Curiosidades

Raymond Jones – Será que ele existe mesmo?

OK, talvez você não saiba da importância do dia 28 de outubro… mas é um dia que devia ser marcado no calendário Beatle. Afinal, diz a história que foi no dia 28 de outubro de 1961 que um jovem chamado Raymond Jones mudou o curso da história pelo mero fato de entrar numa loja de discos – a NEMS, North End Music Store – e perguntar por uma música. Afinal, o dono da loja era Brian Epstein, e a música procurada, “My Bonnie”, com os Beatles.

Isso nos leva a uma outra discussão: quem é Raymond Jones? Well, Raymond Jones é nada mais nada menos que o primeiro fã dos Beatles! Ele foi uma vez descrito por Alistair Taylor (que foi assistente pessoal de Brian Epstein e trabalhou por muito tempo com os Beatles – mas que não é parente de Derek Taylor): um jovem de 18 anos, fã de Carl Perkins, vestindo uma jaqueta de couro e calça jeans, desapontado ao saber que “My Bonnie” era em realidade uma música de Tony Sheridan e que os Beatles apenas faziam o backing vocal dessa canção. Uma versão perfeitamente aceitável de Raymond Jones (inclusive é a versão apresentada na própria biografia de Brian Epstein, “A cellarful of Noise”) – mas não foi a única.

Houve também a idéia de que Raymond Jones era na verdade o músico Ray Jones, dos Dakotas, banda que tocava com Billy J. Kramer – por sinal, um dos artistas empresariados por Brian Epstein. Embora o Ray Jones dos Dakotas fosse morador de Manchester e não de Liverpool, seria possível que ele tivesse visitado a loja de Brian Epstein em algum momento em 1961. Todavia, o próprio Ray jamais se manifestou em público clamando para si o mérito de ter disparado o gatilho que detonaria em pouco tempo o fenômeno Beatles.

Até aí, eram duas as versões sobre a identidade do rapaz cuja inocente procura teria disparado o interesse de Brian Epstein pela banda que apoiava o conhecido Tony Sheridan, interesse esse que o levaria ao cavern Club em 09/11/1961… mas uma terceira versão ainda estava por chegar.

Em 1995, o mesmo Alistair Taylor que havia descrito o jovem Raymond Jones concedeu uma entrevista ao jornalista Bill McCoid (publicada no Manchester Evening Standard), dizendo que… ele era Raymond Jones! Ou melhor: Raymond Jones não existia! Segundo ele, ele havia mentido (e sustentado a mentira por mais de 30 anos) apenas para “manter o mito” – coisa que ele fez muito bem, pois, além de manter segredo sobre a origem do mito, ainda participou de diversos programas de rádio onde ele pedia ao misterioso Raymond Jones que se revelasse… Além de dizer que ele próprio havia inventado o nome Raymond Jones, Taylor afirmava que ninguém havia pedido o single de “My Bonnie” – na verdade, os Beatles já tinham um nome razoavelmente conhecido em Liverpool em 1961 e isso era motivo suficiente para que decidissem procurar pelo único material disponível da banda até então e por checar o trabalho deles ao vivo (nas palavras de Taylor, “We knew they were big in Liverpool. So Brian and I said, ‘OK, let’s find it'”). Mesmo assim, Taylor assumiu total responsabilidade pela “criação” de Raymond Jones, arquitetada por ele sem que o próprio Epstein soubesse que era pura invenção – ele teria dito ao seu chefe que havia recebido um pedido de encomenda do single, pedido esse feito por um Raymond Jones que não existia. E mais: Taylor afirmava que nem mesmo os Beatles jamais souberam que Raymond Jones era fake! Ou seja: a versão 3 era simples e direta – Raymond Jones era um truque de Marketing (reparem na descrição da roupa do rapaz…) e entrava para a galeria como mais um nome mítico na cultura Beatle, já famosa por pseudônimos, lendas e (pretensas?) mensagens subliminares e coisas do gênero.

Confusão formada – a declaração de Alistair Taylor numa só tacada acabava com dois mitos – o da existência de Raymond Jones e o de que Brian Epstein nunca tivesse ouvido falar em Beatles até que um jovem entrasse em sua loja falando na banda. Mas, como não há testemunhas, tudo o que se tem são as palavras de Alistair Taylor. E quem pode garantir que elas espelhem a verdade?

De toda forma, como Brian Epstein já não pode dar sua opinião e como jamais um Raymond Jones apareceu para tomar posse de sua identidade, a versão de Alistair Taylor não pode ser desmentida. E a dúvida sempre vai pairar no ar. Estava criada aí mais uma Beatle legend.

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