O cara tem que ser muito mal-humorado para não achar o show do Ringo bom. Os momentos beatle são ótimos, como sempre. Os sucessos dos outros membros da All-Starr Band são irregulares, ora bons ora sonolentos. É preciso não incorrer no erro de querer comparar sua apresentação com as do Paul McCartney, como tenho lido e ouvido por aí. Este é multiinstrumentista, compositor, um músico completo. Já Ringo, sempre foi a cereja do bolo. O complemento ideal para os Beatles. Em sua história com os Fab constam algumas composições bacanas e inesquecíveis levadas de bateria. Mas, ele não era o grande destaque da banda, apesar de sua importância fundamental.
No frigir dos ovos, o show é bem bom. Leve, divertido, gostoso de assistir.
Mas, fica aquele gostinho de que poderia ser ainda melhor. Ringo tem sim músicas suficientes para fazer um show inteiro seu. São pelo menos 7 músicas da época dos Beatles e umas 20 da carreira solo que sustentariam tranquilamente umas 2 horas de espetáculo. Mesmo que ele não queira se desgastar tocando bateria, ele poderia facilmente montar uma banda comum de bons músicos e pegar a estrada. E isso deixa uma sensação de que ele pode fazer um show mais com sua cara.
Outra coisa, poderia investir um pouco em tecnologia de palco. Colocar um telão exibindo cenas do filme “Yellow Submarine”, enquanto toca essa música e de fotografias enquanto toca “Photograph” e muitas outras imagens. Isso valoriza demais o espetáculo. Atualmente, apenas um painel com flores e uma enorme estrela fazem fundo aos músicos.
Nessa turnê, o esquema fica ingrato, especialmente para os outros membros da ASB. Afinal, não é nada fácil ter que encarar uma plateia esquentada ao som de “Boys” e começar a tocar um ‘hit’ qualquer dos anos 80. Ou ter que começar uma música ‘menor’ depois de Ringo fazer a plateia cantar a plenos pulmões “Yellow Submarine”. Isso também não quer dizer que a banda seja ruim. Pelo contrário, não perde o pique em nenhum momento e todos são bons instrumentistas. O negócio é que não dá para misturar “With a Little Help From My Friends” com “Broken Wings”. Não são a mesma praia.
Claramente, Ringo não se empenha na bateria, arrisca umas rodadas, marca o tempo no chimbau, toca os pratos levemente. Enquanto isso, Greg Bisonette segura a peteca com uma competência assustadora ao seu lado. Rick Derringer é um guitarrista acima da média e mostra suas habilidades em diversas músicas. Edgar Winter manda uns solinhos de piano e alguns de sax, com algum brilho. Até arrisca um duelo de tambores com Bisonette, ambos com baquetas com as pontas iluminadas. Wally Palmar, Mark Rivera, Richard Page e Gary Wright são os mais apagados, apesar de segurarem bem a parte rítmica do show.
E esse ponto-de-vista parece ser geral. Ouvindo aqui e ali uma conversa do público, percebe-se que todos querem mais Ringo, mais Beatles. As intervenções dos outros acaba por irritar alguns e distrair a atenção de outros. Poucos se envolvem inteiramente com todas as músicas. Vale a pena, embora com algumas ressalvas.
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