O californiano Rusty Anderson era um menininho de 5 anos quando viu sua vida mudar ao ouvir um disco dos Beatles. Decidiu ser músico. Algumas décadas depois, encontrou-se em meio a outra reviravolta causada por aquele grupo de garotos britânicos: passou a integrar a banda de sir Paul McCartney. Aos 55 anos, o guitarrista está em Brasília para a apresentação histórica de hoje, no Estádio Nacional de Brasília Mané Garrincha, às 20h. Anderson recebeu o Correio na tarde de ontem para uma entrevista exclusiva, em um dos 110 quartos do hotel onde ele e a comitiva de Macca estão hospedados, no Eixo Monumental. Da janela da suíte não dava para avistar a arena onde o palco foi montado, e que deve receber mais de 40 mil pessoas logo mais. A Torre de TV, no entanto, chamou a atenção do instrumentista. “Chegamos à cidade à noite e ainda não deu para ver muito Brasília. Do avião, contudo, ela parece ser bem bonita”, disse, simpático.
Dividindo-se entre as turnês mundial ao lado de Paul e a carreira solo — ele comanda a Rusty Anderson Afternoon e grava com diversos outros artistas, como Elton John e Santana —, Anderson acredita ser abençoado por ter tido a oportunidade de integrar a banda do ex-beatle, a quem chama de “a maior lenda viva da música”. “Eu não planejei nada. Aconteceu!”, comentou. Na entrevista, ele revelou detalhes de como é o “chefe” nos bastidores, as músicas que já sugeriu para o repertório do astro e a participação do ídolo em um de seus trabalhos solo. Sobre acompanhar o vigor de Paul nos palcos, aos 72 anos, ele foi direto: “Se ele pode fazer, também podemos.”
Você lançou, há poucos meses, um EP com sua banda, a Rusty Anderson Afternoon. Como consegue conciliar o trabalho com Paul, que viaja tanto pelo mundo, com a carreira solo?
Bem, os últimos anos com Paul foram muitos intensos. Entre os shows que faço com ele, consigo tempo de ir para casa, ficar com minha família, gravar algumas coisas. Depois, volto ao trabalho com Paul. É maravilhoso, eu adoro. Sinto-me muito afortunado por ter tido essas oportunidades na minha vida, fazer música e viver desse jeito. Tento não me preocupar muito com isso, porque seguir a carreira de músico significa ter um trabalho em tempo integral. Eu faço porque é incrivelmente gratificante. Não estou desesperado para ser o maior artista do planeta: eu estou feliz de fazer o que faço.
Você o convidou para participar de seu primeiro trabalho solo, Undressing underwater. Como foi a experiência?
Ele tocou baixo, cantou… Foi surreal. Sabe o que surreal significa? Foi assim. A gente estava gravando e ele chegou um pouco atrasado. Aprendeu em cima da hora e cometeu um erro. Acabou blasfemando contra ele mesmo (risos). A música era Hurt myself. Ele ainda teve algumas ideias para o arranjo. Sugeriu colocarmos uma trompa, alguns instrumentos inesperados. Foi uma honra trabalhar com ele.
E como surgiu o convite para tocar com Paul, em 2001?
Como estive tocando com vários artistas em estúdio, o produtor David Kahne, com quem eu já havia trabalhado, me chamou para gravar o disco Driving rain, que Paul lançou em 2001. Foi fantástico. Demorou alguns dias para que eu ficasse realmente relaxado. Sinto-me mais confortável em tocar com as pessoas com quem tenho contato, converso, e demorou alguns dias até eu me acostumar a estar do lado de Paul.
Como é a convivência com ele fora dos palcos?
Nós nos vemos muito: voamos nos mesmos aviões fretados, passamos o som juntos, ensaiamos juntos, jantamos juntos, vamos a festas. Isso torna o processo de trabalho bastante orgânico. Paul desempenha mais funções ao mesmo tempo do que qualquer pessoa que tenha conhecido. Eu aprendo muito com ele. O Paul é muito caloroso, se lembra do nome de todos, presta atenção nas pessoas. Às vezes, as pessoas ficam meio fora de si na presença dele, e ele trata de acalmá-las. É uma pessoa maravilhosa.
Publicado no site do CORREIO BRASILIENSE, com versão integral apenas para assinantes.
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