Ringo Starr

Por Dentro dos Beatles: Ringo Starr

ringo_starr

RINGO STARR foi o primeiro Beatle a levar um tapa na bunda. Nasceu em 7/7/1940 em plena Segunda Guerra Mundial, 3 meses antes de Lennon, 2 anos antes de McCartney e quase 3 anos antes de Harrison. Mas essa não foi a única vez que a vida bateu no garoto. Ringo viveu boa parte da infância em hospitais. Numa das internações, a mais grave delas, teve que lutar contra uma peritonite, infecção que, se é gravíssima hoje, imagine na época. Por duas vezes o médico avisou sua mãe: se despeça do seu filho, que dessa noite ele não passa. Mas o garoto gostava de briga e a mulher da foice teve que ir bater em outro quarto.

Mas se a vida às vezes bate, ela assopra também. Num desses intermináveis meses de internação, o hospital distribuiu instrumentos musicais para as crianças passarem o tempo. O pequeno Ringo ganhou um tambor. E pronto. Fim do tédio e do sossego hospitalar (talvez tenha nascido aí a foto da enfermeira pedindo silêncio, vai saber). Fato é que a paixão foi daquelas arrebatadoras. O pácumpum se mostrou um santo remédio, elevando o espírito do menino, que foi melhorando. Batalha ganha.

Muito bem…

ringo_starr2Até aqui expliquei onde e como Ringo Starr começou a se apaixonar pela bateria. Agora vou contar como nasceu seu estilo único de tocar e porque é tão difícil pra qualquer baterista tirar aquele som dos tom toms. Acontece que Ringo nasceu canhoto. E sua avó, que se dizia mestre nas artes do vodu, achava que ser canhoto era coisa do demônio. A avó, então, partiu para uma cruzada de fazer inveja aos mais negros tempos da igreja católica a fim de expulsar o coisa ruim do corpo do neto. Por sorte, era uma bruxa meia boca e o máximo que conseguiu foi fazer o garoto escrever com a mão direita. Para outras atividades que exigiam alguma força, como descer o braço na velha ou tocar bateria, a esquerda continuava dando as cartas.

Talvez por preguiça ou coisa do destino, Ringo nunca adaptou seus kits. Ou seja, Ringo é um canhoto que toca bateria montada para destros como se fosse um destro. Quem comanda o chimbau é a direita mas a força está na esquerda. As viradas tendem a ser do surdo para a caixa. A primeira batida tende a ser mais fraca que a segunda. Deu nó? Ótimo. Ouçam a levada em A Day In The Life, do Sgt Pepper. Ou Strawberry Fields, do Magical Mystery Tour. Ou o solo em The End, de Abbey Road que fica fácil entender. Mas façam isso como se fosse uma audição, com a luz apagada e sem interferências desse nosso infernal mundo barulhento. Ouçam. Está tudo lá. Meia dúzia de cotonetes podem ajudar.

Onde eu estava mesmo? Ah, bom… Ninguém toca como Ringo. E foi isso que o levou aos Beatles. Como? Let me take you down. Ringo saiu do hospital decidido a ser um baterista profissional. A chegada do rock fez o resto. Em Liverpool, Ringo tocou na Eddie Clayton Skiffle Group. Depois na Rory Storm and the Hurricanes, banda de maior sucesso na cidade. Ringo já curtia uma de pop star local enquanto os Beatles ainda eram uns besouros não catalogados. Mas o tempo passou. Veio Hamburgo. Os Beatles se tornaram a melhor banda de lá. Depois, a melhor banda de Liverpool. Brian Epstein entra na história. Eles assinam contrato com a Parlophone/EMI. Iam gravar o primeiro single. Mas havia um problema: eles não tinham um baterista à altura da banda. E o sábio produtor George Martin deixou isso bem claro.

Os Beatles precisavam de um novo baterista para o lugar de Pete Best e foram atrás do The Best de verdade, um tal Ringo Starr. Paul McCartney outro dia lembrou da estréia do Ringo nos Beatles. Paul disse que, quando Ringo começou a tocar, os 3 (vocês sabem quem) se olharam e disseram wow!

Com Ringo, os Beatles encontraram seu som – quem toca sabe quando isso acontece. Tudo simplesmente se encaixou. E assim, no sétimo dia, fez-se o som. Os surdos de plantão costumam dizer: Mas ele não é um virtuose! Ele não dá 3000 baquetadas por segundo! O que ele faz naquela e nessa música é muito básico!

É verdade, muitas vezes é mesmo. Mas, caros surdos de plantão, por favor, limpem a baba elástica e bovina que pendem de suas bocas e entendam o óbvio ululante (nada como citar Nelson Rodrigues para dar um toque de classe a um texto): música é, antes de tudo, feeling e beleza. E a bateria daquele garoto com diabo no corpo sempre foi perfeita para a música que os Beatles faziam. Era simples quando tinha que ser. Era complexa quando tinha que ser.

Não conheço baterista com mais feeling do que Ringo Starr. Ele toca pensando na música. Não por acaso ele era o baterista dos Beatles, caralho, a banda que deu uma razão de ser para os nossos ouvidos, que redefiniu o conceito de música. Tem mais, se a explosão do Big Bang foi o começo de tudo, a explosão sonora dos Beatles foi o recomeço. E quem não concordar comigo é só pegar de novo a caixa de cotonete. Sobrou um montão lá.

Por Ricardo Ribeiro

Assuntos:

Comentários

Clique Aqui Para Comentar

Quer comentar?

Editor

José Carlos Almeida

+55 11 95124-4010