Curiosidades

Stu Sutclife, o primeiro Ex-Beatle

Por Sergio Farias

Stuart Fergusson Victor Sutcliffe, escocês nascido em Edinburgo em 23 de junho de 1940, entrou para a história como Stu. Sua família mudou-se para Liverpool, onde ele – no final de 1959 -conheceu três guitarristas: John Lennon, Paul McCartney e George Harrison, do grupo Quarrymen, e que – numa opção arriscada – deixaram suas respectivas escolas para se dedicarem exclusivamente à música e convidaram Stu, que apesar de não saber tocar, foi convencido por John e Paul a comprar um baixo Hofner com as 75 libras obtidas pela venda de uma quadro para a John Moores Exhibition, uma das melhores galerias do gênero, tornando-se então o baixista da banda rebatizada de Johnny and The Moondogs, ao lado do baterista Thomas Moore.

Stu era o melhor amigo de John Lennon naqueles tempos. Saíam juntos e se divertiam, chegando até a se envolver em brigas – uma delas num bar em Liverpool em 1960, quando Stu foi violentamente espancado por uma turma.

Com a morte do roqueiro americano Eddie Cochran aos 24 anos, num acidente de carro perto de Londres em 17 de abril de 1960, durante sua triunfante turnê pelo Reino Unido, o promotor de concertos Allan Williams, da Jacarandá Enterprises, rejeitou várias propostas de grupos ingleses dispostos a cobrir o buraco na agenda. Dentre eles estavam os Johnny and The Moodogs, porém Williams – que era proprietário do Jacarandá Club, perto da escola de John e George em Liverpool – procurou John se oferecendo para empresariar o grupo.

Insatisfeitos com o nome Johnny and The Moondogs, os rapazes passaram a se chamar de Silver Beatles, pois John e Stu haviam sido influenciados pelo filme “O Selvagem” (‘The Wild One”, de 1954), com Marlon Brando. John teve então a ideia de fazer um trocadilho que fundisse a palavra beat, alusão à música beat, formando o nome beatles – Williams ainda conseguiu que o grupo fizesse uma turnê durante a primavera pela Escócia acompanhando um jovem cantor chamado Johnny Gentie, agenciado por Larry Parnes em Londres. A turnê foi um engodo e eles voltaram da Escócia sem dinheiro e furiosos com Parnes. No verão de 1960, de posse de um pequeno gravador de rolo, os Silver Beatles gravaram, algumas músicas sem bateria na casa de Paul em Liverpool, pois Tommy Moore havia deixado o grupo e eles não encontraram outro baterista a tempo. As gravações não levaram os besouros prateados a nenhum lugar e ficariam esquecidas por trinta e cinco anos. Em agosto, Paul McCartney -que às vezes era também o baterista da banda – convidou o baterista Pete Best para viajar com o grupo para Hamburgo, pois Allan Williams soubera que os grupos de Liverpool estavam fazendo sucesso e que havia possibilidade de enviar outro grupo, desde que fossem mais barateiros.

Logo Williams fez um acordo com Bruno Koschmeider, empresário alemão, para contratar o grupo para tocar POR três meses em sua boate Indra.

Pouco antes de embarcarem para Hamburgo de navio, os rapazes passaram a se chamar definitivamente de The Beatles. Chegaram a Hamburgo em agosto de 1960. Em Repperbahn, bairro barra pesada muito frequentado por marinheiros, traficantes, gigolôs e prostitutas, eles ficaram alojados num único quarto de fundos do cinema Bambi Kino, com vários beliches e sem janelas. O grupo tocava sete horas por noite, sete dias por semana no Indra, muitas vezes com auxítío de drogas estimulantes e muita cerveja. O repertório era de covers de rock’n’roll dos anos 50, basicamente americanos. Stu, como não sabia tocar direito, permanecia a maior parte do tempo de costas para a platéia a pedido de Paul – que achava que ele deveria sair do grupo por não ser um roqueiro autêntico.

Mas John insistia que Stu permanecesse e em setembro os cinco Beatles tiveram um dos encontros mais importantes de suas carreiras – com a fotógrafa Astrid Kirchherr, uma bela alemã imediatamente apelidada por John de “a Brigitte Bardot alemã”, e seu namorado Klaus Voormann, que logo se tornaram fãs da banda, a ponto de Astrid terminar o romance com Klaus ao se apaixonar por Stu. Ela criaria o penteado franjinha que celebraria o grupo anos depois e se tornaria uma febre mundo afora, além de registrar o grupo em fotos em preto e branco muito bem elaboradas. Após o fechamento do Indra Club pelas autoridades alemãs, devido ao barulho excessivo, os Beatles foram tocar em outra boate próxima do Indra – o Kaiserkeller, onde também estava fazendo temporada outro grupo liverpudiliano: Rory Storm and The Hurricanes, cujo baterista era Ringo Starr.

Em novembro George Harrison foi deportado pelas autoridades alemãs quando descobriram que ainda era menor. Stu e Astrid o acompanharam à estação de trem junto a agentes da policia e o grupo, mesmo sem seu principal guitarrista, continuou tocando no Kaiserkeller. Mas, após um incêndio acidental no quarto de dormir, e que envolveu Paul e Pete, a polícia os prendeu e os deportou em dezembro.

John também acabou voltando para Liverpool quinze dias depois, sem dinheiro e deprimido. Apesar das dificuldades, os Beatles estavam amadurecidos e melhor musicalmente e terminaram o ano de 1960 tocando no Casbah Coffee Club, de propriedade de Mona Best, mãe de Pete. Stu continuou em Hamburgo com Astrid, voltando a Liverpool somente em fevereiro de 1961 -para visitar os pais e amigos, mas logo partindo para a Alemanha duas semanas depois. Ele pretendia casar-se com Astrid, e cursar artes na Escola Estadual de Hamburgo, mas ainda tentaria uma volta aos Beatles em abril, quando o grupo estava de novo em Hamburgo para tocar três meses no Top Ten Club. Mas logo depois tornou sua decisão de deixar os Beatles definitivamente, pouco antes do famoso maestro e executivo da Polydor Bert Kaempfert convidá-los a fazer as bases e os vocais de acompanhamento para uma gravação de seu contratado, o cantor londrino Tony Sheridan. As gravações se realizaram no estúdio Friedrich-Ebert-Halle, em Hamburgo, nos dias 22 e 23 de junho. Sob a produção de Kaempfert, os Beatles e Tony Sheridan gravaram My Bonnie e mais cinco músicas. O disquinho acabou caminho para que os Beatles encontrassem não só o empresário Brian Epstein, como também o produtor George Martin e finalmente um contrato com a EMI.

Enquanto isso, em Hamburgo Stu e Astrid pareciam felizes – até que Stu, no final do outono, ele sofreu um colapso devido a fortes dores de cabeça. Mesmo sob cuidados médicos, outro ataque se repetiu com maior intensidade no final do ano – durante uma aula na escola de artes. Em fevereiro de 1962, outro colapso, agora agravado por uma febre e cegueira temporária, enquanto Stu pintava. Em março, Stu visitou Liverpool e o jornal local Mersey Beat noticiou o fato. Como uma viagem de despedida à terra natal, Stu, de volta a Hamburgo, teve outro colapso em 10 de abril, vindo a falecer nos braços de Astrid às 16:30, numa ambulância a caminho do hospital. No obituário divulgado na edição do Mersey Beat de 19 de abril de 1962 estava: “Há dias de completar 22 anos, Stu Sutcliffe morre de derrame cerebral”. Os amigos íntimos sempre acreditaram que sua morte se deu por conta do espancamento sofrido num bar em Liverpool, dois anos antes. Os Beatles chegaram a Hamburgo um dia após a morte de Stu, para uma temporada de sete semanas no Star Club, quando foram surpreendidos pela má notícia dada por Astrid.


Publicado Originalmente no INTERNATIONAL MAGAZINE Ed. 86

Comente

Clique Aqui Para Comentar

Quer comentar?

Editor

José Carlos Almeida

+55 11 95124-4010