Fotos: Dayvison Nunes/JC Imagem
Marcelo Cavalcante Do NE10
Vai ser difícil os beatlemaníacos do Recife esquecerem a noite do dia 20 de novembro de 2011. Nesta data, a capital pernambucana recebeu, pela primeira vez, a apresentação de um dos integrantes da mais influente banda de rock que o mundo já viu. O baterista Ringo Starr subiu ao palco ao lado da entrosada e azeitada All Starr Band, despejando simpatia, carisma e boas canções durante 1h45 de show. E os clássicos dos Beatles, como Yellow Submarine e With Little Help from my friends, não foram deixados de lado. O show foi diversão pura para jovens e os mais velhos, que não deixaram no armário a inseparável camiseta dos Beatles.
Ringo Starr conquistou a plateia logo ao pisar no palco simplesmente por respeitá-la. Com o show marcado para começar às 20h30, a banda entrou no palco, precisamente, às 20h29. O baterista soltou a voz para cantar It don’t come easy exatamente na hora prevista. Uma aula de profissionalismo para muitos artistas brasileiros.
Fazendo sinal de “paz e amor”, Ringo é meio desengonçado cantando. Não tem lá essa voz toda. Mas é de um carisma ímpar. Um cara simples, sem frescuras. Com a torcida a seu favor, Ringo emendou Honey don’t e correu para a bateria (seu habitat natural) para tocar Choose Love.
A partir deste momento, começou o rodízio dos integrantes da All Starr Band nos vocais. Quase todos cantaram. Todos aparentando ter mais de 60 anos, mas com uma vitalidade impressionante. O primeiro a cantar foi Rick Darringer, que agradeceu ao público e anunciou que cantaria Hang on Sloopy. Poucos reconheceram a música pelo título original. Falando em português, Darringer esclareceu: “Pobre menina, não tem ninguém” (um clássico da Jovem Guarda, que ficou conhecida na voz da dupla Lenon e Lilian). Dessa vez o público entendeu e acompanhou em coro, em inglês.
Como uma banda de baile, Ringo e a sua All Starr Band fizeram um show alto astral. A prova dos noves foi quando tocaram Talking in your sleep, um clássico da banda The Romantics. Ringo só voltou a tomar a frente do palco para cantar I wanna be your man, da sua fase Beatles. Ninguém parou o som um só minuto. O ex-Beatle cantou menos do que muitos fãs queriam. Apenas seis canções. A maior parte delas da sua antiga banda. Mas não demorou muito para convocar o tecladista Gary Wright, que cantou Dream Weaver, no momento “balada” do show. Fez lembrar as festas dos anos 80, em que os garotos chamavam as garotas para dançar uma “lenta”.
A plateia ficou mais agitada quando Ringo saltou da bateria para cantar um clássico dos Beatles: Yelow Submarine. O público já estava preparado. Os beatlemaníacos sacaram dos bolsos bexigas amarelas que estavam sendo distribuidas antes do show começar. O cenário ficou bonito e emocionante. Aos 71 anos, Ringo já está preparado para essas surpresas. Sorriu, agradeceu, bateu a mão no peito, apontou para a plateia, apontou para alguém que estava feliz e mandando beijos. Mas é bom deixar claro: nada foi automático. Tudo na maior naturalidade. Esse foi o seu maior trunfo no show.
Mas, logo em seguida, o ex-beatle saiu de cena para que a banda tocasse Frankenstein, uma canção instrumental de muito peso. Foi quando o tecladista Edgar Winter roubou a cena. Com sua longa cabeleira branca, Winter fez o público ficar hipnotizado com solos de teclado, sax e percurssão. A música teve cerca de 10 minutos de duração. Foi de tirar o fôlego.
A partir deste momento, Ringo e a All Starr Band mostraram ao público que são bem amigos. Que fazem música por prazer e que são felizes por isso. Cada um tem o seu espaço e liberdade para criar. Sem estrelismos. Ringo voltou à cena para cantar Photograph. Os fãs responderam com fotos suas da época dos Beatles nas mãos. Depois, a tão aguardada With a Little help from my friends, canção do antológico disco Sargent Pepper’s Lonely Hearts Club Band. Por fim, Give a Peace a chance, de John Lennon.
Resultado: Todo mundo saiu do Chevrolet Hall feliz da vida. Som de primeira linha. Banda azeitada e um mito cantando e tocando bateria. Ringo Starr fechou sua passagem pelo Brasil no Recife por um motivo estratégico: a capital pernambucana oferece um voo direto para Miami que dura apenas cinco horas. E ele pode voltar para sua casa sabendo que sua passagem ficará marcada na memória dos fãs por mais de cinco horas, cinco dias ou cinco anos. Ficará para sempre.
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