Novembro de 2010 virou data inesquecível na memória e na história da beatlemania nacional. Culpa de Paul McCartney. O beatle que não pára. O beatle que não quer parar. O beatle que não pode parar. Nunca. Sem ele será que os outros três teriam a mesma disposição de fazer por nós o que ele faz?
Paul nem precisa mais dizer, ‘stand be feet on the floor’ porque obedecemos automaticamente. E choramos cantamos gritamos e nos extasiamos enquanto ele comanda com sua inesgotável paciência e as canções que o tempo não desgasta. Não temos mais a banda. ‘The Beatles’ parou há muitos anos e não tem mais como ser remontado. Mas com Paul a beatlemania sobrevive incólume às marcas do tempo. Ou não teríamos nos estádios a diversidade de fãs de ontem e de hoje a se misturar na mesma torrente de emoções.
Se de um lado Paul McCartney tem 68 anos cronológicos, de outro o tempo dele é o presente. No ‘Beira-Rio’ as mocinhas de vinte e poucos que berravam ‘lindo, lindo’ – se descabelaram por um sujeito que poderia ser avô delas. No sonho da vida real o impulso e o sentido da coisa é outro. Não é a tatuagem do autógrafo no braço que se eterniza. É Paul e os Beatles. Porque é assim? Porque esses doces momentos não são para explicar, mas para sentir e viver.
Melhor ainda é que contrariam o enunciado de My Generation, o clássico do The Who. Porque na realidade a idade do rock não é a minha ou a sua ou a de Paul, Bob Dylan ou Ringo Starr. É o agora. É o tempo de todos. No outro extremo, os colecionadores – os tais que se julgam ‘entendedores de Beatles’ acima dos demais mortais – também reagem a Paul com deslumbre maduro emocional e pessoal. Só querem se juntar ao coro de Hey Jude, agregados ao sonho coletivo.
Nem John Lennon pensou que o mais próximo da utopia pregada na letra de ‘Imagine’ estaria numa mega apresentação de seu parceiro Paul McCartney, quatro anos prá lá dos 64. O próprio Paul achava em 1967 que ninguém lhe daria de comer nem se importaria com ele quando virasse um sexagenário. Errou feio. O baixista dos Beatles consegue fácil misturar, entrelaçar, unir e agregar sem bíblia, sem poder político ou falsas promessas. Pelo contrário. Quando Let it Be começa, a impressão é de que o almejado nirvana estará na próxima esquina, depois do concerto. ‘The movement you need is on your shoulders’? Certamente.
Nos estádios da vida como nas arenas dos gladiadores o público é separado entre os que podem mais e os que podem menos. Mas não importa se por um momento somos hot Vips gramados livres pistas Premium ou arquibancadas. O âmago da coisa toda é maior porque nos engolfa no mesmo caleidoscópio. Somos pássaros do paradoxo convergindo na direção de São Paulo ou onde quer que a emoção nos conduza. É um tipo de mágica que só Paul McCartney consegue. Sozinho.
Já pensou se fosse a banda toda? Um concerto dos Beatles? Os quatro ao vivo em 2010? Onde? Não sei, mas não seria no Morumbi nem no Maracanã nem no Tokyo Dome porque não caberia. Teria de ser sem barreiras sem fronteiras sem delimitações para espalhar três vezes mais emoção que Paul McCartney distribui sozinho quando se vai depois de três horas de paixão e ainda berra enigmático: ‘see you next time’. Os Beatles são o único caso de amor eterno. ‘We’ll be there’.
CLAUDIO TERAN
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