SRZD – A nova biografia de Paul McCartney, intitulada “Uma vida”, escrita pelo jornalista americano Peter Ames Carlin e recém-lançada no Brasil, não teve colaboração do cantor. “Sua amável e paciente assistente passou os meus pedidos de entrevistas, mas sempre deixou claro o que eu já sabia: ele não queria falar sobre sua vida pessoal tão profundamente assim”, contou o autor do livro ao SRZD.
Apesar da decepção de ser rejeitado pelo ídolo, Peter garante que nunca sentiu raiva dele. Mas a situação piorou com o lançamento do livro. Paul McCartney declarou que não o leu, nem pensava lê-lo. “Ele disse, muito sabiamente, na minha opinião, que está ocupado demais vivendo a sua vida para ler sobre ela”, disse o escritor, que já escreveu uma biografia sobre os Beach Boys, e agora planeja uma sobre Bruce Springsteen.
Para escrever “Paul McCartney: uma vida”, Peter passou o período entre o fim de 2006 e o início de 2009 fazendo viagens e entrevistas, mas garante que a pesquisa começou muito antes, quando ele ainda estava na escola. “Eu lia e guardava todos os livros, revistas e jornais que mencionavam os Beatles ou o Paul. Quando comecei a trabalhar no livro, eu já tinha caixas cheias de material”, conta o jornalista, que deu uma entrevista exclusiva ao site.
SRZD – O mercado literário já está cheio de livros sobre Paul McCartney. Por que você quis escrever mais um?
PETER – “Uma vida” tem novas perspectivas e histórias até então desconhecidas, ou, pelo menos, muito pouco conhecidas sobre a vida e carreira de Paul. Acredito que o material sobre o papel do Paul na separação dos Beatles – e como a declaração “Eu deixei os Beatles” foi mal interpretada – define esse momento catalítico em uma nova luz, mais clara. Além disso, este é o primeiro livro que trata de sua carreira solo com o mesmo cuidado e respeito que o seu trabalho com os Beatles, o que eu acho que é totalmente apropriado. Se você estivesse escrevendo um romance sobre um cara como Paul, você ia querer começar a partir do fim dos Beatles. Como alguém poder construir uma nova vida e carreira à sombra daquele enorme legado? Ele construiu. Repetidamente.
SRZD – Você diz no livro que a ambição de Paul McCartney contribuiu para o fim dos Beatles. O assunto é polêmico.
PETER – Paul mantinha a banda junta e trabalhando, mesmo quando os outros não estavam dispostos a isso. Ele foi a ambição que os fez chegar ao topo. Mas ele também agravou isso, especialmente quando se tornou cada vez mais dominante e teimoso. O paradoxo aqui é que o mesmo impulso que fez os Beatles chegarem ao sucesso foi precisamente o responsável para que eles se separassem tão rapidamente.
SRZD – John fez muitas críticas contra Paul depois do fim do grupo. Segundo John, ele já tinha dito que queria deixar a banda quando Paul anunciou à imprensa que os Beatles estavam terminando e aproveitou para divulgar seu primeiro álbum solo. Afinal, como era a relação deles?
PETER – A parceria criativa deles foi tão complicada e apaixonada quanto um caso de amor dos mais ferozes. Quando a banda terminou, a sua ausência continuou a definir Paul, mesmo quando ele trabalhava tão duro para se recriar em oposição ao som “Lennon-McCartney”. Mas até hoje eu aposto que Paul compõe ouvindo a voz de John na sua mente. Se ele dá ouvidos a esta voz ou se rebela contra ela, isso varia, mas ela está ali.
SRZD – Parece que você levou bastante tempo para colher o material para o livro. Como foi esse processo?
PETER – Posso dizer que o meu trabalho se volta para quando eu era um garoto na escola: abocanhando todas as músicas dos Beatles e de Paul McCartney que eu podia, lendo e colecionando todos os livros, revistas e jornais que mencionavam a banda ou ele. Nunca parei de ouvir Paul e colecionar seus álbuns. Ao longo da minha carreira, escrevi sobre ele e os Beatles em vários veículos e contextos. Então, quando comecei a trabalhar no livro, eu já tinha caixas cheias de material. Mas o meu trabalho de pesquisa mais agressivo, com entrevistas, viagens e banco de dados, começou no fim de 2006 e se estendeu até o início de 2009.
SRZD – Você não entrevistou Paul para fazer o livro. Como é escrever uma biografia sobre alguém vivo sem ter falado com ela?
PETER – Sim, eu tentei falar com ele. Sua assistente pessoal, muito amável e paciente, passou as minhas mensagens para Paul, mas sempre deixou claro o que eu já sabia: que ele realmente não queria falar sobre a sua vida tão profundamente assim agora. Eu fiquei decepcionado, mas nunca com raiva. Isso não teve nenhum impacto nos meus sentimentos sobre o seu trabalho ou sobre ele como personagem, que eu considero surpreendentemente pé no chão, apesar de seus 50 anos como ícone vivo.
SRZD – E depois do livro ser lançado, você recebeu algum tipo de comentário do Paul? Ele gostou?
PETER – Ele falou ao David Bauder, da “Associated Press”, que não leu, observando, muito sabiamente, na minha opinião, que estava ocupado demais com a sua vida para ler sobre ela. Às vezes, eu me pergunto se ele não deu uma olhada, por curiosidade. Talvez sim, talvez não. Mas eu não posso deixar de pensar que ele ficaria muito chateado com o que encontraria nas páginas. Por toda a crítica que eu fiz ao seu trabalho, eu realmente tentei entender completamente o contexto do que estava acontecendo em sua vida e considerar suas motivações e conflitos. Como biógrafo, acho que é importante respeitar a humanidade de cada pessoa que aparece no livro.
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