Por Carlos D. Ribeiro
Dos piratas que cheguei a possuir ou ainda guardo em LP, tenho especial carinho pelo Quarrymen at Home, pelo Abbey Road Duplo (capa dupla inclusive), pelo Decca e pelo lendário Black Album, este o meu preferido dentre todos.
Isto porque, a meu ver, é um dos poucos piratas que possuem tanta importância quanto um disco oficial, pelo capricho na concepção e pelo que representa. O capricho está na reprodução exata do layout do Álbum Branco, com um poster inédito em papel melhor, plastificado, e fotos estonteantes, com diálogos das gravações no verso. As fotos da capa interna são também diferentes. O capricho está também no critério como foi editado o material das gravações de Let It Be. Apesar dos cortes, das brincadeiras, dos ruídos, das músicas repetidas, de muita coisa ser rascunho e ensaio, o todo funciona como álbum, muito mais que os CDs individuais em vários volumes dedicados a essas sessões, geralmente prolixos e com partes longas e repetitivas. No último lado do Black Album, estão, muito bem colocadas, All Things Must Pass e uma inédita sub-avaliada, a maravilhosa Watching Rainbows, que bem poderia ter sido retocada para aparecer no Anthology 3 (minha tortura entre o 2 e o 3 foi não possuir um contato com Paul para sugerir enfaticamente que retocassem e incluissem essa pérola perdida). Há também um jam instrumental que se encadeia logo depois. Na série de CDs Get Back Journal é possível ouvir o “start” desse álbum no final do volume 4, enquanto que a parte final está no início do volume 6, a citada Watching Rainbows mais uma parte do jam instrumental, que se encontra completo em outro volume. O triplo em vinil é um perfeito resumo dessas sessões, embora nem todos os melhores trechos estejam incluídos. Seria possível fazer um outro álbum triplo com os restantes, provavalmente. E, sim, foi a melhor qualidade de som que vi num pirata durante todos os anos 80.
E é meu preferido pelo que representa, pois Get Back/Let it Be é realmente uma continuação da fase do Álbum Branco… Não me interessa se nessa época eles estavam se desestruturando, brigando, se um estava amuado com o outro, ou com Yoko, se ela tinha cama no estúdio ou não… O que interessa é que nessas sessões de janeiro de 69, os Beatles estavam ainda juntos, apostando num projeto, e tocando ao vivo no topo daquele edifício. Se Abbey Road foi um produto de estúdio seguindo uma inércia dos compromissos do ano e uma série de circunstâncias, nessas sessões os Beatles estavam juntos, autênticos, espontâneos e reunidos pela última vez, dias e dias inteiros e juntos, nas mesmas sessões. The Black Album é um Buraco Negro no alto daquela sessão de janeiro de 1969, resultante da implosão do psicodelismo (que foi pra baixo dágua no Yellow lançado justamente em janeiro de 69) levando de volta a uma dimensão congelada no tempo, linha de fuga para os Beatles ainda viáveis e para a discografia solo: daquelas sessões, que o Black Album resumiu também, encontram-se também os originais de Jealous Guy, Gimme Some Truth, Every Night, All Things Must Pass e outras. Mas “todas as coisas devem passar”, como diz a música de George que ouvi ali pela primeira vez — e após a tempestade e do céu escuro (que aqui pra mim simboliza a tempestade criativa que eles ainda eram em 68-69) teremos sempre a chance ainda de ver arco-iris, como diz a canção que encerra o álbum triplo: Watching Rainbows.
Comprei esse álbum triplo em 1982, por incrível que pareça pelo correio, respondendo a um classificado da revista Somtrês. Não me lembro quanto paguei, eu estava com um belo emprego novo e não quis nem saber. Por 16 anos ele foi atração entre os amigos, não aceitavam fita, queriam ter o produto nas mãos e vários andaram com ele pra lá e pra cá , até que numa proposta irrecusável, troquei pela coleção do Get Back Journal, que incluía todas as músicas, mais aquele fabuloso livro “The Beatles A Diary”, com tudo que eles fizeram dia após dia e fotos e diagramação de deixar qualquer um maluco. Por isso, me arrancaram o Black Album. Mas não tem problema. Não sou tão apegado assim na matéria e nos objetos. Tenho a impressão que ele ainda está em algum canto da minha coleção. E quem ficou curioso pelo poster, é simples: procure os números 5 e 6 da revista do fã-clube Revolution, lançada em bancas anos atrás, que terá a reprodução logo ao lado do índice, em página dupla, bastando emendar as duas revistas para visualisá-lo na íntegra. Chega a ser tão bom ou melhor que o poster do Álbum Branco. Sim, eu tive esse disco!
“THE BLACK ALBUM”, como ficou conhecido o lendário pirata triplo reproduzindo o layout da capa e do poster do álbum branco, nome em relevo, mesma tipologia (:), com o seguinte conteúdo:
Lado 1
Tennessee : House of Rising Sun : Commonwealth : White Power : Winston, Richard and John : Hi Ho Silver : For You Blue : Let It Be
Lado 2
Get Back : Don t Let Me Down : On Our Way Back Home : Don t Let Me Down : Suzy Parker : I ve Got a Feeling : No Pakistanis
Lado 3
Let It Be : Be Bop a Lula : She Came in Throught the Bathroom Window : High-Heel Sneekers : I Me Mine : I ve Got a Feeling : One After 909
Lado 4
She Came in Thtought… : Penina : Shaking in the Sixties : Good Rockin Tonight : Across the Universe : Two of Us : I Threw It All Away : Moma You ve Been on My Mind : Domino
Lado 5
Early in the Morning : Hi Ho Silver : Stand By Me : Hare Krishna : Two of Us : Don t Let Me Down : I ve Got a Feeling : One After 909
Lado 6
Too Bad About Sorrows : She Said, She Said : Mean Mr.Mustard : All Things Must Pass : A Fool Like Me : You Win Again : She Came in Through the Bathroom Window : Watching Rainbows : Instrumental
Qual o valor do The Black Álbum?