Ringo Starr no Brasil 2011

Ringo Starr é de verdade! (Jean Tosetto)

 

Jean Tosetto
www.jeantosetto.com
Quando eu era garoto, meu panteão de heróis era bem grande: dos desenhos animados vinham Speed Racer, Batman e Homem Aranha; dos gibis vinham Tintin e The Spirit; do cinema vinham James Bond e Indiana Jones; e dos Beatles, claro, vinham John, Paul, George e Ringo.

A grande diferença dos Beatles para os demais, é que eles eram de verdade, de carne e osso. Não eram personagens ilustrados ou interpretados por atores. Está certo, John Lennon havia se tornado um mito, depois de sua passagem, mas ainda haviam três amigos para provar que ele existiu. Talvez por isso, tais heróis tenham permanecido.

Sim, a gente vai crescendo, e o panteão de heróis vai diminuindo. Eles vão sendo esquecidos nas gavetas do quarto e na programação das TVs. Enquanto amadurecemos, passamos a admirar outras coisas. Vamos ficando mais orgulhosos e começamos a evitar certas referências da infância e adolescência.

A imagen não está nítida, mas a silhueta é inconfundível.

Mas dos Beatles eu nunca esqueci. Aprendi um pouco de inglês para entender suas letras simples e poéticas. Seus discos de vinil nunca saíram de perto do aparelho de som. E volta e meia o noticiário divulgava alguma curiosidade sobre eles. Se existiram quatro caras famosos no século XX, foram os Beatles. OK: o Elvis também.

Revivemos o sonho da reunião virtual dos Beatles nos anos 90, quando eles lançaram versões alternativas de seus sucessos, junto de duas novas músicas. Mas o tempo, que não respeita ninguém, levou George Harrison embora, no começo do terceiro milênio.

Sobraram Paul McCartney e Ringo Starr. Dois heróis vivos. O primeiro continuou na sua escalada para chegar ao Monte Olimpo ainda em vida, fazendo shows grandiosos e super produzidos. Os ingressos para uma apresentação de Paul McCartney acabam em questão de minutos, e deste modo, não consegui realizar o desejo de vê-lo ao vivo em São Paulo.

Ringo em São Paulo.

Mas com Ringo Starr é diferente. O baterista parece ser uma antítese do baixista. Seus shows são produzidos aparentemente nos mesmos moldes dos anos 60. Nada de estádios super lotados, com palcos de 30 metros de altura e uma profusão de efeitos especiais. Ringo ainda se apresenta em teatros fechados, num palco singelamente decorado com a bandeira da paz e do amor.

Quando surgiu a informação de que ele faria uma excursão à América Latina, que incluiria vários shows no Brasil, nem dei muita importância. Para mim tratava-se de mais boatos que não se converteriam em fatos. Mas desta vez tudo se confirmou e – milagre? – consegui reservar dois ingressos. Minha esposa iria compreender o motivo de seu marido assobiar tanto aquelas canções melodiosas.

Procurei não pensar muito na data da apresentação, que ainda estava distante. Não sei lidar muito bem com ansiedade. Mas o grande dia chegou e, sorte das sortes, consegui um ótimo lugar, bem próximo à parte central do palco, graças à pequena fila que meu cartão de crédito, usado na aquisição dos ingressos, proporcionou.

Não sou de me impressionar muito com as coisas, mas quando Ringo surgiu no palco cantando “It Don’t Come Easy”, meu amigo… virei criança de novo, quase paralisado e apenas observando. “Ele existe mesmo!” – pensei. Aos 71 anos de idade, aparentava ótima forma física, mas sem aquela áurea de semideus. Talvez ele estivesse ali justamente para afirmar isso: “Sou um cara normal, gente!”

Obviamente ele não estava ali sozinho. Havia a companhia de sua “All Starr Band”, que os críticos, sempre ácidos, chamaram de meros coadjuvantes. É lógico que se tratavam de coadjuvantes – e qualquer músico que toque com Ringo o será, a não ser que ele convide Bob Dylan para tocar gaita, ou Eric Clapton para tocar guitarra. Pensando bem, acho que os Rolling Stones não topariam acompanhar Ringo numa turnê, por causa disso.

Ringo Starr ao lado de sua bateria Ludwig.

Ringo Starr é tão boa praça que ele abriu espaço na apresentação para que alguns de seus convidados cantassem seus grandes sucessos, a maioria dos anos 70 e 80. Porém, me perdoem, realmente não conseguirei lembrar o nome de cada um deles, embora suas músicas toquem até hoje nas rádios, colando nos ouvidos dos mais românticos.

O ponto alto daquele 12 de novembro de 2011 ocorreu no final do espetáculo. No momento em que ele pergunta que música a platéia queria ouvir, eu grito, desesperado: “Photograph! Photograph!”

Ringo aponta o dedo para mim – quando esqueço da câmera – e questiona: “Photograph?”

“Yeahhhh!” – Eu sabia que ele tocaria essa música. Só não imaginava que o registro teria tanto significado para mim: um breve diálogo, mesmo que forjado, com um beatle, quase 30 anos depois de ouvir pela primeira vez meus grandes heróis em ação.

Peace and love,
Jean Tosetto

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