Em uma nova entrevista para o site RollingStone.com, Paul McCartney falou sobre sua atual turnê, OUT THERE, que teve início no Brasil em maio deste ano.
Aos 71 anos, o eterno beatle realiza shows de quase três horas de duração que abrange o repertório dos Beatles, do Wings e de sua carreira solo, encantando multidões por onde passa.
“É muito emocionante”, diz McCartney. “A plateia fica enlouquecida, e a idade do público é uma loucura, também – Há tantos jovens ali, curtindo. Metade deles sabem as letras melhor que eu!”, afirma o músico.
Um dia após realizar um show em Seattle, com participação de ex-membros do Nirvana, Macca seguiu até Los Angeles para dar os toques finais em seu novo álbum de estúdio. Em conversa com a Rolling Stone, Sir Paul falou sobre a turnê, sobre compor com John Lennon e por que gosta tanto de tocar ao vivo.
Leia a tradução da entrevista de Paul McCartney a Simon Vosick-Levinson.
Você tem se divertido muito nesta turnê?
Sim, é muito divertido. Temos uma banda muito boa. Estamos muito felizes com o show porque nos aperfeiçoamos ao longo dos anos com o que nós gostamos de tocar e o que achamos que o público gosta de ouvir. Há algumas coisas que a plateia ainda não conhece – não muitas, devo admitir, mas algumas. Assim, o show parece fluir por si só agora. Fico constantemente espantado com isso, na verdade. Chego lá, faço as coisas de abertura, e de repente estou mudando para a guitarra elétrica e penso “Oh, isso é bom” – você sabe, eu sempre gosto de tocar guitarra. Então, troco de guitarra para “Paperback Writer”, e penso “Isso é bom. Adoro esta Epiphone Casino”. [N.E.: Para essa música, McCartney toca a mesma guitarra ouvida na gravação original de 1966] Então, quando poderia ficar chato, eu passo para o piano e penso “Oh, isso é legal!”. Troco bastante de instrumentos, o que mantém (o show) agradável e revigorante para mim.
Você adicionou algumas novas canções dos Beatles ao repertório – “Lovely Rita”, “Being for the Benefit of Mr. Kite!” e “All Together Now”. Como é tocá-las ao vivo pela primeira vez?
Isso é um desafio. Quer dizer, algo como ” Being for the Benefit of Mr. Kite!” é difícil de fazer. Pergunte a um baixista que canta. É contrapontística, cara! Realmente é. Tenho que cantar uma melodia que vai a um lugar, e então tenho que tocar essa linha de contrabaixo que vai para outros lugares. É uma coisa de concentração. Mas isso é metade da diversão do show. Ainda estou praticando, ainda tentando descobrir, especialmente sobre os novos números. É tipo “Como fazer essa de novo?”.
O que te fez querer revisitar essas canções, em particular?
Bem, por exemplo, “Mr. Kite” é uma loucura, uma canção excêntrica que pensei que refrescaria o repertório. Além do fato de que eu nunca a tinha tocado [ao vivo]. Nenhum de nós dos Beatles tocou essa música [em shows]. E eu tenho ótimas lembranças de escrevê-la com John. Eu leio, às vezes, as pessoas dizendo “Oh, John escreveu esta”. Eu digo: “Espere um minuto, o que foi aquela tarde que passei com ele, então, olhando para esse pôster?”. Aconteceu de ele ter um cartaz em sua sala de estar. Eu estava na casa dele, e simplesmente tivemos essa ideia, porque o cartaz dizia “Being for the Benefit of Mr. Kite” (Sendo em Benefício do Sr. Kite) – e, então, colocamos, você sabe, ” there will be a show tonight” (haverá um show esta noite), e depois seria “of course” (é claro), então veio “Henry the Horse dances the waltz” (Henry, o cavalo, dança a valsa). Você sabe, o que quer que seja. “The Hendersons, Pablo Fanques, somersets…” (Os Hendersons, Pablo Fanques, números de saltos). Nós dissemos “O que era ‘somersets’? Deve ser uma maneira antiga de dizer saltos mortais”. A canção foi escrita por si só. Então, sim, fiquei feliz por meio que recuperá-la como parcialmente minha. Mas como eu disse, você tem que olhar o que está fazendo quando toca essa.
Você sente como se estivesse fechando um ciclo quando canta essas músicas na frente dessas multidões, depois de todos esses anos?
Sabe, é mais uma questão de prazer por finalmente tocá-las. Tocamos quando as gravamos – por exemplo, “Mr. Kite”, quando a gravamos, nós estabelecemos a faixa como um conjunto, e então eu coloquei o baixo em seguida, como eu sempre fazia naqueles dias. Então, isso me deu a oportunidade de realmente pensar sobre a linha de contrabaixo e torná-la melódica. Mas, é claro, se eu tivesse pensado algo como “Amanhã você terá que tocar isso ao vivo”, não acho que eu teria feito isso tão complicado! “Day Tripper” foi outra. Eu pensei: “Não consigo fazer isso”. É como acariciar sua cabeça e esfregar a barriga ao mesmo tempo. Não é tão fácil de fazer. Você tem que praticar isso. Fiz um milhão de bobagens no ensaio. Então, finalmente, eu pensei “OK, espere um minuto, eu vou fazer isso…”. E trabalhei como eu iria fazer. Por isso é ótimo para mim, revendo o passado, e pensar “Isso é legal”. Ainda é atual. A combinação de tudo isso é o que torna uma alegria de fazer.
Há outras músicas dos Beatles que você nunca tocou ao vivo que gostaria de tocar algum dia?
Sim, eu acho que há. O que eu faço é, em cada turnê ou em cada concerto que vamos fazer, eu volto para o catálogo e penso “Espere um minuto, nós poderíamos tocar essa”, e há algumas preciosidades escondidas. Eu realmente não decidi quais são as que ainda tocaremos, mas sei que tem muita coisa lá. É como um pequeno tesouro, sabe? É realmente uma sensação muito legal, porque, ao tocar as músicas, tenho muita consciência do período em que as gravamos – dos 10 anos em que os Beatles estiveram juntos – foi um período particularmente rico para a arte, de qualquer maneira, e para nós. Nós simplesmente não parávamos de disparar! Você pode pensar em músicas como ” Why Don’t We Do It In The Road ” – você pensa “Sabe, essa poderia funcionar ao vivo”. E então eu posso pensar em coisas do Wings. As pessoas continuam pedindo “Uncle Albert”. Seria ótimo tocá-la, mas é um pequeno desafio para aprender, porque esta não é uma de 12 compassos. Mas, uma vez que você pega, e depois faz direito, parece como uma de 12 compassos. Esse é o truque [risos].
Você tocou em estádios com os Beatles nos anos 60, obviamente. Você diria que tocar em estádios hoje em dia é muito diferente?
Oh, sim, muito diferente. Diria que é divertidamente diferente. Acho que o primeiro grande show em estádio que alguém já fez foi o Shea Stadium [em 1965], porque nós estávamos quentes o suficiente para ter o poder de encher um lugar como aquele, e nunca ninguém tinha ousado fazer isso com Rock & Roll antes. Mas quando você pensa que tocamos através do PA – que era o sistema (de som) do baseball, onde o cara tocava aquele pequeno órgão. Quero dizer, foi através disso que tocamos, e só tínhamos nossos pequenos amplificadores. Deus sabe como o público nos ouviu. Eu não acho que ouviram. Talvez por isso estavam gritando – para compensar a falta do barulho que estávamos fazendo. É engraçado quando você pensa sobre isso. No momento em que chegamos ao período do Wings Over America nos anos 70, tinha começado a ficar muito maior, e foi o nascimento da verdadeira arena de Rock & Roll. Então, podíamos realmente ouvir a nós mesmos, o público podia nos ouvir, e qualquer barulho que eles fizessem, nós poderíamos superar.
Você acha que se aposentará das performances ao vivo?
Eu não sei, cara. Não consigo imaginar ficar sem fazer isso. É o que eu faço, e é o que eu sempre fiz, e eu amo tanto. Claro, tem que ser algum tipo de limitação física. Mas eu não encontrei. Quer dizer, eu fiz aquele show na noite passada e estou pensando “Jesus, Deus, cara. Você sabe que não tem 25 anos”. Mas então, o outro lado da minha cabeça está pensando: “Sim, você tem! Vá em frente!”. Então, eu não encontrei a minha limitação física ainda. Se eu encontrar, então eu vou ter uma opinião sobre a questão. Até então, eu estou ignorando isso.
Link para a entrevista original em inglês:
Paul McCartney em Belo Horizonte na abertura da turnê OUT THERE
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