Depois de lançar a primeira biografia oficial dos Beatles (The Beatles, que teve sua primeira edição lançada em 1968) e cerca de 40 livros dos mais variados assuntos (infantis, guias turísticos etc), o velho escritor Hunter Davies descobriu uma fórmula infalível: livros com manuscritos originais dos Beatles. Nesse formato, o primeiro foi As Cartas de John Lennon, lançado em 2012. Um sucesso estrondoso. E agora foi a vez de As letras dos Beatles – A História Por Trás Das Canções.
Os títulos são auto-explicativos: o primeiro dissecava um dos maiores passatempos de John Lennon, que era escrever cartas, bilhetes, notas, rascunhos, poemas, instruções, paródias e outros rabiscos. Tudo ricamente ilustrado, com dezenas e dezenas de prints dos originais, com explicações que contextuam, explicam e teorizam sobre essas verdadeiras relíquias. Da mesma forma, As Letras dos Beatles, lançado agora em 2016, com lançamento nacional da Editora Planeta, faz uma coletânea do máximo de manuscritos originais das composições dos Beatles, feitas por seus próprios autores, expicando-as com o máximo de detalhes e até mesmo teorizando sobre as intenções por trás de cada anotação.
O próprio Davies é o feliz proprietário da maior coleção pública de manuscritos originais dos Beatles. Conseguiu juntar e preservar um total de 9 itens. Na época, os Beatles costumavam escrever letras e anotações em papéis que iam encontrando nos estúdios, dispensando-os depois que as gravações eram concluídas. Muita coisa deve ter ido para o lixo, mas muita coisa também foi guardada, tornando-se grandes relíquias da cultura ocidental – em muitos casos, alcançando preços elevadíssimos em sites de vendas e leilões. O trabalho de pesquisa, segundo ele, foi exaustivo, recorrendo a cada colecionador que conseguiu catalogar, mas também usando muitos sites e diversos outros livros como fonte.
Hunter Davies não é o tipo de autor dado a fazer grandes revelações e lançar grandes polêmicas. É considerado pelos mais ferrenhos como um “chapa branca”, do tipo que sempre lança livros oficiais, sem nunca desagradar os chefes. Na verdade, trata-se de um pesquisador profundo da obra dos Beatles e com isso tem promovido resgates importantes. No As Letras dos Beatles ele publica em suas páginas não só originais manuscritos, mas também partituras, documentos, contratos, fotos históricas etc.
Em alguns momentos o livro pode parecer redundante, pois já existem outras publicações que explicam as músicas dos Beatles, uma a uma. Principalmente nas músicas do ano de 1963, 1964 e 1965, onde praticamente não há manuscritos, apenas as explicações do próprio Davies. Os primeiros começam a surgir no With The Beatles e começa a esquentar mesmo a partir do Revolver, tendo seu auge a partir da fase Sgt. Pepper/White Album – provavelmente pelo fato de as primeiras gravações terem sido mais rápidas, com letras mais simples, em músicas que eles tocavam ao vivo – dispensando assim, anotações. Ou talvez até por na época não se dar muita importância a manuscritos originais.
O fato é que a junção das duas coisas (reproduções dos manuscritos e os textos de Davies) se completam de maneira quase perfeita, sobretudo quando percebe-se claramente que os originais estão diferentes do que conhecemos nos discos. Só a introdução do livro, explicando todo o processo de pesquisa e uma rápida biografia já supera muitos livros já escritos.
Uma coisa que o autor poderia dispensar é o excesso de opiniões, sobretudo nas músicas das primeiras frases. Sentenças como “a letra é meio boba”, “usando uma rima pobre” e “a mesma idéia redundante”, entre outras, são desnecessárias e, de certa forma, subestima a capacidade de análise dos leitores, que supostamente são fãs dos Beatles e sabem muito bem do que as letras tratam. Mas isso não chega a inviabilizar a leitura.
A edição brasileira é primorosa, providenciada pela Editora Planeta, impressa em alta qualidade, com tradução perfeita e praticamente sem erros de qualquer espécie. O resultado é um calhamaço de 380 páginas, que prende o leitor de maneira viciante, num crescendo que só termina mesmo no texto da contracapa. Um lançamento que compensa cada centavo gasto – e cada hora dedicada à leitura completa.
E atenção: ainda essa semana o Portal Beatles Brasil vai promover o sorteio de um exemplar dessa pérola. Fiquem ligados!
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