Pessoal,
Fiz uma tradução o texto do Sean na Signature Box; ele estava praticamente me exigindo isso, até sonhei com isso. Vai em seguida ao corpo da mensagem.
Achei que na parte não musical do pacote, esse texto foi sem dúvida um destaque. Não sabia que o Sean escrevia bem assim. Além de muito emotivo sem ser piegas, o texto é muito bem costurado, e as linhas que o Sean puxou no primeiro parágrafo foram sendo entranhadas umas nas outras ao longo das linhas, realmente criando uma trama que conduz tanto o autor quanto o leitor muito bem da experiência individual à universalidade.
Vale a pena ler com calma. O do Julian não chega aos pés. O da Yoko não se equipara às bonitas linhas do Anthology, mas começa com a frase “John is still everywher”, que me chamou muito a atenção, porque foi exatamente o que meu primo me falou quando meu padrinho infelizmente nos deixou. Desde então, brinco que desenvolvi uma espécie de mediunidad e, porque agora fico percebendo em todo lugar a presença não só dos mortos, mas dos vivos, das coisas, das idéias, etc.
Abraços e o texto está logo a seguir.
Guilherme Lentz
“Sobre o papai devo admitir que sempre tive um pouco de inveja do mundo por ter tido mais tempo com ele do que eu tive. Enquanto crescia não me lembro de um dia sem que alguém me tenha contado alguma história a respeito dele. Havia aqueles que o conheciam bem, mas a grande maioria nunca se encontrara com ele. Todos falavam como se o tivessem conhecido, e o fato é que o conheceram. Meu pai tocou as vidas de todo um planeta, deu forma ao mundo a meu redor, e penetrou as mais profundas e íntimas partes da psique humana. Ele não era meu, nunca foi, ele era para todo mundo.
Minha única chance de ter um relacionamento com meu pai foi me tornando músico. Lembro a primeira vez em que tirei uma canção no piano. Não foi “Imagine” nem “Yellow submarine”. Eu tinha seis anos de idade e pela primeira vez desde a morte dele era como se ele estivesse ali comigo novamente. Daquele momento em diante em cada novo acordo que aprendi, em cada novo instrumento que toquei, e quando chegou a hora em cada nova canção que compus, eu senti que estava me aproximando dele de certa maneira. Ainda hoje a única razão pela qual eu toco música é para conhecê-lo. Essa é a única forma de conexão que tenho.
Na minha adolescência, quando minhas habilidades musicais se desenvolviam, comecei a perceber a enormidade do que meu pai conquistou como compositor e letrista, e também como uma personalidade cultural e política. Por volta dos quinze anos eu aprendera praticamente todas as canções dos Beatles, nota por nota, voz por voz, palavra por palavra. Estudar as composições dele intimamente era um outro grande passo no sentido de conhecê-lo, e hoje o repertório dele é uma parte inata do meu vocabulário musical. Aprender a linguagem de Lennon me permitiu manter meu pai perto de mim em todos os momentos, em meus ouvidos, em minha cabeça, e em meu coração.
Tenho consciência de que o que acabei de dizer se aplica à maioria dos músicos, e não músicos de hoje. E agora que sou um pouco mais velho, percebo que minha experiência de conexão com meu pai me conectou a todo o mundo. Sou parte de uma família global que vai muito além da materialidade da carne e do sangue. A música que ele criou, e os princípios que ele promoveu permearam as tramas de nossas de nossa sociedade. Tenho muita honra em chamar John Lennon de meu pai, e compartilhá-lo alegremente tanto com as gerações passadas quanto com as futuras.”
Sean Lennon
9 de agosto de 2010
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