Fonte: Rolling Stone
Em 2010, Yoko Ono não tem tempo para nada que não se relacione à memória de John Lennon. “Este ano é inteiro para o John”, ela explica, por e-mail. Exageros à parte, a viúva tem motivos para se dedicar: neste mês o beatle completaria 70 anos e, em dezembro, completar-se-ão três décadas do assassinato dele.
Como parte das comemorações, Yoko coordenou o processo de remasterização dos álbuns da fase solo do músico, de John Lennon/Plastic Ono Band (1970) ao póstumo Milk and Honey (1984). Abaixo, a íntegra da entrevista.
Você sempre foi muito cuidadosa com o catálogo de John Lennon. O que a fez querer remasterizar esses discos? Você tinha uma ideia específica do que queria com o “novo som” deles?
Eu não tinha ideia. Eu nem sabia se haveria algo que eu pudesse fazer. Eu não queria só ficar brincando [com as músicas] para simplesmente fazer algo com elas. Mas, quando ouvi as músicas, eu vi que era importante remasterizá-las. O tempo gasta tudo.
Double Fantasy foi uma espécie de volta para o John, que estava sem lancer músicas novas havia cinco anos. O que você pode contar sobre a gravação desse álbum?
Foram sessões muito, muito empolgantes. John estava “para cima” o tempo todo. Ele simplesmente estava muito feliz em estar de volta ao estúdio.
Você disse, anteriormente, que a versão Stripped Down desse disco reforça a voz de John Lennon. Fala-se muito que ele era inseguro quanto a ela. Era mesmo?
Eu sei, ninguém acredita. Mas sim. John não estava gostando de colocar a voz dele nas músicas, na época desse disco [Double Fantasy]. Em muitos dos discos anteriores, a voz dele estava mais alta. Então é um ponto interessante, na verdade.
Os discos experimentais não estão nesse pacote novo, assim como não estão os diversos filmes que vocês fizeram juntos. Existem planos para esse material?
As coisas experimentais – músicas e filmes – serão lançadas algum dia. Mas não agora.
Olhando para trás, você acha que a percepção do público em relação ao John Lennon mudou? Você acha que no futuro ele pode ser lembrado mais como um ícone e menos como um ser humano?
Não há preocupação quanto a isso. Ele era humano e não escondia esse fato. Está tudo nas músicas dele.
Na época do projeto Anthology, George Harrison, Ringo Starr e Paul McCartney teriam trabalhado em outras faixas de Lennon – “Now and Then”, “Grow Old With Me” e “I Don’t Want to Lose You”. Essas músicas serão lançadas?
É possível.
Os discos remasterizados de Lennon também serão vendidos na internet. O mesmo não ocorre com as canções dos Beatles. O que deu errado naquela negociação?
Temos um pacto de não falar sobre lançamentos dos Beatles até que tenhamos soltado um release de imprensa sobre eles. Mas nada deu errado.
“Imagine” é uma faixa que manteve sua relevância ao longo dos anos, ainda sendo tocada e gravada por gente como Madonna, Anthony Hegarty e Pitbull. Na sua opinião, o que a faz ser tão única?
Você deveria julgar isso. Não eu.
Falando da Gaga, você se surpreendeu com a confusão entre os fãs quando ela publicou uma foto na qual estava tocando o piano branco?
Bom, sim. Eu acho que o piano também está mais feliz agora.
Você pretende fazer uma turnê grande com a Plastic Ono Band? Ou gravar um disco novo?
Não. Acho que voltarei ao estúdio para gravar o próximo álbum. Mas não este ano. Este ano é inteiro para o John.
Você é bastante ativa na internet, tanto no Twitter quanto no seu site oficial. Isso é importante para você?
Só estou me divertindo e gosto de manter contato com os fãs de John e Yoko porque assim podemos compartilhar boa energia!
O que você acha do comércio construído em volta da memória de John Lennon? Algumas coisas estranhas têm ocorrido. Como a venda de uma privada que ele usou. Não é estranho que algo completamente irrelevante à arte dele ganhe valor financeiro?
Tudo é arte, de certa forma. E a Fountain, do Duchamp? Tudo bem se quiserem um vaso sanitário, não é nada diferente de quererem um boné que o John tenha usado.
Por falar em arte e no valor dela, o grupo brasileiro Filé de Peixe tem uma performance chamada Piratão, na qual eles vendem cópias ilegais de trabalhos feitos por gente como Andy Warhol e você. O que você acha disso?
Se for bem feita, deve ser uma performance interessante.
Houve uma conversa sobre você e Tomie Ohtake trabalharem juntas em uma estátua de John Lennon. É verdade?
Era para colaborar em uma escultura, não uma estátua de John Lennon.
Também disseram que você estaria escrevendo uma autobiografia. É verdade? O que podemos esperar dela?
Não estou escrevendo. É um boato.
Em “God”, John canta que só acredita nele mesmo e em você. Em quem você acredita?
Eu acredito na maior parte das coisas da vida. A beleza da natureza, a amabilidade dos animais, a sabedoria do homem. O milagre deste planeta. A força do universo. Eu acredito em mim.
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