Não por acaso, Túlio Mourão escolheu a faixa mais radical de Come together – Túlio Mourão plays Beatles, o primeiro disco não autoral, em mais de 40 anos de carreira fonográfica, que ele lança hoje à noite, no teatro de câmara do Cine Theatro Brasil Valourec. “Foi proposital, porque a faixa já acena para outra proposta. Ela entrevê que são possibilidades abertas”, diz a respeito de Lady Madonna, de John Lennon e Paul McCartney, que ele toca no piano acústico, acompanhado apenas do xará Túlio Araújo no pandeiro.
“Quando ouço um trio de jazz clássico tocando Beatles, percebo que a nossa proposta é diferente”, acrescenta o pianista, salientando que, além de trânsito para o pop, a versão dele para a produção musical do quarteto de Liverpool abre espaço para a malícia brasileira. Afinal, por mais que o pandeiro, tão caro ao mundo do samba, tenha se aprofundado no universo do jazz nos últimos tempos, ele continua sendo um instrumento nativo.
Bossa e rock Túlio Mourão integrava um trio de bossa nova na cidade natal, Divinópolis, quando os Beatles entraram na vida dele. “Mesmo diante da moldura ideológica da época, em que o nosso modelo era o Zimbo Trio, eles chegaram e me arrebataram”, recorda, emocionado, o músico, que integrou, de 1973 a 1974, o grupo Mutantes, cuja ponte com os Beatles, em termos de forma, como faz questão de lembrar, era frágil.
“Naquele momento, os Mutantes estavam fascinados pelo rock progressivo: Yes, Emerson Lake & Palmer. A sonoridade do órgão e do sintetizador era a novidade”, lembra Túlio, que, desde então, já era completamente beatlemaníaco. Mesmo com a cabeça feita pela arte nacionalista e engajada que se destacava no Brasil, via música, teatro e cinema, ele não resistiu aos encantos das canções de John, Paul, George e Ringo. Não por acaso, portanto, Túlio Mourão diz que as canções dos Beatles tiveram força suficiente para torná-lo músico.
Acompanhado de Eneias Xavier (baixo acústico e elétrico), Pablo Souza (baixo acústico), Vagner Faria (baixo elétrico), Lincoln Cheib (bateria), Edvaldo Ilzo (bateria) e Túlio Araújo (pandeiro), ele gravou clássicos do quarteto inglês, a maioria em formato de trio. “O trio dá muita transparência. É muito sintético e estimula todos os instrumentistas a ocuparem espaço”, justifica Túlio, que gravou ‘Can’t we said today’, ‘Black bird’, ‘She’s leaving home’, ‘Eleanor rigby’ e ‘Come together’, entre outras, além da citada Lady Madonna.
Hoje à noite, Túlio Mourão estará acompanhado apenas de Edvaldo, Vagner e Eneias. Nos próximos dias, ele leva o show de lançamento do CD, produzido por meio do financiamento coletivo para o Sesc Pompeia, em São Paulo (dias 17 e 18) e Arraial d’Ajuda, na Bahia (dia 28). Com mais de 40 anos de carreira, o pianista iniciou-se, profissionalmente, em 1972, quando teve a canção Corpo a corpo, da parceria com Nelson Motta, defendida pelo cantor Fábio, no Festival Internacional da Canção de 1972.
TÚLIO MOURÃO PLAYS BEATLES – COME TOGETHER
Nesta quinta-feira, às 20h, no Teatro de Câmara do Cine Theatro Brasil Valourec (Praça 7, s/n°, Centro). Ingressos a R$ 20 e R$ 10 (meia-entrada). Informações: (31) 3201-5211. O CD será vendido no local a R$ 25.
Fonte: UAI
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