Poucos foram os brasileiros que assistiram a um show dos Beatles, ao vivo, antes mesmo de a banda se tornar mundialmente conhecida. Por uma feliz coincidência, Joaquim Vasconcellos Ferreira, 71 anos, está nesse seleto grupo. Em novembro de 1962, o então jovem funcionário da Marinha Mercante esteve no Star Club, badalada casa de shows em Hamburgo, Alemanha, onde os quatro rapazes de Liverpool tocaram nos tempos de anonimato.
Nas constantes viagens ao Mar do Norte, o navio em que o jovem marinheiro trabalhava fazia paradas obrigatórias no porto de Hamburgo, para revisão. Foi numa delas que Joaquim pôde reencontrar-se com sua namorada, Helga, garçonete de uma cervejaria do bairro St. Pauli, conhecido internacionalmente por suas boates e bares.
– Ela comentou comigo sobre os Beatles, que já faziam sucesso por ali. Então, certa noite, combinamos de ir ao Star Club para vê-los – lembrou.
Logo que entrou no Star – após enfrentar uma “fila imensa”, sinal da fama que os rapazes ingleses já haviam conquistado na cidade – a atenção de Joaquim voltou-se de imediato para o som da banda.
Arquivo pessoal |
– Nós já percebíamos que era algo diferente, uma batida diferente. George Harrison já demonstrava grande habilidade com a guitarra – disse. – A garotada costumava ir lá para dançar. Mas, nessa noite, eu vi muitos jovens parados para ouvir o som dos Beatles, que realmente chamava a atenção.
Pela maneira como Joaquim descreveu o lugar, assistir ao show dos Fab Four devia realmente valer a pena: chão, teto e paredes eram pintados de preto, iluminados por uma luz roxa que acendia e apagava, constantemente. Por isso, “o calor era infernal”.
– Ali, não havia nada para comer nem beber, com exceção da cerveja, que era quente. Os garçons ficavam encostados na parede, protegendo o estoque da bebida. Você dava o dinheiro e eles te davam a garrafa – lembrou.
Joaquim contou que, nessa época, os Beatles ainda não haviam adotado o visual dos primeiros anos de sucesso, com o inconfundível penteado e terno e gravata impecavelmente alinhados.
– Eles estavam de calça jeans e pullover, mesmo. O cabelo deles estava aparado. Eles ainda não eram “cabeludos” – contou.
Joaquim e Helga tentaram voltar ao Star Club nas noites seguintes. A imensa fila, porém, os fez desistir. Segundo Joaquim, poucas pessoas acreditaram em toda essa história.
– Claro que não sabíamos que eles se transformariam no que se transformaram. Mas posso dizer que presenciei o início da Beatlemania.
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