O COMEÇO DA HISTÓRIA
O que eu vivi nesse último fim de semana em Porto Alegre é algo difícil de descrever tamanho tumulto de emoções. Mas, minha missão é colocar no papel o que vi, ouvi e senti. Então, me acompanhe.
Sir Paul McCartney está de volta ao Brasil para mais uma série de shows. Três apresentações nessa terceira vez em nosso País. O show de Porto Alegre, no último domingo, dia 7, abriu a temporada brasileira da Up And Coming Tour. Ainda teremos a etapa paulista que acontece nos dias 21 e 22 de novembro. Estarei também nos shows de São Paulo, assim como estive em todas as outras apresentações do ex-beatle no Brasil. Exagero, deve pensar o leitor. Nada disso. Cada show que assisti foi emocionante e diferente.
O show em Porto Alegre teve ingredientes complemente novos. Aliás, tudo estava diferente na capital gaucha. Começando pelo clima na cidade que antecedeu ao show. Hotéis lotados, aeroporto formigando, taxistas sorrindo, restaurantes cheios de gente de fora. A passagem de um artista tão respeitado e consagrado como Paul McCartney leva milhares de fãs ao show e deixa milhões de reais no comércio local. É como o Rei Midas, do rock.
ENCONTREI OS MUSICOS
Na sexta-feira, logo que cheguei (já recuperado do susto quando um pássaro entrou na turbina do avião que me traria para esse fim de semana mágico) larguei a bagagem no hotel e fui em busca da credencial que me daria livre acesso ao local do show. No meio do caminho resolvi parar para almoçar. Pedi ao motorista do taxi que me deixasse numa área de restaurantes. Parei na Rua Padre Chagas, que os gaúchos chamam de Calçada da Fama – algo como o nosso Triângulo das Bermudas, na Praia do Canto. Entrei no primeiro restaurante à minha frente e …. dei de cara com Paul “Wix” Winckes e Abe Laboriel Jr.
Paul é o tecladista e Laboriel o baterista da atual banda de Paul McCartney. Meu Deus! Isso é mais que sorte. Sentei, fiz meu pedido e levei a mão à mochila em busca da máquina fotográfica. Outro susto no mesmo dia: a máquina fotográfica ficou no hotel. Mas como eu pude dar uma bobeira dessas? OK. Não vou perder a chance do contato. Levantei e fui até os sortudos músicos, pois, como sabemos, não é qualquer um que tem a honra e o prazer de tocar ao lado de Paul. Mas um músico precisa muito mais que sorte para subir ao palco ao lado do ex-beatle. McCartney é conhecido como um do melhores instrumentistas de sua geração, portanto carrega também a fama de ter um talento especial para convocar instrumentistas extremamente competentes.
A conversa com eles foi maravilhosa. Tive a oportunidade de falar com o baterista Abe Laboriel Jr sobre seu pai. Ele é filho de Abraham Laboriel, um lendário baixista que já foi apontado pela importante revista Guitar Player como o mais versátil do mundo. Já gravou com centenas de consagrados nomes como, por exemplo, Elton John, Miles Davis, Stanley Jordan, George Benson, Stan Getz, Ray Charles e Michael Jackson. Além dos brasileiros Djavan, João Gilberto, Gilberto Gil e até mesmo com o capixaba Roberto Carlos. Quando, no restaurante, falei disso, Laboriel, o filho, abriu um largo sorriso. E, quando brinquei dizendo que agora ele tocava com um baixista não tão bom quanto o papai Laboriel ele, imediatamente, disse: “Paul é o melhor baixista do mundo e o melhor cantor eu já ouvi”. Então nos despedimos e os dois competentes e sortudos músicos saíram andando pela calçada de fama.
O SOM
Já final de sexta e início da madrugada de sábado aceitei o convite para ir até o Estádio Beira-Rio ver de perto a montagem dos equipamentos. Sir McCartney não havia chegado à cidade, mas seus técnicos já trabalhavam na montagem da estrutura do espetáculo há quase uma semana e os músicos da banda que o acompanha já estavam no Brasil há cinco dias.
Fui com Sergio Nigro e Miguel Lourtie da empresa Meyer Sound, que é uma líder mundial na fabricação de caixas de som. Parece simples e pobre dizer “caixas de som”. Na verdade trata-se de uma empresa que revolucionou o show bizz com inovações na área de projeção de som. A Meyer Sound é a fornecedora preferida entre as empresas de sonorização dos quatro cantos do planeta. E existe um cuidado muito especial quando o cliente é Paul McCartney. A prova disso é a presença no Brasil do português Miguel Lourtie, responsável técnico dessa empresa americana. Ele veio exclusivamente da Europa para dar suporte técnico a Gabi Som, empresa brasileira responsável pela montagem e locação dos equipamentos utilizados na etapa nacional da Up And Coming Tour.
O PALCO
A imagem que vi parecia loucura. Era madrugada, as arquibancadas do estádio estavam vazias, mas o gramado parecia um formigueiro humano. Quase dois mil profissionais andavam para cima e para baixo acertando os últimos detalhes do som e da luz. O gigantesco palco já estava totalmente erguido. Ao fundo uma enorme parede de leeds, micro lâmpadas que criam um painel com centenas de possibilidades de efeitos e cenografias.
Então, não resisti. Subi ao palco. Ainda não tinha nenhum instrumento. Palco limpo, totalmente limpo. Fui até o centro onde já tinha um “x” de fita crepe marcando o exato local onde seria ocupado por Paul McCartney. Olhei para frente e vi o Beira-Rio com as arquibancadas vazias e com o gramado coberto por um enorme tapete plástico de proteção. E fiquei imaginando a emoção que deve sentir Paul McCartney ao se apresentar para uma apaixonada platéia de 50 mil pessoas. Neste momento, a maior emoção foi minha.
O SGT PEPPER´S
Saí do estádio e, antes de voltar para o hotel, dei uma passada no Sgt. Peppers Lonely Hearts Club, um famoso restaurante com música o vivo que fica na Rua Dona Laura no bairro Moinhos de Vento. O local funciona há 20 anos e se transformou num emblemático ponto de encontro dos beatlemaníacos gaúchos. Lá encontrei Alexandre Vieira, um dos proprietários, que também é músico e, de quando em vez, sai detrás do balcão para se apresentar ao lado da banda Corações Solitários. Alexandre confirmou que a cidade estava lotada de turistas de todo o Brasil e que o comercio local estava bem aquecido. Mas o que senti mesmo foi muito frio nos poucos quarteirões que andei entre o Sgt. Peppers e o hotel em que fiquei hospedado.
ELE CHEGOU
Sol e céu azul na manhã de um sábado perfeito. Pela cidade, inúmeras pessoas andando pelas ruas com camisetas dos Beatles e, principalmente, com o rosto de Paul McCartney. Uma clara declaração de amor ao ex-beatle pela escolha da cidade.
Voltei à Calçada da Fama para almoçar e não é que aconteceu de novo. Ao sair do restaurante dei de cara com Brian Ray e Rusty Anderson, os guitarristas da banda de Paul McCartney. A dupla vinha subindo a rua carregando sacolas de supermercado. Eu, dessa vez, estava com a máquina fotográfica e registrei o inusitado encontro. Em que cidade do mundo eu poderia ter a sorte de encontrar todos os músicos que formam a banda de um ex-beatle, e na mesma rua? Na sexta-feira o baterista Abe Laboriel Jr. e tecladista Paul Wickens. E no sábado os guitarristas Brian Ray e Rusty Anderson.
No meio da tarde, a informação: McCartney desembarcou em Porto Alegre no final da manhã, e não chegou sozinho. Trouxe a filha mais velha. Mary Anna McCartney, de 42 anos, que segue os passos da mãe Linda. É fotografa e acaba de lançar um livro. A presença de Mary no Brasil é mais uma prova que Paul tenta fazer de suas longas e demoradas turnês algo agradável e familiar.
PASSAGEM DE SOM
Exatamente às oito e meia da noite de sábado, quando estava jogado na cama do hotel, recebi um torpedo com a seguinte mensagem: “foram passar o som”. Quem me enviou essa preciosa informação foi o Lucio Brancato, jornalista da RBS e um dos responsáveis pela coordenação da cobertura da emissora de televisão gaúcha. Lucio passou o tempo todo na cola de Paul McCartney, tanto que estava praticamente morando no hotel onde o musico se hospedou.
Então pulei da cama e corri para o Beira-Rio. No estádio passei por diversas barreiras e cheguei ao lado do palco onde fiquei, desligado, prestando atenção nas músicas. Uma aula de profissionalismo. Por dezenas de vezes acompanhei shows de grandes artistas e não me lembro de ter visto um astro da grandeza de Paul McCartney se preocupando em passar o som, de fazer pessoalmente acertos técnicos.
Tudo parecia um sonho até que uma gigantesca mão tocou no meu ombro e uma voz poderosa perguntou se eu tinha autorização para estar ali. Diante da minha negativa o segurança me encaminhou até a saída mais próxima. No caminho passei pelos carros blindados que transportavam o ex-beatle pelas ruas de Porto Alegre e pelos 12 batedores da Polícia Militar, e suas motocicletas, responsáveis por abrir o trânsito para o ilustre convidado.
No dia seguinte fui informado por Paul Boothroy, que o engenheiro de som McCartney há mais de 20 anos, que o sound check (passagem do som) durou mais de duas horas. E disse mais: “o chefe ainda veio até a house mix – local onde ficam os técnicos e equipamentos em frente ao palco – para acertar a luz. Ele colou uma pessoa lá em frente ao microfone e fez acertos na iluminação”. O detalhista Paul McCartney assina também a direção de cena de seus espetáculos.
MESA REDONDA
Mas a noite não acabou após a minha retirada no meio da passagem de som. Quando o relógio bateu meia noite já estava participando de uma mesa redonda na Radio Gaucha. Na verdade se tratava de uma espécie de “vigília cultural” antes do show de McCartney. Éramos cinco, sob o comando de Roberta Pinto e Luciano Costa, falando de Beatles e suas influências. Uma conversa dinâmica que teve até a participação, ao telefone e direto de São Paulo, de Amanda Apple, atualmente conhecida como a jornalista das flores da TV Globo. Amanda, que é gaucha, mora e trabalha na capital paulista. Aos oito anos de idade resolveu trocar seu sobrenome para Apple em homenagem aos Beatles (Apple é o nome da gravadora fundada por eles). E, durante muitos anos, ela manteve um programa de rádios sobre os Beatles em emissoras do Rio Grande do Sul.
E foi na Rádio Gaucha, de onde sai às 4:00 da manhã de domingo, que ficamos sabendo: Paul McCartney fora convidado para jantar na casa dos proprietários da Rede RBS, mas preferiu, depois da passagem de som, ir direto para o hotel. Os convidados, entre eles o apresentador Luciano Huck, esperaram em vão pela presença do convidado principal da noite.
O DIA DO SHOW
Domingo de muito sol e céu azul na capital gaucha. Às 13:30 horas pisei no gramado do estádio Beira-Rio. Queria me preparar para assistir ao show de Paul McCartney. Fui direto para a central de controle (house mix), que é a ilha de equipamento em frente ao palco. Fiquei lá, na sombra, até o horário da passagem de som. Isso mesmo. Paul McCartney marcou novo sound check para 16:00 horas. Na verdade é quase um compromisso comercial. O fã interessado em assistir teve que desembolsar R$ 1.500,00 para ter o privilégio de assistir tudo de perto. No horário combinado, Sir Paul McCartney entrou no palco. Calça branca, camisa jeans azul clara, tênis branco e de óculos escuros.
Debaixo de um forte calor Paul McCartney cantou, tocou piano, baixo, violão, acenou para os fãs bem afortunados, falou algumas palavras em português, e até puxou “parabéns pra você” para uma menina que carregava uma faixa dizendo ser o dia de seu aniversário. A passagem de som durou uma hora e meia. Paul se despediu da pequena platéia (cerca de mil pessoas), saiu de cena e os portões do estádio foram abertos.
Estavam presentes nesse momento do sound check dois grandes amantes da música e da história dos Beatles: o pesquisador e produtor Marcelo Fróes e Ricardo Martinelli, que é músico e grande colaborar do Portal Beatles Brasil.
ENCONTREI BEATLEMANÍACOS
Impressionante como tivemos a presença em Porto Alegre de Beatlemaníacos do Brasil todo. Como disse, encontrei na passagem de som com Marcelo Fróes e Ricardo Martinelli. Também, já no conforto da sala de imprensa, falei por alguns minutos com Marco Antonio Mallagoli. Mas conheci muita gente interessante, anônimos e com histórias surpreendentes. Por exemplo: uma figuraça de Pernambuco (que tem um nome difícil de lembrar) vendeu um moto de estimação para ir assistir Paul McCartney em Liverpool. Uma pessoa tão determinada assim não faltaria ao show de McCartney em Porto Alegre, certo?
Na verdade o meu grande prazer nessa viagem foi poder, finalmente, conhecer o JC (José Carlos Almeida), que é um dos sócios do Portal Beatles Brasil. JC é um baiano arretado, inteligente, determinado e batalhador. Nós, admiradores do legado dos Beatles, devemos muito a dupla JC e Zé Lennon pelo magnífico trabalho que executam. Um frustração: não conheci Zé Lennon na terra dele (e olha que tentei). Uma surpresa: na saída do hotel, na hora de pagar a conta, conheci Igor Karashima, de Brasilia, músico da banda Let It Beatles.
[Nota do JC: aquela figuraça de Pernambuco chama-se Sóstenes. Depois do show, comemoramos no quarto dele, tomando algumas cervejas. Realmente um grande prêmio ter conhecido esse cara!]
CONVIDADOS VIPS
Os organizadores anunciaram que 50 mil pessoas estavam sendo esperadas. E, logo que os portões foram abertos, aconteceu a tradicional correria pelo melhor lugar em frente ao palco. Quase todos usando camiseta preta com o rosto de McCartney estampado no peito. Era possível sentir a expectativa no ar. Como também, mais uma vez, percebi que o publico de Paul é formado por admiradores de todas as idades. Inclusive não é exagero dizer que ele é um dos poucos artistas com capacidade de juntar todas as gerações da mesma família. É fácil localizar na platéia avô, filho e neto juntos.
Na área vip era possível localizar fãs famosos e de todas as idades. Por lá estavam as cantoras Marina Lima e Fernanda Takai, o tenista Guga, a colunista social Joyce Pascowitch , a dupla Kleiton e Kledir, o comentarista global Roberto Falcão e Dodi Sirena, empresário de Roberto Carlos e responsável pela presença de Paul McCartney em Porto Alegre.
SHOW DE ABERTURA
Conversei com Kledir sobre a ausência, dele e do irmão, no show de abertura de Paul McCartney. O cantor e compositor gaúcho disse que a produção brasileira acabou não conseguiu acertar todos os detalhes necessários para um show de abertura que, logicamente, precisaria de um esquema para entrada e saída de outros equipamentos de palco: baixo, guitarra, bateria, teclado e seus devidos amplificadores. Inicialmente a produção local anunciou Kleiton e Kledir e Borgetinho como sendo as atrações de abertura. Na verdade tivemos o DJ Pic Schmitz que se apresentou ao lado do saxofonista Dublê Vinicius Neto e do guitarrista Fred Mentz, que passaram quase despercebidos de boa arte do público que esperava Paul McCartney.
O ESPETÁCULO
Com 10 minutos de atraso McCartney pisou no palco. O estádio entrou em delírio. Paul respondeu com acenos. E, em português, soltou um “Boa noite Porto Alegre. Boa noite Brasil” e começou o show com as canções “Venus And Mars/Rockshow” e “Jet”, do período Wings, e “All My Loving”, clássico dos Beatles. E, clássico, musica de sucesso que todo mundo canta junto, foi o que não faltou.
Logo em seguida voltou a se comunicar com a platéia em português: “Obrigado gaúchos. Essa noite vou tentar falar português… mas vou falar mais inglês”. E, debaixo de aplausos e gritos, atacou com “Drive My Car”, outra dos tempos dos Beatles.
Um ingrediente importante no espetáculo foi sentido logo nas primeiras músicas. Estou me referindo aos telões, as projeções. Nas laterais era possível acompanhar com riquezas de detalhes o que acontecia no palco. E, no fundo, atrás dos músicos, uma enorme parede de leeds projetando filmes e efeitos completava o impacto visual do show.
A iluminação era perfeita e surpreendente. Por várias vezes, os refletores colocados no teto do palco, desciam e subiam formando desenhos, completando as imagens projetadas e mudando a atmosfera das músicas. O som também funcionou como relógio suíço. Alto, forte e extremamente bem definido. Microfonia, nem pensar. E olha que aconteceram dezenas de trocas de instrumentos durante o show.
Logo depois da sexta música Paul McCartney tirou o casaco, ficando de camisa branca e suspensório preto. Foi a senha para começar uma nova seqüência musical. Mesclou canções não tão conhecidas do público (como “Highway”, “Mrs Vanderbilt” e “1985”) com clássicos do tempo do Wings, grupo que formou assim que os Beatles acabaram.
Paul também mostrou a sua reconhecida versatilidade como instrumentista. Tocou seu inseparável contrabaixo Hofner, duas guitarras diferentes, bandolim, dois pianos e um ukelele (instrumento tradicional do Havaí). Mas o que impressiona é a forma que o ex-beatle encontra para renovar as canções. Muito também pela qualidade dos músicos que dividem o palco com ele. Com energia, sutis modificações nos arranjos e interpretações vigorosas do quinteto conseguem dar vida nova para músicas como “The Long And Winding Road”, “I’ve Just Seen A Face”, “Dance Tonight”, “Back In The USSR”, “I’ve Got a Feelling”, “Paperback Writer”, “A Day In The Life”, entre tantas outras.
E os momentos especiais continuaram. Paul, em português, diz: “Escrevi essa música para a minha gatinha Linda. Mas essa noite também é para todos os namorados”. E toca “My Love”. O publico entra em êxtase. O conhecido solo dessa bela canção romântica dos anos 70 executado com maestria pelo guitarrista Rusty Anderson recebe um caloroso aplauso. Outro ponto alto vem com “And I Love Her”. O baterista Abe Laboriel Jr assume o bongo enquanto o tecladista Paul Wickens marca o tempo da canção com uma clave. Paul McCartney e Rusty Anderson tocam violões. Paul, no final e debaixo de aplauso, solta um “Mas bah tchê!”. A gauchada quase morre do coração!
Paul, na canção “Blackbird”, fica sozinho em cena. Ele e seu violão. Ao fundo é projetado o desenho de uma enorme árvore. No final da música um pássaro passa voando. Em outro momento, antes de tocar “Here Today”, McCartney fala em português: “Essa eu fiz para o meu amigo John”. E mais. Na primeira parte de Here Today uma enorme lua desce do teto do palco para suspiro de todos. E na segunda metade da canção um globo terrestre gigantesco aparece lentamente. Um show para todos os sentidos.
Antes de começar a cantar Eleanor Rigby Paul fala, em português, outra gíria tipicamente sulista: “Tri legal”. Foi aplaudidíssimo. Mas um dos momentos mais emocionantes aconteceu quando, também em português, McCartney disse: “Essa próxima música é para o meu amigo George”. Ele então apresentou Something utilizando unicamente como acompanhamento o ukalele. No telão do fundo do palco foram exibidas fotos de Harrison e McCartney juntos em diversas fases da vida.
Uma curiosidade. Em certo instante, Paul McCartney interrompe o show e começa a ler um cartaz que estava sendo insistentemente erguido por duas meninas da platéia. ”Por favor, autografe meu braço para que eu possa tatuá-lo”, dizia o cartaz. Paul chamou as duas ao palco e, antes de assinar, perguntou o nome das meninas e de onde elas vinham. “Sou Eliza de Porto Alegre”, disse a primeira. “Sou Ana de Florianópolis”, disse a outra. Foi quando McCartney completou, em inglês: “E eu sou Paul, de Liverpool”
E tem mais. Também os clássicos “Band On The Run” e “Live And Let Die” tiveram destaque durante o show. Na execução de Band On The Run, música que dá nome ao disco e que acaba de completar 40 anos, os telões mostraram a conhecida foto da capa onde vários artistas importantes aparecem debaixo de um foco de luz dando a nítida impressão que estão fugindo da polícia. Só que a foto ganha vida. Acontece uma fusão com as imagens do making of da sessão de fotos que gerou a capa. E as tradicionais explosões em Live And Let Die (tema de um dos filmes da série 007) nesse show foram muito mais coloridas e festivas.
Mas ainda tinha sucessos por vir. Antes do bis ele tocou “Day Tripper”, “Lady Madonna” e “Get Back”. E, na volta para o bis final, ainda arriscou, em português, um: “Ah! Eu sou gaucho!”. E, chegando ao fim, todo o estádio cantou “Hey Jude”, “Yesterday” e dançou ao som de “Helter Skekter” e “Sgt Pepper’s”. A última música do show foi “The End”. A 35ª música de um repertório inesquecível.
Depois de quase três horas apagaram as luzes e o show acabou. Dessa forma, Paul McCartney encerrou sua passagem por Porto Alegre. Seguiu para Bueno Aires onde fará dois shows no estádio do River Plate. Depois, nos dias 20 e 21 de novembro, no Morumbi, acontecerão os dois últimos shows dessa temporada brasileira. Estarei em São Paulo para ver tudo isso de novo. Só espero que nenhum outro pássaro resolva entrar na turbina do avião que vai me levar de volta para casa.
Comente