Gustavo Montenegro
Bem, isso vale a pena contar.
No sábado, dia 21, estávamos todos na frente do Copacabana Palace esperando Paul dar sinal de vida. Como todos viram, o homem apareceu acenando, fez aquela festa com a galera, entrou no carro e foi para o estádio fazer a passagem de som e demais checagens do palco. Após tudo isso, felizes da vida, fomos a um bar logo ao lado do hotel, pra encher a cara de cerveja e celebrar. Fomos eu, Camila, Marcelo Fróes, Claudia Tapety, Agnes, Betão, uma argentina loura que esqueci o nome, e dois amigos aqui de Recife, Ridoval e Florencio.
Depois de cerca de uma hora na mesa do bar, o Marcelão me chamou num canto e disse: “vamos lá no hotel, só pra olhar, just in case…”
Saímos os dois e, chegando na frente do hotel, notamos que havia ainda muitos fãs, mas nenhum aparato de segurança ou proteção. Nem polícia, nem grade, nem nada. Na hora sacamos que Paul não iria voltar por ali, pela frente do hotel, pois senão o circo já estaria armado. Como sabemos por meio de dezenas de bootlegs, as passagens de som dele duram sempre uma hora, uma hora e pouco. Pelo tempo, ele já estaria voltando.
Então fomos para a traseira do Copacabana Palace, que fica na Av. Nossa Sra de Copacabana. A entrada traseira da garagem é bem ao lado de uma parada de ônibus. Pra nós essa parada foi providencial, pois era o álibi perfeito para ficarmos ali. Se alguém perguntasse, estávamos esperando nossa condução pra casa. Como eu estava com uma camisa com uma imagem do Paul, vesti ela pelo avesso para não dar bandeira.
Cerca de vinte minutos depois, a garagem se abre e saem dois seguranças enormes, falando pelo rádio. Foi o primeiro sinal. Depois a garagem se fechou novamente.
Daqui mais uns dez minutos, ela se abriu de novo, e dessa vez saíram, além dos seguranças, dois caras com credenciais da turnê Up and Coming. Aí pensamos “na mosca”.
Em seguida, os batedores da polícia militar começaram a passar para sacar o ambiente. E em poucos minutos surgiu o carro trazendo Paul McCartney de volta ao hotel. Um fotógrafo do Terra apareceu e, graças ao flash dele, eu pude ver bem de antes os passageiros do carro. Eram apenas Paul, Nancy e o motorista. Neste momento o carro ainda vinha pela avenida, em frente pra onde estávamos.
Quando o carro fez a curva e subiu na calçada, EXATAMENTE NA NOSSA FRENTE, para nosso espanto a janela do Paul estava totalmente aberta. Eu era o primeiro. Nisso, o homem bota a cabeça pra fora, olha pra mim, sorri e acena. Em seguida pro Marcelo que, neste exato momento, bate a foto que ilustra essa matéria. Estávamos, acho, a nem meio metro de distância dele. Eu poderia ter tocado a mão dele quando ele acenou. Mas não fiz nada, fiquei paralisado. Nem um “Hi, Paul!” eu consegui dizer.
Logo depois que ele entrou e a garagem se fechou, olho pro Marcelão e ele tá com a câmera na mão e rindo de mim com cara de mané. Depois disso, fui me esconder num caixa eletrônico do Itaú, pois tive uma crise fuderosa de choro. Eu vi um dos Beatles bem na minha frente.
Nessas horas você entende perfeitamente quando dizem que “o mundo parou por um segundo”.
Pois foi isso. Já posso morrer.
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