadores beatlemaníacos – sobretudo os mais avançados. Porém, é até hoje o meu favorito por, entre outras coisas, ser o primeiro que vi pessoalmente, tive em mãos e, posteriormente, me tornei proprietário. Trata-se do famoso (pelo menos no Brasil) “The Beatles Were Born” (Gravadora CID). Depois dele, conheci vários outros bootlegs, tanto em vinil, quanto em CD – e mais recentemente, com a chegada da Internet, em mp3. Mas esse continua sendo a pedra filosofal da minha discoteca. Em uma época que eu já me perguntava “e agora, que já comprei a coleção completa, o que vem mais?”, esse disco foi importantíssimo. Me lembro nitidamente de ter me achado mais fã do que qualquer outro, o número 1 (mania de beatlemaníaco), só porque já tinha até gravações raras deles!
Esse disco foi o primeiro “pirata” (como eram chamados os bootlegs, antes que a pirataria se tornasse algo muito mais abrangente, no sentido capitalista da coisa) editado no Brasil, e por iniciativa daquele que é considerado o primeiro grande divulgador dos Beatles no Brasil: Newton Duarte, mais conhecido como “Big Boy”. Quem já era ligado nos Beatles entre os anos 60 e 70, certamente guarda recordações das mais agradáveis desse verdadeiro mito da Beatlemania nacional. Através do seu programa “The Beatles Cavern Club”, transmitido pela Rádio Mundial, Big Boy tocava não apenas os grandes sucessos dos Beatles, mas também – e principalmente – raridades e lançamentos antes de qualquer outro. Há, por exemplo, o famoso episódio em que ele tocou o “Sgt. Pepper” em 1967, na íntegra, antes mesmo do disco ser lançado na Inglaterra! Durante bem mais que uma década, o Big Boy embalou os sonhos de milhares de fãs, até o seu falecimento em 1977.
Pois bem, o disco pirata em questão foi lançado em 1976, e apesar de conter gravações não-oficiais, na nota da contracapa o autor afirma não se tratar de um pirata, provavelmente para fugir de qualquer acusação de pirataria. O lado A consistia em gravações ao vivo, extraídas dos shows no Hollywood Bowl, em qualidade não muito convincente. E o lado B tinha uma variedade de artistas, bandas de rock que não tinham nada a ver com os Beatles, nem juntos, nem em carreiras solo. Até recentemente a maioria dos compradores do disco (inclusive eu) nem sabia que artistas eram esses. Pra piorar, no selo do disco, ainda vinha escrito “The Beatles With Tony Sheridan” (o que não passa de um grande engano!). Pra muitos, o segredo desse lado B será revelado só agora (veja Box abaixo). Mas mesmo assim, sem saber quem eram, eu ouvia e gostava muito dessas bandas. Gostei mais ainda de ouvir músicas como “Twist And Shout”, “Rock’n’Roll Music” e outras gravadas ao vivo, em versões diferentes daquele outro “Hollywood Bowl”.
Não sei por que motivo esse disco foi lançado com duas capas diferentes. Uma, totalmente vermelha, trazia apenas um logotipo e o alinhamento do disco – apenas do lado A, por isso o lado B se tornou um grande mistério entre os fãs (na capa, só aoarece como “and 8 more”. A segunda, amarelada, trazia um desenho até bem feitinho dos Beatles, mas sem o alinhamento. As contracapas em ambos os casos apresentava uma caricatura do próprio Big Boy, acompanhada de breves notas explicativas e, novamente, o alinhamento do lado A. Como eu já disse, nas prateleiras de grandes e antigos colecionadores, ele pode não estar entre os mais valiosos. Mas na minha coleção ele tem o posto vitalício de “Bootleg Número 1”, ilustre representante de uma época em que o fã tinha que suar muito para conseguir qualquer coisa “diferente” dos Beatles. E o Big Boy continua influenciando os fãs das décadas mais recentes, sobretudo os que atualmente mantém algum canal de divulgação dos Beatles.
Por José Carlos almeida
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Faixa 1: Faixa 2: Faixa 3: Faixa 4: Faixa 5: As três canções do Captain Beefheart podem ser encontradas no CD “The Legendary A&M Sessions”, com qualidade infinitamente superior. A faixa 3, “Bluebird”, está no segundo disco do Buffalo Springfield, o “Buffalo Springfield Again”, mas a versão desse LP é um ‘alternate take’. Já “A Quick One While He’s Away”, versão integral e com o som muito melhor, está no CD “The Rolling Stones Rock And Roll Circus”. O lado A do LP é o LP do Hollywood Bowl, só o show de 1964, com “You Can’t Do That”. E “Twist And Shout” toca duas vezes, a mesma versão. |
Este artigo está perfeito. Depois de trinta anos ouvindo este LP, finalmente pude ter acesso às fontes reais dessas músicas. A faixa do The Who, no Circus, eu descobri em meados dos anos 90, quando adquiri o Rock and Roll Circus, porém, as demais faixas, que gosto muito, só agora. Muito obrigado.
Havia também For What it’s Work e Sit Down I Think I Love You do Buffalo Springfield no Lado B. A outra música da mesma banda é Mr. Soul. Tive este disco e demorei a descobrir que bandas eram. Até ler este artigo, não sabia que as demais músicas eram do Captain Beefheart.