

A intenção desta edição da revista virtual Pop Go The Beatles é levá-lo a compreender melhor os fatos que desencadeariam a gravação deste disco que completa 40 anos. Abbey Road foi seguramente o mais bem produzido álbum dos Beatles, o primeiro integralmente registrado na mesa de oito canais e o pioneiro a ser mixado somente em estéreo. É apontado por muitos como o melhor de todos. Nele, John, Paul, George & Ringo uniram esforços, suportaram as diferenças e revelaram no conteúdo uma incrível capacidade de se superar, apesar da impagável contribuição que já haviam dado até então à música popular do planeta. O retorno ao estúdio resultou numa espécie de canto do cisne do rock’n’roll, dado a conhecer ao mundo antes que o fim fosse anunciado. Pelo contrário, por sair antes de Let it Be, ‘Abbey Road’ adiou em quase um ano a dissolução daqueles que foram chamados um dia de ‘os maiores desde Beethoven’.
A viagem através dos fatos antes, durante e depois do décimo segundo álbum gravado pela banda mais influente e mais importante da história é uma oportunidade de compreender – 40 anos depois – porque o sonho acabou. Acabou?
Beware of ABKCO
Após a morte de Brian Epstein, Paul McCartney sugeriu que Lee Eastman, advogado de sucesso e pai de sua mulher, Linda, tomasse conta dos negócios. Não havia dúvida quanto à competência do homem, mas os outros Beatles não aceitaram. A guerra surda e cega pelo poder dentro do grupo colocou John Lennon & Paul McCartney em campos opostos. Com um detalhe: Paul acabou isolado porque George Harrison & Ringo Starr também achavam que ‘o poder’ dentro do grupo ficaria concentrado demais na mão de um deles, contrariando os primeiros tempos, quando realmente os rapazes eram uma unidade que parecia dividir todas as coisas.
Foi quando entrou no circuito Allen Klein, um cara que era conhecido como promotor dos Rolling Stones e bem visto por seu jeito desenrolado e dinâmico de “homem das ruas”, como achava, sempre com visão romântica, John Lennon. McCartney não queria. Seja porque considerava Lee Eastman opção melhor, seja porque não concordava com as cifras pedidas por Klein como pagamento: 20% de todos os lucros do grupo. Mas foi voto vencido e teve de engolir o empresário.
Allen Klein nasceu em Newark (EUA) no dia 18 de dezembro de 1931. Foi um empresário, promotor, produtor de discos e financista, notabilizado nos anos 60 e 70 na área do entretenimento musical. Ele foi provavelmente o primeiro a descobrir que o rock’n’roll era uma mina de ouro na década de 60, embora funcionasse de forma bastante amadorística no aspecto empresarial. Mesmo no caso dos nomes mais importantes. Audaz, visionário e agressivo nos negócios, Klein foi durante uma época, o mais bem sucedido e conhecido empresário musical do mundo, exibindo como contratados de seu escritório, as duas maiores bandas de rock de todos os tempos: THE BEATLES e The Rolling Stones.
Filho de um açougueiro, Klein desde menino tinha excelente memória para aritmética e trabalhou em diversos pequenos empregos na adolescência enquanto estudava a noite. Nos anos 50, cuidava dos livros-caixa de diversos artistas desconhecidos – desses que tocam em bares e boates, por exemplo. E também fez auditorias para pequenas gravadoras de Nova Iorque. Casou cedo e começou um pequeno negócio neste ramo em 1957, em sociedade com a esposa Betty. Um dia conheceu numa festa de casamento um cantor de sucesso entre as adolescentes americanas Bobby Darin. Conversa vai conversa vem, e Allen Klein achou que a gravadora de Bob Darin lhe estava devendo direitos de vendagem. De posse de uma procuração do cantor, Klein fez uma auditoria nas contas e não teve dúvidas: comprou briga com a gravadora. Foi à justiça e envolveu-se numa pendência da qual saiu vitorioso. Meses mais tarde entregou a Bob Darin um cheque de U$100 mil dólares em direitos autorais não-pagos. O cantor ficou surpreso. A partir daquele dia, Allen Klein passou a ser recomendado como agente entre os artistas do rock’n’roll. Também passou a ser temido e por vezes odiado pela maioria das gravadoras, de quem sabia como ninguém ‘arrancar’ dinheiro.
O nome do promoter começou a bombar mesmo quando em 1965, os Rolling Stones decidiram contratá-lo para fazer o que o empresário e produtor musical Andrew-Loog Oldham não conseguia mais. O homem administrava os negócios da banda desde o começo, mas cada vez mais se afogava nas drogas e no álcool, o que o deixava incapacitado para o trabalho. A parceria com os Stones deu fama e prestígio a Klein, mas durou apenas três anos. Em 1968 Mick Jagger decidiu demiti-lo por duvidar da sua honestidade. E não estava errado. Os Rolling Stones descobriram mais tarde que os direitos de vendagem de músicas como Satisfaction (I Can’t Get No) e Simpathy for the Devil, não pertenciam mais aos autores (Jagger-Richards), mas a Allen Klein, que os comprou do produtor Andrew-Loog Oldham.
Esse fato foi determinante para que Mick Jagger procurasse um curso de Economia. Em 1970 os ‘Rolling Stones’ formaram o próprio selo e passaram a gerir seus negócios. Não sem antes contabilizarem um prejuízo grande: Klein detém até hoje o controle da vendagem da maioria das músicas gravadas pelo grupo antes de 1971. Todos os relançamentos da primeira fase dos Stones só podem sair pela ABKCO, empresa fundada por Klein no começo dos anos 50 e em plena atividade até os dias atuais.
Allen Klein e os Beatles
Em 1969, a Apple Records, empresa fundada pelos Beatles para cuidar de seus negócios, estava completamente desestruturada e em vias de falência depois da morte de Brian Epstein. Até então ele cuidava dos contratos e da contabilidade da banda. Numa entrevista ao jornalista Ray Coleman, logo após as gravações do projeto Get Back/Let it Be, John Lennon declarou que eles estariam quebrados em seis meses se as coisas continuassem como estavam. Tal declaração chamou a atenção do sempre atento Allen Klein, e ele procurou John Lennon. Numa conversa impressionou o músico por seus conhecimentos dos meandros do negócio e por seu jeito de ‘homem das ruas’, simples no linguajar e sem a afetação do pai de Linda Eastman, o outro pretendente ao cargo de empresário dos Beatles. O clima nessa época era dos mais difíceis entre os quatro Beatles. McCartney menciona na série Anthology que ficou muito desconfortável com as colocações dos outros, que desconfiavam dele, e por isso recusaram Lee Eastman. O mundo não tinha conhecimento de que o fim da banda se aproximava.
May 08 1969 – Apple Offices, London
“Threetles” Assinam com Allen Klein
Quando as sessões para o que viria a ser o disco Abbey Road já estavam em andamento, George Harrison; Ringo Starr e John Lennon pressionaram Paul a assinar um contrato de trabalho com Allen Klein. McCartney replicou que ‘estavam na noite de uma sexta-feira, prontos para gravar, e que ele não assinaria naquela ocasião, mas na segunda-feira’. O clima ficou pesado, houve muita discussão e o fato azedou o que poderia ter sido uma noitada produtiva de sessões para o futuro álbum. Paul ficou sozinho, enquanto os outros se foram. Na semana seguinte Allen Klein estava contratado do jeito que exigiu, levando 20% do faturamento da banda. Paul achou um absurdo. Ainda tentou demover os outros, sustentando que deviam pagar 15%. Não adiantou. Esse contrato passou a valer de uma forma curiosa: jamais contou com a assinatura de Paul McCartney.
Usando como justificativa a péssima situação financeira da Apple, Klein propôs trabalhar sob percentagem de lucros e em pouco tempo começou a mostrar seu estilo empresarial e de administração: renegociou os rendimentos da banda com a EMI, conseguindo para eles o mais alto percentual em vendagem de discos da época. Mesma coisa fez no mercado americano com a Capitol Records e suas subsidiárias no México e Canadá. Até então as gravadoras pagavam 17,5% aos Fab Four, conforme contrato negociado com Brian Epstein. Klein subiu esse percentual para 25%. Ele também mudou os distribuidores do filme e do disco Let it Be, passando o controle para a firma dele, ABKCO. E tratou de romper em definitivo o contrato dos Beatles com a Nems Enterprises, a companhia pertencente à família de Brian Epstein.
O estilo personalista de negociação e administração de Klein, aliado ao fato de que não aceitava ser contrariado, causou a maior demissão em massa entre os profissionais que viviam em volta do grupo, na Apple e fora dela. Poucos ficaram. Amigos como Derek Taylor, Neil Aspinall, Peter Brown e Mal Evans permaneceram na condição de subalternos. Allen Klein era o mandachuva.
Por outro lado seus métodos agressivos deram resultado. Em pouco tempo ele recuperou as finanças da Apple e dos integrantes do grupo, gerando uma euforia momentânea. Nessa balada foi que surgiu a idéia de se produzir um novo álbum. A idéia era esquecer o malogro do projeto Get Back e gravar um disco realmente melhor. Na série Anthology, Paul, George & Ringo botam panos mornos na situação, avaliando que todos sabiam que aquele seria o fim. George Martin segue pelo mesmo caminho. Há quem discorde. Até por se considerar que ‘Abbey Road’ foi programado para emplacar, seja por sua estratégia de divulgação, produção, qualidade e o consenso de que precisavam legar ao mundo um disco superior.
Havia também o impasse acerca do que fazer com o resultado final do projeto Get Back/Let it Be, que fora arquivado por tempo indeterminado. Fazer um bom novo álbum era, pois, imperioso também para preencher uma lacuna no mercado enquanto não se definia o futuro da proposta de disco e filme não finalizados. O próprio George Martin – testemunha privilegiada do ambiente das sessões passadas – não acreditava muito na possibilidade de os Beatles se reunirem novamente para gravar, tanto que ao receber o convite de Paul McCartney para assumir a produção, indagou entre outras coisas, se John Lennon estava de acordo.
Apesar do sucesso de Allen Klein, McCartney continuou desconfiando dele e viria a processar os três companheiros e o empresário em 1971 – após o fim da banda – como forma de dissolver a sociedade que unia os Beatles. Na ocasião Paul apresentou fartas provas de que Allen Klein praticava gestão fraudulenta, recebia royalties muito acima do valor combinado e ainda se metia em negócios do próprio McCartney sem a autorização deste. O processo levaria duas décadas para chegar ao fim. As relações profissionais de Klein com John Lennon e George Harrison continuariam por algum tempo, tanto que ele cuidou da realização do Concert For Bangladesh. George só se desencantaria quando foi condenado por plágio em My Sweet Lord. Depois que pagou a multa descobriu que He’s So Fine, a faixa que gerou toda a polêmica, pertencia a ABKCO.
Em 1977, John, George e Ringo acionaram o empresário judicialmente, acusando-o de gestão fraudulenta e temerária. O processo se somou a outros tantos movidos por gravadoras, artistas e agentes econômicos com grossas acusações de roubalheira. Investigado, Allen Klein seria julgado e condenado a cumprir pena de prisão por crime de informação privilegiada e fraude em investimentos financeiros. A morte do polêmico empresário deu-se em 04 de junho de 2009, em sua casa em Nova York, vítima do Mal de Alzheimer. E merece ser contada de forma isenta para revelar as entranhas da chamada indústria do entretenimento musical.
January 31 1969
Apple Studios – London ![]() |
Only a Northern Song
Breve História do Catálogo Musical dos Beatles
O editor musical Dick James em parceria com Brian Epstein e os Beatles fundou em 1963 uma empresa para publicar as canções produzidas por John Lennon & Paul McCartney. Inicialmente tentaram incluir George Martin no negócio, mas o maestro recusou alegando que seu negócio era produzir música, não ‘empresariar’. Ético, o produtor também alegou que por ser funcionário da EMI haveria certamente um conflito de interesses se ele se tornasse sócio de uma editora musical. Para administrar a produção no mercado norte-americano criou-se a subsidiária MacLen Music, adotando curiosamente como nome-fantasia as iniciais dos sobrenomes dos parceiros: ‘McCartney’ precedendo ‘Lennon’. George Harrison e Ringo Starr não eram compositores como John & Paul, mas foram aconselhados a entrar no negócio para o caso de começarem a escrever. E também como garantia de recebimento dos direitos de participação como músicos nas gravações. Dick James já atuava no ramo desde a década de 50 com sua editora, Dick James Music e passou a administrar tanto a Northern quanto a MacLen. Mais tarde quando os primeiros contratos assinados expiraram, George Harrison e Ringo Starr decidiram cair fora. George criou uma editora musical própria (Harrisongs Ltd). E Ringo a Startling Music. John Lennon & Paul McCartney renovaram com a Northern.
Em um novo movimento, já no ano de 1965, Dick James e Brian Epstein decidiram abrir o capital da Northern Songs para driblar os altos impostos ingleses. Foi necessário fazer uma reorganização das participações. John & Paul ficaram com 15% cada um. Brian em nome de sua empresa pessoal NEMS, ficou com 7,5%. Dick James e seu parceiro Charles Silver ficaram com 37,5%. Minoritários no negócio, George Harrison e Ringo Starr amealharam apenas 1,6% cada. O resto foi negociado junto à bolsa de valores da Inglaterra, a London Stock Exchange. Assim a empresa que nasceu com o capital integralmente privado foi parar no mercado de ações negociando arte e talento musical.
Em 1967 George Harrison foi um dos primeiros a demonstrar seu descontentamento com a forma como a Northern manipulava as músicas, tanto que escreveu especialmente para o disco Sgt. Peppers uma faixa de protesto intitulada, Only a Northern Song. A letra é bem ácida e irônica, mas a canção ficou fora do álbum, e só seria aproveitada mais tarde, na trilha sonora do desenho animado Yellow Submarine. George pouco depois conseguiu se libertar da empresa controlada por Dick James e fundou a editora Harrisongs. O pior, porém, ainda estaria por acontecer.
Depois da morte de Brian Epstein, John Lennon & Paul McCartney tentaram renegociar o contrato da Northern Songs com a empresa de Dick James, mas o empresário recusou. O clima entre as partes – que não era bom desde o final de 1966 – piorou. Em 1968 foi tentada uma nova rodada de negociações. Dick James foi chamado para uma conversa na Apple. Ao entrar não gostou do que viu. John e Paul propuseram filmar e gravar a conversa com ele. James não aceitou e foi alvo de muita indelicadeza. O clima ficou pesado e os três discutiram de forma áspera. Aí já estava bem claro que Lennon & McCartney tinham razões para duvidar da conduta e da honestidade de James. E estavam certos.
No início de 1969, Dick James e Charles Silver simplesmente venderam de forma abrupta suas participações na Northern Songs para o grupo Associated Television (ATV) sem qualquer comunicação aos Beatles. Aos rapazes não foi dado sequer o direito de preferência para adquirir o pedaço da Northern que iria parar nas mãos de Lord Lew Grade. Para se ter uma idéia, John Lennon tomou conhecimento quando estava lendo um jornal durante a lua-de-mel com Yoko Ono. Imediatamente telefonou para Paul McCartney, mas o estrago já estava feito. De olho no mercado de ações a ATV já era proprietária de alguns ‘pedaços públicos’ da Northern Songs, ao ponto de ameaçar uma participação como majoritária numa instituição cuja razão de existir era a música dos Beatles!
Allen Klein, que estava começando a trabalhar com os Fab Four tentou uma manobra, um contrato entre a ATV e a Apple cujo objetivo final era a ‘compra’ da ATV. O advogado John Eastman – cunhado de Paul e filho de Lee Eastman, entrou na jogada e abortou a tentativa. Escreveu uma carta a ATV comunicando que Klein não tinha autorização para negociar em nome da Apple. Vale o registro: Klein tinha, na realidade, uma autorização concedida por John, George e Ringo para representar os Beatles, e sustentava ter uma ‘autorização verbal’ de Paul McCartney para negociar em nome da banda. A ATV, temerosa de futuros problemas legais, desistiu da negociação. Por pouco parte do catálogo dos Beatles não foi parar na ABKCO como o dos Stones.
“You Never Give me Your Money”
Em seguida, um bloco de investidores que possuía um pequeno, mas crucial percentual de ações foi pressionado por ambas as partes a vender ou cooperar-se com eles, em última instância, para que um dos lados assumisse o controle do Northern Songs. Durante as negociações, Lennon fez um compreensível, mas inoportuno e mal formulado manifesto ao desdenhar dos empresários do mundo da música por entender que eles estariam a atrapalhar sua produção criativa – “Eu estou doente à morte, temendo ser fodído por homens metidos em seus ternos sentados na própria gordura como se fossem cafetões dos prostíbulos da cidade”. A declaração foi amplamente divulgada, irritando os investidores da ATV. Por trás de tudo movimentava-se um magnata, Lord Lew Grade, controlador não somente da ATV como de muitos negócios no ramo da música, comunicações, mídia e entretenimento.
E ficou assim: A Northern Songs passou a tomar conta de boa parte do catálogo de Lennon-McCartney, e das primeiras canções de George Harrison e Ringo Starr. John e Paul ainda ficariam obrigados a permanecer sob contrato na Northern até 1973. Irritados, os dois chegaram à conclusão de que: se não podiam ‘comprar’ a ATV para reaverem os direitos sobre sua propriedade, a solução seria repassar a parte deles para a empresa. E aí os dois cometem um erro que entraria para a história. Para se livrar da ATV, John Lennon vendeu seus 15%. Os Beatles já estavam separados, e Paul tinha percentual um pouco maior, considerando que comprara ações suplementares da Northern ‘secretamente’ no mercado. Ele também vendeu sua parte. No contrato os dois ficaram com o direito de receber royalties por suas canções, mas o controle acionário da Northern Songs passava para a ATV.
O negócio foi fechado em outubro de 1969, semanas após o lançamento do disco Abbey Road, período em que as relações entre os rapazes estavam irreversivelmente deterioradas. Lennon & McCartney dividiram uma bolada de 3,5 milhões de libras. George & Ringo, mais pragmáticos, optaram por manter suas ações. A ATV virou então ATV Music, e administrou o catálogo dos Beatles até 1985, quando foi posta a leilão no mercado de ações. Paul McCartney tentou sem sucesso persuadir Yoko Ono a se juntar a ele para adquirirem a editora. A japonesa refutou. Com a licitação em andamento, as canções dos Beatles controladas pela Northern Songs através da ATV Music mudaram de mãos.
“I Wanna Buy Your Songs”
Em 1982, o jovem norte-americano Michael Jackson lançava, aos 21 anos, o álbum Thriller que se tornaria o disco mais vendido de todos os tempos, tornando o rapaz multimilionário. Sempre ligado a contemporaneidade da música popular Paul McCartney participa do disco dividindo os vocais com Michael na faixa The Girl is Mine. A amizade deles é mais antiga. Em 1979 Paul cedeu a Jackson autorização para gravar Girlfriend, no álbum Off the Wall. Em 1983 foi a vez da retribuição. Jackson participa de duas faixas de um dos discos mais pop da carreira de McCartney, Pipes of Piece. Durante as conversas que tiveram nas sessões, Michael perguntou onde e como Paul investia seu dinheiro. McCartney disse que investia na compra de direitos autorais. O próprio Paul revelou uma frase enigmática de Michael Jackson: “I wanna buy your songs”. E foi o que aconteceu. Jackson tornou-se dono do catálogo da ATV pagando por ele módicos 47 milhões de dólares. Paul McCartney nunca escondeu um sentimento de traição, comentando o assunto em público muitas vezes. Michael se sentia “um amigo dos Beatles em ter direitos sobre todas aquelas canções.” Perguntado sobre o que achava de ter Michael Jackson como chefe – meses após o leilão – Paul afirmou: ‘Ele precisa me dar um aumento’. A relação dos dois esfriaria para sempre.
Em 1995, dez anos após comprar a ATV Music, Michael Jackson estava com problemas financeiros. A solução encontrada foi ‘fundir’ suas participações nos direitos autorais alheios com o catálogo de sua gravadora, e assim foi criada uma nova empresa, a Sony/ATV Music Publishing. Jackson passou a dividir com a Sony a condição de sócio-proprietário. O negócio foi orçado em 95 milhões de dólares. Em abril de 2006 Michael estava aparentemente ‘quebrado’ após livrar-se das acusações de pedofilia, gastando muito dinheiro para se defender. Um novo negócio foi firmado e a Sony emprestou 300 milhões de dólares ao artista em troca da administração do catálogo. Jackson ficou com apenas 25% de participação. Não há documentação pública circulando para que se conheça melhor as bases da negociação. Restou a Paul McCartney resgatar, através de sua empresa MPL Communications várias canções dos primeiros anos dos Beatles, como Love me Do e PS I Love You, por exemplo – não publicadas pela Northern Songs e, portanto, ainda pertencentes integralmente aos Fab Four. Para melhor compreensão vale acrescentar a essa história, texto publicado no Portal Beatles Brasil pelo jornalista Marcelo Fróes: “A Sony/ATV tem controle sobre as obras de John & Paul, que recebem seus royalties autorais através da editora EMI. Se você gravar hoje uma antiga canção de Lennon-McCartney, a Sony diz sim ou não e estipula as condições. E saiba você que algo em torno de 45% a 50% da grana ficarão para a Sony e o espólio de Michael Jackson, enquanto que 50% a 55% irão para a editora EMI, que repassará uma parte para Paul e outra para Yoko. É basicamente isso”.
Toda essa história nebulosa da perda dos direitos sobre a própria produção musical rolou durante o período em que se produziram os álbuns Let it Be e Abbey Road. Para que se compreenda bem essa história a Pop Go The Beatles resgata os fatos, desmistifica boatos e contribui para o esclarecimento. Lentamente os Beatles se apartavam, mas o mundo em 1969 desconhecia isso.
Monday 3 February – Friday 2 May
De Volta aos Estúdios Apesar de Tudo ![]() |
Saturday 22 February
Trident Studios, London “I Want You” session A primeira gravação que seria aproveitada no futuro álbum começou neste dia, numa longa sessão que se estendeu das 20h às 5h da manhã no Trident Studios. ‘”I Want You”‘, composição de John Lennon ainda não incluía o trecho da canção inacabada ‘She’s So Heavy’. A sessão não aconteceu nos Estúdios Apple porque o local estava em reforma. Consoles de oito canais estavam sendo instalados. E a estrutura dos estúdios fora repensada e passava por testes. A sessão no Trident resultou em 35 takes da ‘base’, incluindo vocal guia. Glyn Johns e Billy Preston participaram dos trabalhos desta ocasião. Alguns dias antes George Harrison se submetera uma cirurgia para extração das amídalas ficando uma semana internado. |
Sunday 23 February
Trident Studios, London Das 18h30 até a meia-noite os takes 9, 20, e 32 de “I Want You” foram editados formando um master salvo profissionalmente na máquina de oito canais. Um mono mix foi preparado e entregue a John Lennon (em fita cassete) para ouvir em casa. |
Tuesday 25 February
EMI Studios, London George Harrison completa 26 anos. E passa boa parte do dia dedicado a gravações. Apoiado por Ken Scott na mesa de som ele gravou vocal, piano e guitarra para suas mais recentes composições. Old Brown Shoe ganhou dois takes. Somethting (um take) e All Things Must Pass (um take) foram registradas em versões demo completas. Não há documentação disponível em Abbey Road acerca do estúdio utilizado, e do tempo de duração (e horário) dessas sessões. Quase trinta anos mais tarde parte dessas ‘demo sessions’ seriam lançadas na série Anthology (1996). |
Saturday 1 March
Morgan Studios, High Rd – Willesden, London Goodbye session ![]() |
Sunday 2, March
Lady Mitchell Hall, Sidgwick – Cambridge ![]() |
Tuesday 4 March
Apple Studios, London ![]() |
Wednesday 12 March
We Got Married Enquanto Paul McCartney casa com Linda Eastman, o sargento Pilcher, da polícia britânica prende George Harrison por posse de maconha. John & Yoko passam a madrugada nos estúdios Abbey Road ouvindo sua mais nova ‘criação’ Peace Song. Ao final John carregou com ele a cópia e a fita original. |
Tuesday 25 – Monday 31 March
Room 902, Amsterdan Hilton, The Netherlands The First Bed-in For Peace John Lennon & Yoko Ono viram notícia no mundo inteiro, escandalizando muita gente pela realização do primeiro Bed-In. A imprensa achava que eles passariam uma semana fazendo sexo na suíte do Hilton, mas o propósito da dupla era outro, promover a paz mundial. Boa parte do que rolou por lá foi filmado e teve o áudio registrado profissionalmente para posterior lançamento. |
Wednesday 26 March
George Martin Volta ao Trabalho ![]() |
Monday 14 April
Studio Three, EMI Studios, London “The Ballad of John & Yoko” session ![]() |
Wednesday 16 April
Studio Three, EMI Studios, London ‘Old Brown Shoe’ session “Something” session ![]() |
Friday 18 April
Studios Three/Two, EMI Studios, London Com supervisão do engenheiro Chris Thomas, George Harrison foi sozinho para Abbey Road finalizar Old Brown Shoe. Trabalhou do jeito que quis, sobrepondo um órgão à base de guitarra feita por John. Também registrou outro take de guitarra com o famoso efeito da ‘caixa Leslie’. A faixa foi então mixada em estéreo para ser lado B do single com “The Ballad of John & Yoko”.Quando John Lennon chegou, à 1h da manhã, os trabalhos mudaram para o estúdio dois de Abbey Road. Ele e George voltaram ao take de “I Want You”, produzido inicialmente no dia 23 de fevereiro no Trident Studios, acrescentando vários tracks de guitarras. Quando a sessão chegou ao fim, às 4h30 da manhã, Chris Thomas produziu um mix estéreo chamado take one. Dois dias mais tarde adicionariam um órgão Hammond. |
Sunday 20 April
Studio Three, EMI Studios, London “Oh! Darling” (I’ll Never Do You no Harm) session Das 9h15 até a meia-noite uma composição de Paul tentada inicialmente nas sessões do projeto Get Back teve as primeiras gravações realizadas. Foram 26 tracks rítmicos. O enorme subtítulo seria removido no futuro. No vigésimo sexto take, Paul acrescentou um overdub de órgão Hammond. Na ausência de George Martin, Chris Thomas fez um estéreo mix. |
Tuesday 22 April
Studio Two, EMI Studios, London John ‘Ono’ Lennon ![]() |
Saturday 26 April
Studio Two, EMI Studios, London “Octopus’s Garden” session Com os quatro Beatles de volta aos estúdios, uma longa sessão iniciada às 16h30 só se encerraria as 4h15 da madrugada. Eles trabalharam em “Octopus’s Garden”, a nova composição de Ringo Starr. Trinta e dois tracks rítmicos foram produzidos – sem a definição do vocal – sendo o último marcado como ‘melhor’, e separado para futuros overdubs. No dia 29 Ringo gravaria o lead vocal e logo em seguida seriam produzidos mixes em estéreo a cargo do engenheiro Chris Thomas. |
Wednesday 30 April
Studio Three, EMI Studios, London “You Know my Name” (Look Up the Number) session Nessa ocasião ocorre a mais interessante sessão produzida por Chris Thomas. Das 19h15 às 2h da manhã, John & Paul ressuscitaram You Know my Name, gravada entre maio e junho de 1967, mas não finalizada nas sessões de Sgt. Peppers. Eles gravaram novos vocais e muitos efeitos sonoros. A mixagem foi transferida de quatro para oito canais e, quando a sessão chegou ao fim, You Know my Name ganhou de Chris Thomas um mix de 6 minutos e 8 segundos de duração. Boa parte do trabalho foi em vão, já que por ocasião do lançamento como lado B de Let it Be, a faixa seria reduzida para 4 minutos e 19 segundos. |
Friday 2 May
Studio G, Lime Grove Studios, London and Abbey Road Studio Three, London O dia começou no estúdio ‘G’ da TV BBC, onde John Lennon & Yoko Ono foram entrevistados durante meia hora (entre o meio-dia e uma da tarde) para falar acerca do filme ‘Rape’ por eles produzido. À noite os quatro Beatles trabalharam nos estúdios Abbey Road, quando produziram 36 tracks básicos de “Something”, cuja base foi refeita nessa ocasião. Paul tocou baixo, Ringo bateria, John guitarra-base e George guitarra-solo. Detalhe: Billy Preston trabalhou com eles adicionando um piano. O take 36 foi marcado como o melhor da noite, com 7 minutos e 48 segundos de duração!Nota: Essa versão ‘alongada’ de “Something” inclui um longo solo instrumental de piano (quatro notas) executado por Billy Preston. A gravação permanece inédita, 40 anos após o lançamento do disco Abbey Road e conta com a contribuição de John, o que não aconteceria no take lançado comercialmente. |
Sunday 4 May
Les Ambassadeurs, London John, Paul e Ringo voltam a uma das locações utilizadas no filme A Hard Days Night para prestigiar uma exposição de fotografias clicadas durante a produção do filme The Magic Christian. A participação deles no evento é filmada e utilizada pela BBC num documentário exibido uma única vez em 1969, contando a trajetória de Peter Sellers no cinema. |
Monday 5 May
Olympic Sound Studios, London Os Beatles cumprem a primeira de quatro sessões reservadas para o Olympic Sound Studios. Somente Paul & George trabalham, das sete e meia da noite às quatro da madrugada. Eles produzem overdubs para “Something”, demorando-se na regravação do baixo e da guitarra, respectivamente. Glyn Johns dirigiu a sessão. |
Tuesday 6 May
Olympic Sound Studios “You Never Give me Your Money” Session Abbey Road Medley decision ![]() |
Wednesday 7 May
Olympic Sound Studios, London Ninguém grava nada nesta noite. Glyn Johns reúne os quatro Beatles e toca para eles o material das sessões de Get Back que vinha editando ‘com carta branca’. |
Friday 9 May
Olympic Sound Studios, London ‘My Dark Hour’ session ![]() |
Thursday 15 May
The Beatles in Holiday Logo após o bate boca que abortou a sessão de gravação programada para o dia 9 passado, as sessões para Abbey Road são interrompidas e os integrantes do grupo saem de férias. Há quem acredite que essa decisão foi tomada para ver se os ânimos se acalmavam. Paul seguiu com Linda para uns dias em Liverpool e adotou uma programação de pessoa comum. Visitou parentes e antigos amigos. Foi entrevistado ao vivo nos estúdios da Rádio BBC Merseyside e informou que ‘Os Beatles estavam produzindo um novo disco, mas não sabia quando seria lançado’. |
Monday 26 May – Monday 2 June
Room 1742, Hotel Reine-Elizabeth, Dorchester, Canada Boulevard West, Montreal, Quebec, Canada The Second Bed-In For Peace Give Peace a Chance live session Começa bem longe do território inglês o segundo e último Bed-In For Peace. John e Yoko entraram nos EUA pelas Bahamas. Era lá que inicialmente pretendiam fazer seu protesto na cama pela paz. A pretensão foi barrada pelas autoridades locais. Eles então decidiram que seria em Nova York pela dimensão que o evento teria em termos de mídia mundial. Mas também não foi possível. Na capital americana a polícia decidiu que John Lennon tinha de deixar imediatamente o país por que seu prontuário (de novembro/68) registrava uma prisão por envolvimento com drogas. A escolha de Montreal não foi por mero acaso. John sabia que por ficar na fronteira com os EUA eles contariam (como de fato aconteceu) com a forte repercussão e cobertura da mídia americana. ![]() O intento com o ‘bed-in nas Américas’ foi o mesmo de Amsterdã: contar com o maior número possível de transmissões das emissoras de rádio e televisão, além da cobertura de jornais e revistas. John & Yoko também queriam a suíte do hotel lotada de jornalistas, escritores, poetas e formadores de opinião para transmitir seu inusitado protesto pela paz. E deu certo. John passou uma semana inteira concedendo entrevistas, participava ao vivo de programas radiofônicos pelo telefone, discutia a paz com ouvintes e disc jockeys, sem se aperceber de um fato: tanto quanto possível os jornalistas prestavam mais atenção no que ele dizia, em detrimento de Yoko Ono, que mesmo assim também falava muito. Detalhe: o que rolou em Montreal foi integralmente filmado. Foram horas e horas de filme – incontáveis – vale registrar.O material até hoje, 40 anos depois, circula aos pedaços. O filme original se chama ‘The Way It Is’ e jamais foi exibido. Trechos da longa produção seriam posteriormente editados em lançamentos de home vídeo como: John Lennon – Imagine; John & Yoko The Bed-In; e John & Yoko Bed-In For Peace. O mais importante registro dessa fase deu-se no dia primeiro de junho, quando John Lennon liderou todos os que estavam no quarto de hotel em Montreal e gravou Give Peace a Chance se acompanhando ao violão, enquanto os convivas faziam coro.Quando o Bed-In terminou, John Lennon voltou à Inglaterra e trabalhou com Ringo Starr numa sessão de overdubs para Give Peace a Chance, quando então foi adicionada discreta bateria para ‘nivelar’ a improvisada percussão feita no hotel. Na mesma ocasião foi gravado um coral de vozes (bastante ásperas, registre-se) para ‘cobrir’ as imperfeições do registro ao vivo. Infelizmente não há documentação que comprove que essas sessões de pós-produção para Give Piece a Chance tenham de fato ocorrido. Não há registro formal de sessões em Abbey Road ou no Olympic Studios. No dia 4 de julho de 1969 chegaria ao mercado ostentando um selo Apple o primeiro single solo de um dos Beatles. De um lado Give Piece a Chance (John) e do outro Remember Love (Yoko). Foi o primeiro lançamento atribuído ao grupo The Plastic Ono Band.Nota: The Plastic Ono Band era uma idéia de John & Yoko de formar uma banda conceitual sem membros fixos. Dessa data em diante atividades musicais envolvendo os dois seriam atribuídas à Plastic Ono Band, pelo menos durante certo tempo. No dia 10 de julho a Apple distribuiu para as emissoras de televisão um filme de 16 mm com áudio em mono de Give Piece a Chance. A edição usou cenas da gravação ao vivo em Montreal. O programa Top of the Pops, da BBC, foi o primeiro a levar o promo ao ar. |
Wednesday 28 May
Olympic Sound Studios, London Get Back LP Master Tape Os Beatles ainda se encontravam de férias. Nesta noite Glyn Johns apresenta o master tape para o álbum Get Back. Apenas George Harrison compareceu a audição do LP. Os outros três estavam fora do país. Ao final disse que aprovava o trabalho. O disco apresentava um mix das gravações feitas nos estúdios Apple entre 22 e 31 de janeiro de 1969. E jamais seria lançado. Essa mixagem de Glyn Johns, todavia, serviria de base para o lançamento futuro de Let it Be, finalizado por Phill Spector. |
Tuesday 1 July
Studio Two, Abbey Road, London Início Oficial das Gravações do LP ‘Abbey Road’ Os ânimos pareciam serenados. Como nos velhos tempos os Beatles retornam a Abbey Road sob a supervisão de George Martin para gravar. Ficava estabelecido oficialmente que a partir dessa data as sessões teriam por objetivo a concepção de um novo álbum, ainda sem título. Durante vinte e dois dias os Beatles trabalhariam como um grupo, cumprindo a rotina de gravar entre as 14h30 às 22h em média. E assim seria até o dia vinte e nove de agosto. Nesse retorno a Abbey Road, somente Paul McCartney compareceu. E trabalhou das três da tarde às sete e meia da noite em overdubs vocais para “You Never Give me Your Money”, gravada originalmente no Olympic Studios. John Lennon não apareceu. Não porque não quisesse, mas porque se envolveu num acidente automobilístico enquanto descansava na Escócia em companhia de Yoko, Julian e Kyoko. Todos se feriram sem gravidade e foram hospitalizados até o dia seis. O acidente custaria caro a Yoko Ono. Ela perderia de vez a guarda de Kyoko para seu ex-marido Tony Cox. Cynthia também reagiria, não mais permitindo que o pequeno Julian circulasse na companhia do pai. |
Wednesday 2 July
Studio Two, EMI Studios, London “Her Majesty” session “Golden Slumbers”/”Carry That Weight” session ![]() |
Friday 4 July
Studio Two, EMI Studios, London On the Radio Listening session Pouco trabalho foi realizado nesse dia no take de “Golden Slumbers”/”Carry That Weight”, mas o tempo de permanência dos Beatles no estúdio foi estendido: das 14h45 até as 5h30 da manhã. George, Ringo, Paul e todos os demais, passaram muito tempo diante de um receptor de rádio, ligados na BBC 2-AM acompanhando as finais do campeonato mundial de tênis feminino, evento sediado na Inglaterra, e que literalmente parou o país. Na quadra a britânica Ann Jones contra a lendária tenista norte-americana Billie-Jean King. Ann Jones levou a melhor. |
Monday 7 July
Studio Two, EMI Studios, London “Here Comes the Sun” session ![]() |
Tuesday 8 July
Studio Two, EMI Studios, London Paul e George trabalham em “Here Comes the Sun”. É gravado um lead vocal e logo depois os dois registram backing vocals dobrados. O material produzido é mixado e resulta no take 11. Ao final da sessão, que foi das 14h30 às 22h45, George Martin finalizou um mono mix provisório. George levou o material para ouvir em casa, numa fita cassete. |
Wednesday 9 July
Studio Two, EMI Studios, London John Lennon Estréia nas Sessões de Abbey Road “Maxwell’s Silver Hammer” session ![]() |
Thursday 10 July
Studio Two, EMI Studios, London ‘Bigorna’ no estúdio Das duas e meia da tarde às nove e meia da noite eles trabalham em overdubs para “Maxwell’s Silver Hammer”. Paul adiciona um piano e George Martin um órgão. George grava novos takes de guitarra. Uma sessão vocal é produzida com Paul fazendo o lead, se juntando a Ringo e George nos backings. A novidade da sessão foi a gravação do take de uma legítima ‘bigorna’, trazida para os estúdios por Mal Evans a pedido de Paul. Ringo Starr gravou a percussão na bigorna usando um martelo e hastes de ferro imitando as baquetas da bateria. John Lennon não apareceu. Entre nove e meia e onze e meia da noite, George Martin realizou uma mixagem estéreo, mas o trabalho ainda não estava completado.Nota: Vale o registro de que a idéia de usar uma bigorna na percussão de “Maxwell’s Silver Hammer” já havia sido definida bem antes da faixa ser gravada oficialmente. Em algumas passagens do filme Let it Be é possível ver o assessor Mal Evans batendo na bigorna com um martelo enquanto os Beatles ensaiam. |
Friday 11 July
Studio Two, EMI Studios London Os tempos eram outros e haviam mudado bastante. Paul McCartney grava mais overdubs – de vocal e guitarra para “Maxwell’s Silver Hammer”. George também comparece, mas para gravar um novo vocal em “Something”. A sessão foi longa, das duas e meia da tarde à meia-noite. O último trabalho do dia foi a regravação do baixo em “You Never Give me Your Money”. Nessa mesma ocasião George Martin produz o take 37 de “Something” (em estéreo). Na realidade foi uma redução do take 36, resultando numa versão com 05min32 segundos. John Lennon & Ringo Starr não apareceram para trabalhar. |
Tuesday 15 July
Studios Three/Two EMI Studios London Dois estúdios foram ocupados pelos Beatles nessa ocasião. O 3 seria utilizado entre duas e meia da tarde e seis da noite. O 2 permaneceria ocupado entre seis da tarde e onze da noite. Diversos sons são adicionados a “You Never Give me Your Money”, assim como novos vocais. George Martin providencia mixagem estéreo provisória. Paul e Ringo trabalham juntos. George e John não dão as caras em Abbey Road. |
Wednesday 16 July
Studios Three/Two EMI Studios, London Das duas e meia da tarde às sete da noite, e das sete da noite a meia-noite e meia, Paul, George e Ringo trabalham ocupando novamente dois estúdios. Eles gravam palmas em “Here Comes the Sun”. A canção também ganha um ‘harmonium’ e um novo lead vocal. Paul também grava backing vocals. Eles então passam para o take 36 de “Something”, que é retomado e recebe novos overdubs. John Lennon permanece distante dos Beatles e dos estúdios. |
Thursday 17 July
Studios Three/Two EMI Studios, London “Oh! Darling” session De duas e meia da tarde às seis e meia da noite, e das seis e meia as onze e quinze os Beatles emplacam pelo terceiro dia consecutivo a utilização de dois estúdios em Abbey Road. Paul chegou antes dos demais para trabalhar sozinho nos lead vocals de “Oh! Darling”. Determinado a registrar um sentimento forte na gravação ele faria quatro tentativas, uma em cada dia (17, 18, 22 e 23 de julho) até ficar satisfeito com o resultado final. O restante do dia foi dedicado a “Octopus’s Garden”, quando Paul e George registraram um belo backing vocal. Paul ainda acrescentaria um piano. Ele, George e Ringo se serviriam dos arquivos sonoros da biblioteca de Abbey Road para adicionar muitos efeitos à gravação. E John Lennon? Permanecia ausente dos estúdios e dos Beatles. |
Friday 18 July
Studios Three/Two EMI Studios, London Mono mix inédito ![]() |
Monday 21 July
Studios Three/Two EMI Studios, London “Come Together” session Finalmente John Lennon retorna aos estúdios. Desde a gravação de “The Ballad of John & Yoko”, registrada em 14 de abril, ele não apresentara nenhuma nova composição. Esse seria um dia especial para ele. Das 14h30 às 21h30 no estúdio 3, e das 21h30 às 22h no estúdio 2, ele registraria à moda antiga, oito memoráveis takes de “Come Together”. À moda antiga porque a gravação inicialmente foi capturada na máquina de quatro canais, com John registrando palmas e vocais; George na guitarra-solo; Paul no baixo e Ringo na bateria. A partir daí o material seria copiado para a máquina de oito canais, que vinha sendo utilizada desde o início das sessões. O take marcado como número nove seria arquivado para futuras sessões de overdubs. A ocasião também registrou o retorno do engenheiro Geoff Emerick à mesa de gravação, fato que não agradaria seus colegas, que o receberam friamente. Não era para menos. Gravar com os Beatles era um privilégio disputadíssimo por técnicos de som. Emerick deixara a EMI durante as sessões do Álbum Branco em 1968, e voltava agora como free lancer. Ele revelaria anos mais tarde que a sessão de “Come Together” foi marcante, pelo fato de a nova composição de John contagiar a todos. “Parecia que estávamos nos primeiros tempos em Abbey Road, com aquele entusiasmo único dos rapazes”, afirmou. |
Tuesday 22 July
Studio Three, EMI Studios London Das 14h30 às 21h30 John Lennon trabalhou nos estúdios para registrar um novo lead vocal para “Come Together”. A faixa também ganharia um piano elétrico, guitarra base e maracas. Paul dava seqüência a mais uma tentativa de registrar o vocal definitivo em “Oh! Darling”. |
Wednesday 23 July
Studios Three/Two EMI Studios London ‘Ending’ session – drum solo session Três semanas após a gravação de “Golden Slumbers”/”Carry That Weight”, George Martin fazia testes para montar o futuro medley pretendido para o novo álbum. Propositalmente ele mixava os ‘finais’ e ‘começos’ de algumas faixas de forma a facilitar o ‘encaixe’ de canções distintas. Nesse dia surge, ‘Ending’ uma faixa então predominantemente instrumental, que no futuro evoluiria e ganharia o título definitivo (e apropriado) “The End”. A sessão foi longa, das duas e meia da tarde as onze e meia da noite e – com fitas rolando livremente nos gravadores – foram registradas muitas tentativas, a maioria ensaios nos quais os rapazes tocaram sem maiores preocupações. O clima gerado pela execução ao vivo no estúdio foi tão descontraído que resultou no registro histórico do primeiro e único solo de bateria tocado por Ringo Starr numa faixa dos Beatles. No total foram sete tentativas de gravação, cada uma delas com um solo de guitarra diferente.Vale destacar que na mixagem o material concernente a “The End” seria drasticamente reduzido. Inicialmente para 1 minuto e 20 segundos, depois 2 minutos e 41 segundos, e um pouco mais tarde para 2 minutos e 5 segundos. O objetivo era, naturalmente, ‘encaixar’ a gravação no medley, e com esse objetivo “The End” foi concebida. Naquela mesma noite os quatro Beatles acompanhados de George Martin e Geoff Emerick ocuparam espaço na mesa de áudio do estúdio 2 para escutar o que fora produzido até a data para “Oh! Darling” e “Come Together”. |
Thursday 24 July
Studio Two, EMI Studios London Come and Get It session “Here Comes the Sun”/”Sun King”/”Mean Mr.Mustard” session ![]() |
Friday 25 July
Studio Two, EMI Studios London “Polythene Pam” session “She Came in Through the Bathroom Window” session Os Beatles trabalharam nessa ocasião das 14h às 02h30 da madrugada. O dia começou com overdubs para “Sun King”/”Mean Mr Mustard” (vocais, piano e órgão) e novas harmonias vocais para “Come Together”. Na segunda parte das sessões eles começam a gravar para o medley “Polythene Pam”, de John, e “She Came in Through the Bathroom Window”, de Paul. Novamente tudo foi registrado em seqüência, como se fosse uma única composição. 39 takes da base rítmica foram gravados com John ao violão, Paul no baixo, George na guitarra-solo e Ringo na bateria. Nas últimas quatro horas eles trabalharam pacientemente em overdubs nos quais regravaram baixo, bateria, e então acrescentaram os lead vocals. O clima, de acordo com técnicos que trabalharam com os quatro era de pura cooperação e cordialidade, apesar de todos os problemas. |
Monday 28 July
Studios Three/Two EMI Studios, London Pesado trabalho de overdubs mobilizando os quatro Beatles em mais uma quilométrica sessão. Começaram no estúdio 3, das 14h30 às 20h. Depois mudariam para o estúdio 2 onde permaneceriam por mais meia hora. O trabalho foi produtivo: regravaram o lead vocal, violão, guitarras, piano elétrico, bateria e percussão em “Polythene Pam” e “She Came in Through the Bathroom Window”. Uma das ações que concentrou esforços da banda foi na ligação de uma faixa para outra. O resultado foi a mixagem de um take numerado como 40 por George Martin. No dia seguinte mais uma longa sessão mobilizaria novamente os quatro para acrescentar guitarra em “Come Together” (George) e adicionar vocal, órgão, piano e percussão em “Sun King”/”Mean Mr.Mustard”. |
Wednesday 30 July
Studios Three/Two, EMI Studios, London The Long One/Huge Medley session ![]() |
Thrusday 31 July
Studio Two, EMI Studios London O take 30 de “You Never Give me Your Money” ganha mais um overdub de baixo e de piano, o que finaliza a canção. Das 14h30 a 01h15 mais uma longa sessão de overdubs de bateria, tímpanos e vocais é acrescentada a “Golden Slumbers”/”Carry That Weight”. |
Friday 1 August
Studio Two, EMI Studios London “Because” session Uma das mais belas composições dos Beatles seria gravada nesta ocasião. Seu complicado vocal em três partes fez com que todos recordassem de This Boy, If I Fell e Yes It Is, onde a voz de John, Paul e George fora o destaque do arranjo. Das duas e meia da tarde às sete e meia da noite a base rítmica foi registrada. George Martin tocou uma antiga harpa Baldwin com teclas e cordas montadas de forma trapezoidal no instrumento. John Lennon fez a guitarra elétrica e Paul o baixo. Ringo Starr fez uma suave percussão nos pratos, ouvida tão somente nos fones de ouvido dos músicos, ou seja, não foi gravada. O take 16 foi considerado o melhor. Das sete e meia às dez e meia da noite, John, Paul e George começaram a gravar os vocais harmônicos. Vale registrar que a versão finalizada apresentaria três sets distintos das três vozes. Somente o primeiro deles ficaria pronto nessa ocasião.Nesse dia, depois que os rapazes foram embora, George Martin sentiu que um grande álbum estava em produção, com grandes momentos musicais onde os quatro Beatles pareciam dar tudo de si. Ele comentaria isso com técnicos com os quais trabalhou até mais tarde na audição de “Because”. |
Monday 4 August
Studio Two, EMI Studios, London A gravação das três partes distintas da harmonia vocal de “Because” seria finalizada assim, em dois dias de sessões. Mas não foi fácil chegar ao resultado final. Eles trabalharam das 14h30 até as 21h para atingir a perfeição desejada. Entre 19h15 e 20h45 George Harrison mudou para o estúdio três e produziu rudes mixes estéreo para “Something” e “Here Comes the Sun”. A audição serviu para que ele chegasse à conclusão de que as duas faixas necessitavam de mais trabalho para a finalização. “Something” foi passada para um acetato entregue por Harrison a George Martin. Na ocasião ele pediu ao maestro que providenciasse o overdub de uma orquestra. |
Tuesday 5 August
Studios Three/Two and Room 43, EMI Studios, London Moog Synthesiser entra em cena ![]() ![]() |
Wednesday 6 August
Studios Two/Three/Room 43, Emi Studios, London Data importante para a produção do novo disco. Nesse ponto todos os tracks básicos estavam gravados, e o que faltava fazer era a ‘lapidação’ do material com o acréscimo de overdubs. Foi uma etapa na qual começa a se tornar raro encontrar os quatro Beatles nos estúdios. Nesse dia duas sessões simultâneas ocorreram. George acrescentou uma nova trilha de violão em “Here Comes the Sun” no estúdio três, onde trabalhou das duas e meia da tarde às onze da noite. Na sala 43, no mesmo período de tempo, Paul incluiu sons do sintetizador moog em “Maxwell’s Silver Hammer”, o que resultou no take 27, marcado como “o melhor”. George Martin e equipe trabalharam das 23h a 01h para montar a mixagem estéreo. |
Thursday 7 August
Studios Two/Three EMI Studios, London Das 14h30 às 18h, “Come Together” foi mixada em estéreo. Das 18h até a meia-noite a equipe se mudou para o estúdio três com a presença de John, Paul & George. Eles gravaram vocais para “The End”. Logo depois um momento que pode ser considerado hoje, 40 anos depois, como histórico. Os três realizaram uma ‘jam session’ resultando no sensacional solo de guitarra que finalizaria “The End”. “O duelo de improvisos de Paul, George & John foi um dos momentos memoráveis das sessões em Abbey Road”, relembraria anos mais tarde o engenheiro de som Allan Parsons. |
Friday 8 August
Studios Three/Two/Room 43, EMI Studios, London Abbey Road cover photo session Um dia mágico. As sessões de gravação foram programadas para começar às 14h30, mas os quatro Beatles apareceram no final da manhã em Abbey Road, o que não era usual. Exatamente às 11h35 eles participaram de mais um momento que entraria para a história da música popular, a sessão de fotos para a capa do futuro LP. O fotógrafo Iain Macmillan foi contratado com a incumbência de clicar os Beatles atravessando a ‘zebra-crossing’ (passagem de pedestres) da rua em frente aos estúdios. A iluminação estava perfeita e Londres belamente ensolarada naquele sábado há 40 anos. Enquanto John, Paul, George & Ringo atravessavam de um lado para outro, Macmillan e um auxiliar acionavam os disparadores das Nykon. ![]() Vale registrar que para fazer as fotografias foi necessário contar com a simpatia de um policial de trânsito que literalmente ‘segurou’ o tráfego de veículos para que Iain Macmillan clicasse por seis vezes os Beatles na travessia, gastando em torno de dez minutos de atividade. O visual dos rapazes foi produzido dentro dos estúdios por funcionárias de Abbey Road que, basicamente, cuidaram de pentear os quatro. Há quem diga que alguma maquiagem teria sido utilizada. Quando Iain Macmillan produziu os ‘negativos’, Paul dedicou-se a estudá-los utilizando um vidro de aumento que ampliou significativamente as fotos. Daí foi feita a escolha daquela que se tornaria a capa do último disco dos Beatles.Outro registro importante a ser feito é que a sessão do lado de fora dos estúdios Abbey Road foi documentada por uma série de fotos tiradas por curiosos, passantes, e principalmente pelos funcionários da Apple/EMI e pessoas ligadas aos Beatles, como suas mulheres, ou assistentes pessoais como Mal Evans, Tony Bramwell, Derek Taylor e outros. Esses flagrantes, todavia, não foram feitos com a utilização de equipamento profissional.À tarde, das 14h30 às 21h, bateria e baixo foram gravados no estúdio dois por Paul & Ringo para inclusão em “The End”. John registrou um overdub de sintetizador produzindo um barulho de fundo, algo como uma interferência de sons para criar o efeito de redemoinho e ventania a ser adicionado em “I Want You”. Das cinco e meia da tarde as nove e quarenta e cinco da noite, enquanto Lennon trabalhava em “I Want You”, McCartney ocupou o estúdio três para incluir uma guitarra e um tamborim em “Oh! Darling”. |
Monday 11 August
Studios Three/Two/Room 43 EMI Studios, London “I Want You” (She’s So Heavy) session Nessa ocasião, “I Want You” se transforma em “I Want You (She’s So Heavy)”. O trabalho foi exaustivo, estendendo-se na primeira parte das 14h30 às 23h. John, Paul e George trabalharam pesado na harmonia vocal para tornar um trecho da canção inacabada “She’s So Heavy” parte integrante de “I Want You”. Até essa ocasião John estava em dúvida. Não sabia se lançava o take finalizado nas sessões do dia 18 de abril (sem a parte de she’s so heavy) ou se o produzido neste dia. A sessão ainda incluiria gravações de guitarras para “Oh! Darling” e “Here Comes the Sun”. Depois que todos foram embora o engenheiro Phill McDonald fez cópias em mono dos mixes estéreo de Dig It e “Maxwell’s Silver Hammer”.Nos dias subseqüentes (12, 13) as faixas “Oh! Darling”, “Because”, “Maxwell’s Silver Hammer” e “You Never Give me Your Money” receberiam mixagens em estéreo. |
Thursday 14 August
Studio Two, EMI Studios, London Um produtivo dia de mixagens estéreo de quase todo o medley que entraria no ‘lado 2’ do LP. O trabalho começou às duas e meia da tarde e foi até duas e meia da madrugada. Por volta das oito horas da noite houve um intervalo para que o disc-jockey da rádio BBC, Kenny Everett, gravasse uma entrevista com John Lennon na sala de controle do estúdio dois. O material iria ao ar na Rádio 1 da BBC (programa Everett is Here) no dia 20 de setembro com reprise no dia 27 daquele mês. Lennon fala do novo disco dos Beatles e do objetivo da banda com esse trabalho. |
Friday 15 August
Studios One, Two, EMI Studios, London Durante uma longa sessão, todos os tracks orquestrais necessários para completar as faixas “Golden Slumbers”/”Carry That Weight”, “The End”, “Something” e “Here Comes the Sun” foram gravados. Enquanto George Martin trabalhava nas regências no estúdio um, seus fiéis escudeiros Geoff Emerick, Phill McDonald e Allan Parsons gravavam no estúdio dois. As duas estruturas estavam interligadas não somente por um cabo, mas por um circuito fechado de TV, o que sem dúvida facilitou o trabalho de todos. Infelizmente as imagens geradas não foram gravadas para a história. Os quatro Beatles acompanharam atentamente o registro das trilhas orquestrais. George Harrison, por exemplo, ia de um estúdio para o outro, discutindo com George Martin os detalhes que queria em “Something”. Ele também se locomovia a todo o momento para a sala de controle do estúdio dois, trabalhando com os técnicos. Na mesma sessão, sentado ao chão do estúdio, Harrison gravou o magistral solo definitivo de “Something”.A EMI pagou 697 libras aos músicos que trabalharam nos takes orquestrais de Abbey Road. A preços de hoje, pouco mais de dois mil reais pelas seguintes gravações: ![]() “Golden Slumbers”/”Carry That Weight”/”The End” 12 violinos, 4 violas, 4 cellos, 1 baixo acústico, 4 trombetas, 3 trompetes, 1 trombone e 1 baixo-trombone. A gravação foi feita entre 14h30 e 17h30.“Something” 12 violinos, 4 violas, 4 cellos e 1 baixo acústico.“Here Comes the Sun” 4 violas, 4 cellos, 1 baixo acústico, 2 clarinetes, 2 flautas altas, outras duas flautas e 2 piccolos (ou seja, flautas menores, mais finas por assim dizer). As sessões orquestrais para “Something” e “Here Comes the Sun” se estenderam das 19h a 01h15. Infelizmente a EMI não registrou os nomes dos músicos que participaram dessas históricas gravações, o que significa que jamais terão o crédito adicionado. Não se sabe exatamente o porquê, mas a única exceção é para o músico WC Smith, que tocou flauta, baixo acústico e flauta alta na ocasião. |
Monday 18 August
Studio Two, EMI Studios, London Entre 14h30 e 22h30 são produzidos mixes estéreo para “Golden Slumbers”/”Carry That Weight”. Paul gravou mais um overdub de piano para “The End”. |
Tuesday 19 August
Studio Two, Room 43, EMI Studios, London As duas contribuições autorais de George Harrison para Abbey Road são finalizadas nesta ocasião, numa sessão que começou às 14h e terminou às 4h da madrugada. Ele incluiu um derradeiro overdub de sintetizador em “Here Comes the Sun”. Logo depois George Martin e equipe – com supervisão atenta de George – completaram a mixagem estéreo. “The End” recebeu novas intervenções, dessa vez um novo ‘crossfade’ foi criado para ligá-la a “Carry That Weight”/”The End”. |
Wednesday 20 August
Studios Three/Two, EMI Studios, London The Beatles Last Session Uma das mais complexas gravações dos Beatles, “I Want You” (She’s So Heavy) de John foi completada nessa ocasião, entre 14h e 18h, no estúdio três. A mixagem aconteceu na mesma ocasião. O master tape produzido neste dia (aproveitando trechos das gravações anteriores) terminou com 7min44seg. Curiosamente aquilo que entraria para a história como um ‘efeito’, ou seja, o corte abrupto da canção quando está em volume total, foi na realidade um ‘defeito’, ou seja, a fita literalmente se rompeu naquele ponto. É possível que o corte abrupto ocorresse de qualquer maneira, considerando que faltavam apenas 20 segundos para a fita de rolo terminar. Todos gostaram da forma inesperada do ‘fade’ e foi assim que a faixa entrou no LP. Além dos múltiplos overdubs gravados, a versão final uniu trechos de gravações feitas no Trident Studios e em Abbey Road.Das 18h a 1h15 todos se mudaram para o estúdio dois, onde um protótipo do master tape final de Abbey Road foi compilado. Neste ponto a versão finalizada tinha duas variações distintas. Numa delas um dos lados fechava com “I Want You”. Na outra havia a dúvida de fechar um dos lados ou com “Oh! Darling” ou com “Octopus’s Garden”. Foi uma noite decisiva para os Beatles e para a história da música popular. Quando todos se retiraram a ordem do setlist de Abbey Road estava resolvida. Talvez John, Paul, George e Ringo não imaginassem, mas a data entraria para a história como a última vez em que os quatro trabalharam juntos, justamente no estúdio dois de Abbey Road, onde produziram quase todos os seus êxitos, mudando definitivamente a história do rock e da música popular. Uma era se fechava na infatigável passagem do tempo. |
Friday 22 August
John’s Tittenhurst House, Ascott Final Photo Session ![]() |
Monday 25 August
Studio Two, EMI Studios, London Dia derradeiro de trabalho no LP Abbey Road. “The End” e “Maxwell’s Silver Hammer” receberam edições finais, sendo que a inclusão de efeitos sonoros no início de “Maxwell’s Silver Hammer” ocupou o estúdio das 14h30 às 20h. O material foi mixado em estéreo e Geoff Emerick montou um master final alternativo, com as adições nestas feitas. A versão com os tais efeitos sonoros não seria lançada. Emerick então ‘salvou’ duas cópias master de Abbey Road e solicitou ao empregado da EMI, Malcolm Davis, que providenciasse dois acetatos. Não se sabe que fim levou a cópia alternativa do LP. |
Friday 19 September
Abbey Road Television Publicity A preocupação dos executivos da Apple/EMI no sentido de tornar Abbey Road um produto cujas vendas teriam a missão de recuperar os prejuízos com o projeto Get Back, gerou para o último LP dos Beatles uma divulgação sem precedentes na televisão britânica para um álbum de pop/rock. A BBC 2 exibiu nessa e em mais três ocasiões um programa totalmente devotado ao novo álbum. Nenhum dos Beatles participou. Também não havia imagens dos rapazes nem das sessões. E o promo de “Something” não estava pronto. Mesmo assim a produção ilustrou os três números que foram ao ar (“I Want You”, “Oh! Darling” e “She Came in Through the Bathroom Window”) com fotografias, ou seja, alguns dos cliques de Linda McCartney realizados na sessão do dia 22 de agosto. E trechos do filme de 4 minutos. O material desse programa não existe mais nos arquivos da BBC, mas as imagens da última sessão de fotos dos Beatles seriam vistas brevemente no encerramento da série Anthology. O filme original pertence a Paul McCartney. |
Thursday 25 September
Studio Three, EMI Studios, London Plastic Ono Band sessions O mundo não sabia que o sonho havia acabado. Um dia antes do lançamento de Abbey Road, John retornou aos estúdios para trabalhar em gravações de seu novo grupo, Plastic Ono Band. Das 10h a 01h45 da madrugada produziu a mixagem estéreo de todos os takes tocados ao vivo no dia 13 de setembro no Varsity Stadium, no Canadá. O material resultaria no álbum Live Piece in Toronto. Na mesma época, George Harrison estava envolvido com a produção de um disco para o Rhada Krishna Temple. Ringo Starr cuidava da pré-produção de seu primeiro álbum solo, Sentimental Journey e Paul McCartney se isolava do mundo com a família em sua fazenda na Escócia. |
Friday 26 September
LP Abbey Road Realesed “Something” promo vídeo session ![]() ![]() |
PANTOMIMA
– O último LP dos Beatles quase se chamou Everest. Durante as gravações, o engenheiro de som Geoff Emerick fumava muito os cigarros da marca “Everest”. Por algum tempo, ficou decidido que este seria o nome do disco. A idéia foi abandonada pela recusa de John, George & Ringo de viajar ao Monte Everest para uma sessão de fotos para a capa. Só então se decidiu por ‘Abbey Road’ em homenagem ao estúdio que serviu a eles durante quase 10 anos.
- Uma semana após o lançamento na Inglaterra, Abbey Road já estava no primeiro lugar das paradas de sucessos e em vendagem. Era o nono LP consecutivo a pular direto para o ‘number 1’.
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Abbey Road permaneceu dezoito semanas em primeiro lugar em execução nas rádios e passaria trinta e seis semanas entre os álbuns mais tocados em solo inglês.
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Um milhão e novecentos mil exemplares foram encomendados antecipadamente à gravadora pelas lojas do Reino Unido, um verdadeiro recorde para a época.
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No final de novembro de 1969 (4 semanas após o lançamento) Abbey Road registrava 4 milhões de cópias vendidas em todo o mundo. Chegaria a 5 milhões em dezembro. O derradeiro álbum foi também o mais vendido da história dos Beatles.
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Na América, Abbey Road vendeu um milhão de cópias na primeira semana de lançamento (outubro/69) e ganhou um Grammy – não como ‘melhor álbum’ ou ‘melhor canção’. Venceu como ‘Melhor Engenharia de Gravação Não-Clássica’. Bairristas, os americanos não premiaram as canções dos Beatles, mas os engenheiros de som Geoff Emerick e Phillip McDonald.
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No Brasil, Abbey Road entraria para a história como o disco mais vendido dos Beatles nos anos 60. Considerando nossa eterna desigualdade sócio-econômica e o preço (caro) de um disco, o LP vendeu 260 mil cópias em solo nacional.
– Outra curiosidade que liga o Brasil a Abbey Road é a primeira edição nacional do álbum. Nosso país foi o único no mundo a comercializar uma versão em mono (na realidade falso mono montado a partir do mix estéreo). Um exemplar do LP Abbey Road (mono) nacional custa caro no mercado de ‘memorabilia’, algo em torno de 3 mil reais em sites como a www.tracks.co.uk.
- A versão mono de Abbey Road tem outras curiosidades. ‘A junção dos dois canais não ficou muito bem feita’, escreveu Leonardo Conde em sua análise da discografia brasileira dos Beatles para o Portal. Ele informa que em “You Never Give me Your Money” tem trechos nos quais o vocal de Paul quase some. Na versão em mono a faixa “Her Majesty” não consta no setlist da contracapa e do selo.
Como era praxe no tempo dos LPs capa sanduíche do final dos anos 60, Abbey Road chegou às lojas do Brasil em duas versões. A ‘estereofônica’ (com tarja na capa exibindo esse nome) custava mais caro e apresentava estéreo verdadeiro. No selo do lado dois do LP constava o nome de “Her Majesty” no setlist. Nas edições posteriores não. Coisas da Odeon (EMI) brasileira.
O fato de as primeiras prensagens do Abbey Road brasileiro não fazerem menção a “Her Majesty” gerou polêmica por anos entre os fãs numa era em que não existia internet nem a velocidade de difusão das informações de hoje. Para muitos, a vinheta de 23 segundos no final do LP era a faixa “The End”. O ‘defeito’ seria definitivamente reparado com o lançamento dos CDs em 1987.
Até 1980, Abbey Road vendera dez milhões de unidades em todo o mundo, o que o tornou um dos mais bem sucedidos álbuns comerciais de todos os tempos.
George Harrison reclamaria, anos mais tarde, que o pior momento das sessões de Abbey Road foi a finalização de “Maxwell’s Silver Hammer”. “Perdemos tanto tempo naquilo, quando podíamos ter tentado outras canções melhores”, desabafou durante uma entrevista nos EUA em 1974. Ringo Starr não deixaria por menos. Perguntado certa vez qual foi o pior momento ao lado dos Beatles, respondeu: ‘sem dúvida, gravar “Maxwell’s Silver Hammer”. Aquilo não acabava mais, tive que marcar o tempo na coxa durante uma das etapas’, disse ele. Paul insistiu nessa canção porque acreditava que seria um hit, o que não aconteceu.
– Ao contrário do acontecido com o LP, o single extraído de Abbey Road não foi muito bem. Apesar dos ‘dois lados A’ (“Something”/”Come Together”) o disquinho começou mal nas paradas britânicas (décimo sétimo lugar – mesma posição do single de estréia da banda com Love me Do/PS. I Love You). E não subiria muito. Duas semanas mais tarde cravou sua mais alta posição, quinto lugar. E daí não passou. ‘”Something”/”Come Together”‘ foi o terceiro single dos Beatles a não chegar ao número um.
- No quesito vendagem o ‘single’ com ‘”Something”/”Come Together”‘ foi bem. Em um mês de aferição da gravadora, as vendas mundiais eram de dois milhões e meio de cópias.
“Something” se tornaria a segunda música mais regravada de todos os tempos. Perde somente para outro clássico dos Beatles, Yesterday.
Uma das gafes mais monumentais da história envolve a composição de George Harrison. Frank Sinatra passou a cantar “Something” em shows a partir do final dos anos 60. Ele dizia: “essa é uma das maiores canções de amor do século 20 – de Lennon-McCartney”. George reclamou em público, até Sinatra se retratar.
George Martin escreveu numa nota do disco LOVE que “Come Together” é sua música favorita da carreira dos Beatles.
– Iain Mcmillan chamou a polícia para retirar o fusquinha estacionado de forma irregular (duas rodas sobre a calçada) vizinho ao prédio dos estúdios Abbey Road. Ele achava que o carro estava atrapalhando seu trabalho e chamou o policial que ‘segurava’ o trânsito para que a foto fosse feita. O agente da lei concordou que o carro estava ilegalmente estacionado. Tentou localizar o proprietário. Em vão. Recorreu ao guincho da polícia para rebocar o carro, mas foi informado via rádio que o único disponível estava muito distante dali. A solução foi fazer a foto com o fusca em cena, fazendo parte do quadro.
- O homem de pé na calçada, à direita, é Paul Cole, um turista dos EUA que só se deu conta que estava sendo fotografado quando viu a capa do álbum meses depois.
Em 1986 a famosa casa de leilões Sotheby’s vendeu o fusquinha (que ainda funcionava) para um colecionador não identificado. Depois se soube que o ‘lance’ dele foi dado em nome da Montadora Volkswagen! O carrinho se encontra desde então no museu da Volks em Wolfsburg, Alemanha.
Paul is Dead History
WKNR-FM
Com Abbey Road ‘detonado’ nas paradas de sucessos e em vendagem, o radialista Russ Gibbs da rádio FM WKNR de Detroit (EUA) contou uma história que arrepiou os ouvintes. Disse que Paul McCartney estava morto. Recorrendo inclusive a efeitos sonoros como sirenes, freios e ruídos de colisões de carros, Gibbs informou que Paul sofrera um terrível acidente automobilístico entre os dias 9 e 10 de novembro de 1966 quando dirigia seu Aston Martin pelas ruas de Londres. Na ocasião o beatle teria sido decapitado. Segundo Gibbs, o empresário Brian Epstein combinou com os outros três que substituiria McCartney por um sósia. A história, apesar de inverossímil mexeu com o público.
Enquanto tocava o LP Abbey Road por inteiro em seu programa, Gibbs passou a enumerar as múltiplas ‘pistas’ contidas nas capas (e canções) dos discos dos Beatles, avisando da morte de Paul. Segundo a história dele, a capa do novo álbum era reveladora, porque cada beatle – na travessia da zebra – estaria vestido com costumes ligados ao falecimento. George, por exemplo, representaria um coveiro. A placa do fusquinha ostentando a inscrição, ’28 IF’ (na verdade a placa correta era LMW 281F, ou seja, onde parece estar escrito ‘IF’, o ‘i’ na realidade é o numeral ‘1’), seria a informação subliminar da idade que Paul McCartney teria se vivo estivesse. O trecho da letra de A Day in the Life, do álbum Sgt. Peppers (ele explodiu a cabeça dentro de um carro) também era apontado como ‘evidência’ do trágico fim de Paul.
Fred LaBour, que escrevia para um jornal de Detroit, ampliou a lorota no dia seguinte, ao publicar que a travessia da zebra mostrava os Beatles (e o sósia de Paul) deixando um cemitério. Foi também ele que apontou ‘indícios’ da morte de McCartney na capa do LP Sgt. Peppers, anunciando que um contrabaixo de flores e a imagem entristecida dos Beatles em cera representavam tão somente o funeral e o túmulo do baixista.
No dia seguinte Russ Gibbs voltou ao tema em seu programa, alertando os ouvintes para observarem mais atentamente a capa de Abbey Road. O Paul ‘impostor’ que lá aparecia estava com um cigarro na mão direita, enquanto o Paul ‘verdadeiro’ era canhoto. Durante semanas o boato rendeu audiência (e sensacionalismo) para o programa de Russ Gibbs, até que Paul McCartney acabou com a festa numa longa reportagem da revista Life na qual desfazia todos os boatos. A publicação entrevistou também o fotógrafo Iain Mcmillan para que ele esclarecesse os critérios utilizados para fazer os cliques. Mcmillan revelou, entre outras coisas, que recebeu um rude croqui das mãos de Paul McCartney com a idéia para a capa do derradeiro álbum dos Beatles.
CLAUDIO TERAN