Paul McCartney

Yahoo: Paul McCartney não consegue gravar um álbum ruim

Chega a ser engraçado ver como os fãs, estes eternos retardados, acham que Paul McCartney deve sempre mostrar o som que o conecta com o passado ‘beatlemaníaco’. Espertamente, o velho Macca é esperto suficiente para aceitar parcialmente a súplica de seus admiradores. Quando ele lança um novo álbum de estúdio, é de esperar que o resultado final seja um bálsamo para uns e uma lufada de ar fresco para outros. No caso deste estupendo New, Paul sabe exatamente o nome do jogo e suas regras, mas burla tudo isto de um modo brilhante.

Em certos álbuns, a concepção democrática de cada integrante certamente esbarra na liderança de alguém. No caso de New, a liberdade de trabalho dos quatro produtores escolhidos para trabalhar no disco – Mark Ronson (conhecido por seu trabalho com a falecida Amy Winehouse), Giles Martin (filho do lendário George Martin), Paul Epworth (parceiro de gente como Adele e Florence and the Machine) e Ethan Johns (filho do lendário produtor Glyn Johns e conhecido pelos discos que gravou com o Kings of Leon) – se espalhou até a fronteira dada pela palavra final de Paul, que como sempre seguiu certos princípios que sempre nortearam a qualidade de seus álbuns, tornando ainda mais explícito aquilo que todo artista deseja e que ele conseguiu há décadas: a liberdade artística total e irreversível.

A maneira como ele expressa suas lembranças e a felicidade que vive neste momento atual de sua vida é não menos que robusta. Além de exibir altas doses de otimismo espalhadas ao longo de todas as faixas e provas inequívocas de que seu lendário senso de melodia continua intacto, Paul voltou a ser um cara feliz, com um casamento novinho a lhe ajudar na hora em que a inspiração tende a não surgir tão facilmente. Desta forma, ele não teve o menor pudor em mostrar duas vertentes distintas e interligadas ao mesmo tempo em New: enquanto há alguns timbres e ritmos um pouco mais ‘modernos’, é também um dos álbuns em que a velha “sonoridade Beatle” está ainda mais realçada, principalmente em faixas como “Queenie Eye” e a faixa título, uma espécie de ‘prima irmã’ mais gordinha de “Penny Lane”. Sem desconectar do passado, “I Can Bet” poderia ter sido facilmente incluída em qualquer disco dos Wings dos anos 70.

A linda e levemente autobiográfica “On My Way to Work” tem em sua cadência folk uma aliada importante na hora de realçar a bela melodia e até mesmo um certo peso em seu miolo. As lembranças do passado retornam na belíssima “Early Days”, em uma claríssima alusão aos tempos em que ele e seu amigo John Lennon perambulavam por Liverpool com violões nas costas e com os cabelos cheios de brilhantina. “Alligator” e “Everybody Out There” são daquelas canções simpáticas e doces que Paul sabe fazer como ninguém, sendo que esta última certamente vai fazer com que as plateias botem seus “ôooooooosss” para fora, enquanto que “Save Us” é um bom rock, apesar de a produção ter aberto mão de um timbre mais pesado e orgânico para a bateria. Já a balada “Hosanna” tem uma tensão que destoa um pouco do restante do álbum, embora esta característica seja um de seus méritos.

Lembra quando Paul disse tempos atrás que buscava o frescor das novas sonoridades e muita gente aqui no Brasil andou alardeando de modo picareta e equivocado que ele havia gostado de funk carioca? Não? Então relembre o que escrevi aqui. Bem, voltando ao assunto, não só esta presepada era mentirosa, como o resultado desta ‘abertura de mente’ está nas suingadas “Appreciate” e “Looking at Her”, muito mais por conta das batidas rítmicas mais próximas do moderno r&b do que qualquer outra coisa. E para não dizer que Paul não ouviu outras coisas além disto, basta dar uma ouvida em “Road” em sacar que Paul tirou a poeira dos antigos LPs do Kraftwerk que ele deve ter em casa.

Alguns elogios devem ser feitos à edição nacional de New, lançada com seu encarte original e – o melhor – com as duas bonus tracks de sua edição “deluxe” importada, já que tanto a implícita homenagem ao Travelling Wilburys em “Turned Out” como o folk ‘ledzepelliano’ de “Get Me Out of Here” (quem tem um a outra canção escondida ao seu final, “Scared”, uma ode à sua nova esposa, só com voz e piano), são faixas dignas de figurar entre as melhores coisas que Paul fez nos últimos tempos.

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José Carlos Almeida

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