Por Cláudio Teran
Dois mil e onze foi um ano diferenciado para Ringo Starr e seus fãs. Ele embarcou numa turnê despretensiosa em junho com o propósito de retomar a excursão iniciada em 2010, que serviu para divulgar o álbum Y Not, e superou expectativas. Com demanda garantida registrada pela pré-venda de ingressos, a intenção era básica: percorrer os EUA de costa a costa e se divertir (rotina para a All-Starr Band em suas diversas formações). Só que o projeto deu uma guinada e acabou virando turnê mundial com um braço europeu e outro na América do Sul.
Quando Ringo Starr desembarcou para se apresentar entre nós, o disco Listen to Me: Buddy Holly Tribute acabara de chegar ao mercado. Uniu vários luminares do rock homenageando seu ídolo e trazia uma faixa inédita na voz de Ringo, “Think it Over”. A gravação ficou tão boa que mereceu até videoclipe. Vale registrar que no hiato entre o fim das mais de quarenta apresentações europeias e a excursão pelos trópicos, o baterista dos Beatles entrou em estúdio e concebeu rapidamente o álbum Ringo 2012.
A exemplo da turnê, a despretensão também é a marca principal desse décimo sétimo trabalho-solo. A começar pelo repertório, de parcas nove faixas, apenas cinco realmente novas, se descontarmos as regravações (“Wings” e “Step Lightly”) e subtrairmos “Rock Island Line” e a já mencionada “Think it Over”. A propósito, se não tinha músicas de autoria própria, por que Ringo não recorreu a outros compositores? Poderia ter investido, quem sabe, em mais regravações. Essas indagações ficaram sem resposta nas entrevistas que ele concedeu para divulgar o novo lançamento, já que não lhe foram perguntadas. Um produtor mais atento teria cuidado melhor do conteúdo? A produção de RINGO 2012 foi do próprio Ringo, o que vem acontecendo desde o lançamento anterior, o já citado Y Not.
Além dos formatos em CD, vinil e download pago, há uma edição de luxo que a Amazon vem comercializando com exclusividade e que não tem nada de mais. Inclui um DVD bastante simples, sem legendas e com o making of do novo trabalho. O filminho consegue ser mais curto que o próprio álbum. Contém uma descontraída entrevista com Ringo Starr, entremeada de cenas das gravações, enquanto ele explica a origem de cada faixa. O descuido maior dessa produção foi não incluir o promo de “Think it Over”. Este, afinal, seria um verdadeiro bônus para o fã.
O disco passa rápido, sem sustos, e é agradável de ouvir. Certamente será apreciado pela maioria. Sua sonoridade remete propositalmente aos Beatles. E como de praxe, é muito gostoso ouvir o mix bem proeminente da bateria. Mas RINGO 2012 fica devendo porque poderia ser maior e mais criativo, dispensando, por exemplo, as regravações de faixas que já constam do catálogo de Ringo Starr. “Eu posso revisitar o passado, quando eu quero, mas eu não moro lá”, adverte ele nas notas do encarte simples e sem maiores informações que vem com o álbum. E de fato Richard Starkey está num patamar confortável. É uma celebridade admirada no mundo inteiro há quase cinquenta anos. É o tipo de cara em que cabe o rótulo de lenda viva. E ele não precisa provar mais nada a ninguém. Tê-lo gravando e com disposição para excursionar é que realmente é importante. E datas para levá-lo de volta à estrada já estão confirmadas. Vem aí a décima terceira formação da All-Starr Band. A futura excursão como sempre vai começar pelos Estados Unidos, mas o site oficial avisa: novas datas serão anunciadas a posteriori. Brasil a vista? Quem sabe para mais sete shows? Nós queremos, claro!
RINGO 2012 – Faixa a Faixa
ANTHEM
A ideia com essa faixa é o tema da paz, que geralmente marca as composições de Ringo. Escrita em co-autoria com Glenn Ballard foi bem escolhida para abrir o álbum por ser um rock vintage tipo ‘prá cima’. A letra, todavia, tem um lado sombrio. No refrão diz assim: “esse é um hino de paz e amor. Temos que continuar tentando. Não podemos tentar o suficiente”. Destaque para o bom trabalho do guitarrista Steve Dudas (The Roundheads) com belos solos e contra solos.
WINGS
A faixa de trabalho do novo disco é uma velha composição do ano de 1977, fruto da parceria de Ringo com o saudoso Vini Poncia, gravada e lançada naquele ano. Por que voltou? O beatle sustenta que é uma canção injustiçada, que poderia ter estourado na década de 70. Ela chegou a sair num single, mas em termos de divulgação foi preterida em favor de ‘Drowning in the Sea of Love’, escolhida para puxar o álbum Ringo The 4th. Ao regravar “Wings” a intenção foi apostar numa faixa realmente boa. O novo arranjo é interessante e não muda radicalmente o take. Também não supera a gravação original. A ‘levada reggae’ se mantém, assim como a pulsante bateria. Destaque para as sutilezas da guitarra de Joe Walsh e do órgão hammond tocado pelo craque Benmond Tench (Tom Petty).
THINK IT OVER
A faixa de Ringo 2012 que ganhou um promo video foi essa, embora “Wings” tenha sido escolhida para divulgar o álbum. Esta clássica composição de Buddy Holly encaixou muito bem no estilo Ringo, com o detalhe de que além da bateria e percussão ele também tocou teclados e até um violão! Ficará para sempre a impressão de que a composição foi aproveitada em Ringo 2012 por falta de repertório, já que a intenção inicial foi ceder o take para o disco Listen to Me – Buddy Holly Tribute.
SAMBA
Que os brasileiros não pensem que a passagem do beatle pelo país influenciou nesta composição. A ideia foi de Van Dyke Parks, que vem colaborando com Ringo em seus últimos álbuns. E foi composta e gravada antes de ele aqui desembarcar com a All-Starr Band. O primeiro verso, entretanto, remete um pouco ao Brasil: “Um passo a frente e dois passos para trás. A multidão vai rugir até os ossos rachar. E você sambará para mim. E pela calma do mar. Você me fará uma promessa”. O ritmo não se assemelha em nada com o que entendemos por samba, embora tenha um acento latino tipo uma rumba moderna. A ideia inicial era usa-la como faixa de trabalho, decisão que foi mudada de última hora para “Wings”. Ringo também contribui tocando teclado.
ROCK ISLAND LINE
O skiffle de Lonnie Donegan influenciou uma imensa geração de pessoas na Inglaterra. Beatles e Rolling Stones incluídos. Ringo produziu essa regravação como homenagem a uma de suas composições favoritas e acertou em cheio. A música ganhou peso com essa atualização e o arranjo respeita as origens deste clássico. Entre as curiosidades, o fato de Ringo novamente tocar violão. O produtor Don Was aparece no baixo e Edgard Winter no saxofone. Benmont Tench inclui um belo take de piano.
STEP LIGHTLY
Ringo diz no DVD que acompanha a edição de luxo desse disco que esta é uma composição subestimada e que ficou perdida entre tantas músicas maravilhosas de seu maior êxito, o álbum Ringo, de 1973. A regravação não ficou ruim, mas a versão original é muito melhor, sobretudo pelo andamento e o charme da percussão feita com sapatos de bailarino, eliminada agora em favor de uma nova versão dispensável. Se Ringo considera que tem canções subestimadas em seu repertório de quarenta anos de carreira-solo deveria leva-las aos palcos nos shows da All-Starr Band, o que agradaria em cheio aos fãs.
WONDERFUL
Parceria de Ringo com o desconhecido Gary Nicholson, esta composição conta com Richard Page (“Broken Wings”) no baixo e começa com o ressoar de um gongo. Steve Dudas providencia uma guitarra que pontua todo o arranjo. A letra de versos simples ressalta o amor.
IN LIVERPOOL
“Liverpool 8”, a continuação. Lembram-se da composição que puxou o disco lançado em 2008 por Ringo Starr? Pois ela está de volta numa sequência que de tão semelhante soa como um outtake. O autor é Dave Stewart, que completou a canção em co-autoria com Ringo e tocou guitarra teclados e construiu o arranjo. Tudo como na versão de 2008. A letra também se assemelha, refletindo sobre a juventude na Inglaterra do pós-guerra na cidade portuária que foi o berço dos Fab Four. É a terceira referência direta a Liverpool em três discos. E a terceira vez consecutiva que o nome do município aparece como título de canção em álbuns de Ringo. Coincidência? Repetição? É possível que essas loas todas tenham o objetivo de limpar a barra com a cidade, já que em 2008 algumas declarações de Ringo sobre Liverpool foram mal interpretadas.
SLOW DOWN
O título nos leva a pensar inicialmente que estaremos diante de mais uma regravação, só que essa “Slow Down” não é o clássico de Larry Williams que foi magistralmente recriado pelos Beatles. Aqui temos um rock bem leve, no qual Ringo Starr e seu cunhado Joe Walsh falam do ato perfeito de relaxar sempre e levar a vida com tranquilidade. Aparentemente seria uma referência oblíqua a problemas que os dois enfrentaram no passado com abuso de substâncias como o álcool. Nas notas de imprensa, ao se referir a essa composição, Ringo Starr anota: “eu pessoalmente sou abençoado, levando em conta o que eu passei. Eu e Joe, nós dois sabemos exatamente como é a viver na pista rápida (Life in the Fast Line)”.
RINGO 2012 – Divulgação
30.01.2012 – Sirius XM – Satellite Radio
A estreia do processo de divulgação do álbum Ringo 2012 começou nesta famosa emissora de rádio, via satélite e internet. Ringo foi entrevistado num palco e diante de uma plateia de fãs escolhidos por um sorteio que a rádio fez no site e em sua programação. O apresentador Russell Brand tocou a entrevista num clima de muitas piadas e brincadeiras. O beatle contou que tem recusado várias propostas para escrever um livro autobiográfico “porque as editoras só querem saber daqueles oito anos”. E emendou: “ora, a vida antes daquele período resultaria nuns dez volumes, e o tempo vivido depois daria no mínimo mais uns vinte”. A participação dos fãs não foi passiva. A turma teve direito de fazer perguntas. O primeiro a falar lembrou que naquele dia estava se completando 43 anos da última vez em que os Beatles tocaram ao vivo, no teto da Apple. Ringo demonstrou surpresa com a coincidência da data, mas ao comentar o assunto falou o previsível: “minha decepção com aquele concerto foi com a polícia. Eles vieram para nos parar, quando eu vi os tiras imaginei que me arrastariam para fora, eu estava bem ali ao alcance deles. Seria tão dramático, e por certo renderia um impacto que teria sido registrado pelas câmeras, mas eles optaram pela gentileza e não tomaram atitude nenhuma. E nós paramos, simplesmente”, recordou.
Perguntado como se sentia sobre a revolução digital, com muita gente optando por baixar músicas individuais em vez de álbuns completos, Ringo pontuou que é preciso compreender que esse é um momento diferente. “É um tempo novo, que dá um poder enorme ao público de escolher as faixas que gosta e baixar. É assim que é. E não deixa de ser um negócio no qual você paga para ter a coisa do seu jeito”, afirmou. E emendou segurando o LP Ringo 2012: “eu sou um vynil man”. O produtor musical Don Was também participou da entrevista e fez indagações técnicas nas quais Ringo falou de seu jeito de tocar bateria e da próxima turnê da All-Starr Band. Quase uma hora depois, quando a entrevista chegou ao fim, uma pequena apresentação foi feita.
XM Sirius mini-concert
Com uma banda formada por Steve Dudas e Joe Walsh (guitarras) Benmond Tench (teclados) Gregg Bissonette (bateria) e Richard Page (baixo), Ringo tocou um curto setlist ao vivo.
It Don’t Come Easy.
I Wanna be Your Man (na bateria)
Wings
With a Little Help From my Friends.
Act Naturally
31.01.2012 - Late Show with Craig Ferguson
Ringo teve direito a pouco mais de dez minutos de hilária entrevista com o apresentador Craig Ferguson no canal de TV CBS. Apresentou o novo álbum em vinil, contou algumas velhas e novas histórias e confirmou o início da nova temporada de shows da All-Starr Band para o mês de junho. Ao final, e utilizando o mesmo grupo de músicos que o acompanhou na XM Sirius Radio (menos Joe Walsh), Ringo mandou duas ao vivo:
Wings
I Wanna be Your Man.
01.02.2.012 – Late Night with Conan O’Brian
Ringo foi beneficiado com um tempo maior no ar e concedeu uma excelente entrevista, na qual o apresentador da TBS TV não economizou perguntas interessantes. Conan O’Brien também é músico e fez boas indagações sobre a forma como Ringo toca bateria. Foi um dos melhores momentos da conversa com o beatle, descrevendo seu estilo de percussão. Também perguntou se foi de fato Bob Dylan quem apresentou as drogas aos Beatles. Ringo contou que ele foi o primeiro dos quatro a experimentar entorpecentes e confirmou que foi com Dylan que ele e os rapazes conheceram drogas mais pesadas e tomaram seus primeiros picos. “Antes era basicamente maconha”, afirmou. Ao final do programa duas músicas foram tocadas ao vivo, uma delas, “Act Naturally”, com a participação impagável de Conan O’Brian ao violão.
Wings
Act Naturally.
13th All-Starr Band é anunciada no lançamento de RINGO 2012
A décima terceira formação da All-Starr Band reúne velhos e novos conhecidos. Os músicos anunciados foram: o guitarrista e arranjador Steve Lukather (Toto), o tecladista Gregg Rolie (Journey, Santana), o baixista Richard Page (Mr. Mister), o guitarrista Todd Rundgren, o multi instrumentista Mark Rivera e o baterista Gregg Bissonette. Da formação que vimos no Brasil no ano passado, três músicos foram mantidos. Gregg & Lukather nunca tocaram antes com Ringo. Todd Rundgren participou das formações de 1992 e 1999 e está de volta. A banda tem ensaios programados para o mês de maio num estúdio em Los Angeles. A turnê já tem datas confirmadas nos Estados Unidos.
June 14, 15 – Fallsview Casino, Niagara Falls, ON
June 16 – Bethel Woods PAC, Bethel, NY
June 17 – Mohegan Sun, Uncasville, CT
June 19 – Bank of America Pavilion, Boston, MA
June 20 – American Theatre, Lancaster PA
June 22 – Jones Beach Ampitheater, Wantagh, NY
June 23 – Caesar’s, Atlantic City, NJ
June 24 – Meyerhoff, Baltimore, MD
June 26 – State Theater, Easton, PA
June 27 – Mayo Center, Morristown, NJ
June 29 – St Augustine Theater, St. Augustine, FL
June 30 – Seminole Hard Rock Arena, Hollywood, FL
July 1 – Ruth Eckerd Hall, Clearwater, FL
July 3 – Tuscaloosa Ampitheater, Tuscaloosa, Al
July 4 – The Wharf, Orange Beach, Al
July 6 – Fox Theater, Atlanta, GA
July 7 – Ryman Auditorium, Nashville, TN
July 8 – Horseshoe Casino, Hammond, IN
July 11 – Usana Ampitheater, Salt Lake, UT
July 13 – Northern Quest, Airway Heights, WA
July 14 – Chateau St. Michelle, Woodinville, WA
July 15 – Edgefield, Portland, OR
July 17 – Mountain Winery, Saratoga, CA
July 19 – Humphrey’s, San Diego, CA
July 21 – The Greek, Los Angeles, CA
Mais informações: www.ringostarr.com
CLAUDIO TERAN
[email protected]
Comente