Marcelo Fróes*
Não existe dinheiro que pague o prazer de conhecer um show de verdade. Uma vez é pouco, ainda mais quando você se emociona mesmo com o que está vendo. Tive a chance de ver da primeiríssima fila o show de Porto Alegre em 7 de novembro, mas já viajei para o Sul com passagem para Buenos Aires. Veria também os shows no estádio River Plate, nos dias 10 e 11. Tinha que ser, afinal as lembranças que eu tinha dos shows de 1990 (Rio) e de 1993 (São Paulo e Curitiba) eram de muita muvuca e pouco palco.
Porto Alegre foi inesquecível, com uma platéia tranqüila porém devota, num domingo de muito sol. Quase fritei a tarde inteira dentro do Beira Rio, onde assisti à passagem de som de quase 90 minutos que marcou a primeira performance de Paul McCartney na América do Sul em 17 anos. Primeira não, segunda, pois na noite de sábado ele tocara com sua banda sem quase ninguém presente no estádio. Aquela fora a real passagem de som, no domingo à tarde ele fez uma verdadeira matiné para a turma do pacote Hot Vip Sound. O show propriamente dito, à noite, foi uma catarse e tive a chance de fazer belas fotos em zoom.
Próxima parada: Buenos Aires. Eu já conhecia a capital argentina de outros carnavais e sabia como era simples – e barato – viajar para lá, então não bobeei quando tive chance de comprar ingressos e marcar passagem e hotel. Não me arrependo, pois é muito interessante ver um show como este em outras praias. A platéia portenha tem status europeu, e não por auto-convencimento, mas por cultura mesmo. Basta dizer que filas quilométricas para entrar no estádio foram formadas ao longo do estádio River Plate e das avenidas e ruas próximas, e todo mundo as respeitou. Tranqüilidade para entrar, para curtir os shows e para ir embora. Como aqui, aliás, mas sabemos das muvucas que rolaram nas portas do Beira Rio e também do Morumbi.
Os shows de Buenos Aires contaram com muitos hábitos diferenciados da platéia, e naturalmente de reações diferentes de Paul – que tem noções de espanhol e falou com um pouco mais de desenvoltura, sem ter que ler tanto a boa e velha “cola” que fica sempre anotada no chão do palco. A tradicional hola da turma da arquibancada rolava freneticamente antes dos shows, e o público sempre puxava cantorias que cativavam a atenção de Paul. Dois shows memoráveis, felizmente registrados num especial de TV e num DVD pirata integral que já circula entre os fãs e colecionadores.
Passados os shows de Buenos Aires, após uma semana fora de casa, nada como uma semaninha para deixar a ficha cair e poder se preparar psicologicamente para curtir mais dois shows de Sir Paul – desta vez em São Paulo, nos dias 21 e 22 de novembro. Com novo soundcheck na tarde de domingo, novamente antecedido por um ensaio fechado na noite do dia 20, o show do dia 21 foi televisionado pela TV Globo (melhores momentos, como sempre, nunca integral como prometem). O domingo foi de muito sol e calor, e de muita gente se aglomerando para ver Paul de perto na pista prime. Grudei na grade após a passagem de som, que foi bem curta – com meros 40 minutos, pois Paul atrasou-se na chegada ao estádio e toda hora olhava para o relógio, preocupado com o horário de abertura dos portões.
A segunda-feira, para manter a tradição dos shows de Paul no Brasil, foi de muita chuva. Chuva que tivemos no Rio em 1990 e que tivemos em Curitiba em 1993. Chuva que fez a produção cancelar o soundcheck daquela tarde, para o desespero dos 200 que aguardavam desde cedo. Chuva que me preocupava ainda mais, pois – novamente colado na grade – eu via que chovia no palco, e os roadies vestiam capas para cobrir os instrumentos. No início da noite, ainda chovia e pude ver a produção enxugando a bateria, os teclados e o piano Yamaha. Faltou pouco para que o concerto fosse adiado ou cancelado, mesmo com todos presentes, porque realmente chovia no palco. Mas, por um milagre, a chuva parou, o céu abriu e o último show aconteceu com toda tranqüilidade.
A emoção de ver Paul McCartney tem que ser reiterada, para que a memória fique bem registrada. Torçamos para que ele ainda volte por aqui, mas não custa planejar uma viagem turística à Europa ou à América quando a próxima turnê for anunciada. Vale realmente a pena.
*Marcelo Fróes viu os quatro shows que Paul McCartney realizou no Brasil em 1990 e 1993, e fez questão não só de ver as cinco apresentações agendadas para a América do Sul em 2010, como também os soundchecks.
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