Sábado, 21 de Maio de 2011.
A data me parecia familiar, amargamente familiar. Foi quando lembrei que foi exatamente a data da morte de um primo do qual era bem próximo, aos 14 anos, em 1994. Ele, que não teve a chance de conhecer os Beatles do mesmo jeito que eu. Mas 21 foi o dia em que chegamos no Rio. A frase “Estar no Rio foi maravilhoso desde o primeiro minuto em que pousamos” poderia muito bem ter saído desta boca, se não fosse pelo fato de ter vindo de ônibus.
O dia 21 foi marcado pela insegurança e expectativa em relação ao primeiro show de Paul no Rio, o segundo da minha vida (Estive no Morumbi em 21/11). Insegurança porque quem mora no interior do interior do Espírito Santo(orgulhosamente), tinha de retirar os ingressos na bilheteria do Engenhão, no dia do show. Expectativa por motivos óbvios. A ansiedade tomava conta ao ver todo o resto do ônibus com os ingressos na mão e eu com aqueles volchers feiosos. Minha irmã e uma amiga me acompanhavam na jornada. Deram o apelido de “Os 3 mosqueteiros” pra gente.Depois de um sábado de passeios por Corcovado, Bondinho e Copacabana e uma cachaçada leve à noite,era hora do dia 22. Retirar os ingressos foi como tirar 2 toneladas de preocupação das costas. Minha amiga só tinha ingresso pro dia 23, mas por acaso conseguiu um para arquibancada setor leste superior, o único setor que ainda disponibilizava ingressos e era exatamente o que eu e minha irmã estávamos. Os abraços frenéticos depois dela conseguir os ingressos eram um sinal de que os mosqueteiros teriam seu dia de glória absoluta. Aí sim, indo pra fila foi que comecei a curtir a coisa toda, até pensar em setlist.
Do lado de fora ouvimos Paul cantar algum rock. Só aí a emoção já foi densa. Assim como foi em São Paulo, os outros ingredientes que que acompanhavam o prato principal, tal como as amizades que fazemos na fila, a superação para conseguir ingressos a mais, e o fato de estarmos ali, com tantas pessoas, dividindo o mesmo amor, a mesma causa… me colocava em outro planeta, um planeta mais evoluído, um planeta mas “feliz”. Veio o show. E como não poderia deixar de ser, curtimos do primeiro minuto a último, mesmo com o setlist 90% igual ao de SP. Alguns não entendem a graça que a gente vê no mesmo show. Fui criticado por um alucinado em futebol, que me alertou sobre “ter overdose de Paul McCartney”. Respondi que certas drogas matam mais rápido, em doses menores. Não houve tréplica. E completei perguntando se ele não assistiria “Brasil x Holanda” em uma copa do mundo pela segunda vez só porque ele já tinha assistido. É outro jogo. É outro show. E graças a Deus, é o mesmo Macca. Live and Let Die assistida da arquibancada é um show à parte. Alguns que vieram conosco se gabavam de ter visto Paul na sacada do hotel, no dia 22. Eu não fui chamado para essa aventura, e assim o desafio estava feito. Eu me sentia poupando a voz nesse show, um pouco porque sabia que assistiria ao outro da prime no dia seguinte, e um pouco talvez porque tive o pressentimento de que algo mais estava por vir…
O dia 23 começou com a TV no hotel mostrando Ana Maria Braga e o papagaio de espuma comentando sobre Paul, mostrando imagens ao vivo da frente do hotel. Na hora deu o estalo: “Estamos a meia hora a pé do Copacabana Palace. Vamo embora!” Eu e minha amiga levantamos (minha irmã já tinha voltado pro ES), em 30 minutos estávamos na frente do hotel, o que me fez lembrar do tão lendário encontro entre John e Paul nos anos 70, em que eles quase foram para a TV ao vivo. Por falar em TV, e não é que a TV estava lá mesmo? O Jornal hoje nos procurou de cara para entrar ao vivo e o Jornal do SBT também. Não me importa se foi ao ar, importava o que eu tinha dito ali: “É uma honra esperar pelo mestre dos mestres da música, um personagem secular, que faz parte de uma das mais românticas e fascinantes histórias do mundo”. O repórter não esperava por essa, esperava um “Paul, cadê você? Eu vim aqui só pra te ver”, que na verdade, fizemos também. Mas minha amiga resumiu tudo na entrevista dela: “É o sonho de uma vida inteira”. Por volta das 16h aconteceu o momento que por mim podia durar para sempre.
Paul saiu do hotel, acenando, mandando beijos, em um terno aberto, com uma blusa rosada por baixo, para ir para o Engenhão. Ele vem. Minha amiga chora. Ele vem. Eu filmo. Ele vem. Eu tremo. Eu grito. E Paul passa de carro a 70 centímetros de mim. Tá no Youtube. Assim como descreve o JC, fiquei paralisado, não toquei nele, não olhei para o que eu estava filmando, mas sim para o que eu estava VENDO. Paul olhando em minha direção, acenando e apontando para o enorme desenho do Yellow Submarine que eu tinha na minha camisa. Lembro que consegui gritar: “Paul, see you on stage, Paul!”. E ele ouviu. Não há a mínima dúvida. Aqueles 10 segundos foram como me transportar novamente para aquele planeta onde não existe “sorrow”. Onde toda aquele febre de quando eu estava descobrindo os Beatles aos 11 anos, voltava à tona, com o mesmo frescor. Era Beatles, história, genialidade, e principalmente, os maiores momentos da minha vida… tudo ali, na minha frente, representado da melhor forma possível. Não são todos que têm a oportunidade de registrar em vídeo o momento mais emocionante da vida. Por uns segundos eu nem precisava mais do segundo show. Eu queria pular (testemunhas disseram que eu parecia um menino de 8 anos que ganhara pogobol em 1989.) Voltamos pro hotel de taxi, em cima da hora, e o taxista pergunta pra qual hospital estávamos indo, já que minha amiga no banco de trás soluçava e chorava como se tivesse perdido um filho. Lembro de dizer: “Tudo bem, é choro de alegria, de realização. Só nos leve pro hotel”.
A primeira imagem da volta ao hotel que me vêm à cabeça é de sairmos do elevador moles, grogues, liberando endorfina por todos os poros. E ainda tinha o outro show. E na prime! Pegamos um trânsito infernal, e chegamos lá acreditando que íamos ficar bem atrás, mas não. Tivemos visão privilegiada. Quase grade. Quando a banda entrou, e junto veio Paul com aquele terninho beatle, à meia distância, a sensação de esta vendo um beatle de verdade foi muito forte. Nesse hora a emoção foi surreal. Eu me lembro de cada segundo desse show, e não esquecerei nem daqui a 50 vidas. Ouvir Coming Up, foi como ter um pedido atendido por Paul. Eu fechei os olhos em I Saw her Standing There e fui aos anos 60, ouvindo os Fab. Faz uma semana que isso aconteceu. Mas já sinto saudades, sentimento comum entre os que estiveram lá. Quem esteve lá sabe que não há como descrever este momento. É muito abstrato, é muito mágico, é como ter um dom.
Comente