Resenha publicada pelo jornal O Povo
No início de 2013, Mark Ronson revelou à Rolling Stone algumas novidades sobre o disco que Paul McCartney estava preparando. Segundo o produtor, o músico britânico vinha ouvindo coisas do rapper Usher e algo do funk carioca. De alguma forma, isso entraria para o trabalho. Analisando com cuidado, seria bem pouco provável ver um dos artistas mais respeitados da música pop, no auge dos seus 71 anos, rebolando até o chão, cercado por belas mulheres de nádegas fartas.
Para alívio dos fãs, nada disso vai acontecer. É fato que New, o 16° trabalho de estúdio da carreira solo de Maaca, que chegou ao Brasil no fim de novembro, tem um ar jovial e cheira a novidade. As guitarras aceleradas e os toques eletrônicos que pincelam o disco ajudam nessa impressão. Mas é o velho Paul McCartney que está ali por inteiro, com baladas românticas, rocks enérgicos, experimentações climáticas, referências ao passado e os mesmos músicos fieis que o acompanham em shows e estúdios já há alguns anos.
O último de inéditas de Sir Paul foi há seis anos, Memory almost full, realizado durante a turbulenta separação com Heather Mills. De lá pra cá, ele lançou Kisses on the bottom, trabalho basicamente de intérprete, onde deu sua leitura jazzy para as canções dos anos 1920, 30 e 40, que fizeram sua cabeça na infância. “Desculpa não ter voltado mais cedo. Estava ocupado. Músicas novas precisavam ser gravadas”, explica-se Paul, na apresentação de New. Ele segue contando como essas músicas surgiram em momentos simples da vida, como quando pegava a filha na escola ou enquanto tocava no velho piano do pai (comprado na loja do pai de Brian Epstein). Diante do que tinha guardado, o passo seguinte foi pensar quem produziria o disco.
Produtores
Inicialmente, Paul pensou em nomes que admirava e os convidou para um encontro, onde iria decidir quem ficaria. Dos quatro candidatos, o beatle acabou optando por todos. São eles Ethan Johns, Giles Martin, Mark Ronson e Paul Epworth (que também é co-autor em três faixas). McCartney até admite que ficou preocupado que o novo disco soasse sem unidade. “Mas percebi que não só o fato de eu estar cantando iria mantê-las (as faixas) unidas, como também as faixas dos álbuns dos Beatles eram, muitas vezes, extremamente diferentes umas das outras e funcionavam”, constatou. E é verdade. Ao longo do tempo em que compôs ao lado de John Lennon, Paul teve oportunidade de provar os mais variados estilos, criar novidades, inventar meios e se manter na vanguarda.
Assim sendo, qual seria o mérito do novo disco de Paul McCartney? Mostrar que o músico continua disposto a se renovar e a fazer um dos melhores shows que circula pelo mundo. “Save us”, que abre o disco, não é para saudosistas. É rock acelerado, com toque indie, meio punk. “Everybody out there” e “Alligator” soam tão jovens que poderiam estar no repertório de qualquer boa banda surgida neste século. Em se tratando de Paul McCartney, também não poderiam faltar as baladas. “On my way to work” e “Hosanna” cumprem bem esse papel. Escondida no fim do disco, “Scared” é uma destoante declaração de amor feita só com voz e piano.
O funk carioca, “ameaçado” por Ronson, não passa nem longe do disco. O que existe de eletrônico em New é de muito bom gosto, como na soturna “Appreciate”. Apesar de olhar pra frente, o disco também tem seus momentos nostálgicos, como a faixa-título que parece ter sido excluída de algum álbum clássico do Fab Four ou “Queenie eye”, que lembra os Wings. O parceiro John Lennon também é evocado nas entrelinhas de algumas faixas, sem alardes. Já em “Early days”, ele relembra o tempo em que andava despreocupadamente com o “cabelo penteado para trás com vaselina” e o violão nas costas. Momentos importantes para formar um artista, que não se permite envelhecer.
SERVIÇO
New – Paul McCartney
Universal Music
15 faixas
Preço médio: R$ 33,90
Quem assina o disco
Ethan Johns – filho de Glyn Johns, engenheiro de discos dos Wings e dos Beatles. Natural da cidade inglesa de Merton, já trabalhou com a jovem Laura Marling e no elogiado disco de estreia da banda Kings of Leon.
Giles Martin – filho do lendário George Martin, nada menos que o quinto beatle. Juntos, pai e filho dividiram a emocionante trilha sonora do espetáculo Love, do Cirque du Soleil, só com canções dos Beatles. Giles também tem no currículo discos de Jeff Beck, Elvis Costello e INXS.
Mark Ronson – um dos responsáveis pelo estrondoso sucesso de Back to black, de Amy Winehouse. Ronson também é músico e tem três discos gravados, todos premiados. DJ requisitado, é dono do selo Allido Records, que já lançou discos de Lily Allen e Duran Duran.
Paul Epworth – oTem em seu currículo o trabalho com Adele, com quem ganhou um Grammy pela trilha de 007 – Operação Skyfall. Mas nessa lista também vale apontar Foster to the People, Bloc Party e Primal Scream. É co-autor em três faixas de New.
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