Tudo começou em 1977, eu tinha apenas 10 anos e estava na casa de um amigo meu, quando o irmão mais velho colocou o Help nacional para tocar. Fiquei maravilhado com aquele som, nunca tinha ouvido nada igual. A música que mais me tocou foi “The Night Before”. Perguntei ao irmão do meu amigo quem cantava aquela música e ele respondeu: Paul McCartney. Ouvíamos o disco repetidas vezes, não sei como não furamos o disco. Como eu não tinha radiola, todo dia ia a casa desse amigo para ouvirmos o som mágico daqule “bolachão”. Depois, começou a chegar outros, “With the Beatles”, “ For Sale”, “ Rubber Soul” e cada um desses, nos reuníamos e ouvíamos várias e várias vezes. Consegui comprar minha radiola e fazer minha coleção. Pronto, desse dia e diante nunca mais deixei de ouvir, colecionar tudo sobre Beatles e especialmente Paul McCartney.
O tempo passou em 1980 houve a trágica morte do John Lennon e em 1990, o grande ano para todos que amam os Beatles, Paul McCartney faria shows no Brasil. Não tive dúvidas, fui aos 2 shows. Quando pela primeira vez o vi, não só eu, mas todos choramos no Maracanã. Eram gerações de avôs, filhos e netos, unidas pelo Paul. Ouvi muitos pais falarem aos seus filhos com olhos cheios de lágrimas: “conheci sua mãe nessa música” ou “começamos a namorar nessa música”. Foi fantástico, especialmente em “Hey Jude”, o coro de 184.000 pessoas. Com isso a admiração aumentou mais ainda, principalmente o desejo de conhecê-lo de perto, conseguir um autógrafo.
Três anos se passaram e novamente outra visita ao Brasil ( SP e Curitiba ) e lá estava eu de novo, dessa vez acompanhado pela minha esposa Fátima. Nesse ano não pude receber presente de aniversário de casamento melhor. O show de Curitiba foi exatamente no dia do nosso primeiro ano de casados e na ocasião Paul cantava “Here, There and Everywhere”, a música que escolhi para entrar na igreja no dia do casamento. Quem se lembra em SP, ele jogou uma toalha de rosto para o público, a qual foi rapidamente triturada por nós, cada um queria um pedaço, eu fiquei com 3 fiapos, dos quais plastifiquei. No dia que Paul ia embora, um grupo combinou de ir para o aeroporto, estávamos no Cavern de Luiz Antônio e Cláudia Tapety estava organizando a ida. Pedi ao meu primo que me levasse a Guarulhos, porém ele disse que era muito longe, teria que pegar 3 ônibus, metrô, etc. Meu tio não tinha carro e acabei não indo. Ao chegar em Recife, Cláudia me liga e contou que o grupo ( 8 ou 10 pessoas ), fizeram um cartão de natal para Paul e Linda, pediram para entregar no jato particular, Paul chegou de helicóptero ( estava no Guarujá ), acenou para o pessoal e entrou no avião. Todos esperaram a decolagem, mas aí, de repente, a porta do avião abre e o Paul foi falar com esse seleto e sortudo grupo e distribuiu autógrafos. Fiquei acabado, perdi uma chance única de poder vê-lo de perto e ter um autógrafo. Chorei muito, fiquei deprimido e 2 anos sem ir a casa de Cláudia para ver o autógrafo.
Jejum de 17 anos. Vários shows pelo mundo e nada do Paul no Brasil. Em outubro de 2006 fui a Londres para um simpósio de 4 dias (infelizmente não fui a Liverpool). Mas conheci e atravessei descalço a famosa faixa da Abbey Road e consegui tirar fotos sentado nas escadas a frente da porta principal do estúdio. Ao retornar ao Brasil, dias depois foi anunciado que em novembro Paul iria fazer uma tarde de autógrafo em uma loja em Londres. Foi muito azar o meu, apenas 15 dias após eu ter voltado ao Brasil, me lembrei de 93 em SP. Com certeza se estivesse lá, não perderia a chance. Dormiria na fila para pegar a pulseira de identificação. Em 2010, não aguentando mais a saudade de vê-lo ao vivo e boatos de ser a última turnê e nada de Brasil, resolvi ir para Miami, apenas para o show. Após esses 17 anos, estar diante dele ao vivo, foi maravilhoso. Pena que fiquei a uns vinte metros do palco. Quando o show começou eu e Cláudia Tapety (nossa guerreira), fomos lá para a grade e ficamos por 5 músicas, quando chegou os seguranças mandando todos voltarem para os seus lugares. Voltei primeiro, Cláudia ficou por mais duas músicas, brigando com os seguranças, até voltar escoltada.
A alegria voltou após os anúncios de visitas ao Brasil. Primeiro em Porto Alegre, onde tive o prazer, a alegria de ir ao show com meu filho, já beatlemaníaco, Rafael. Depois os dois de SP e dois no RJ (novamente com Rafa). Em agosto de 2011, fui a um congresso em Paris e, como sei que a filha do Paul faz desfiles de moda e que na maioria das vezes ele vai, não tive dúvida, fiquei os 7 dias andando com uma foto do Paul no bolso, caso encontrasse com ele. E novamente para o meu azar, o desfile realmente ocorreu, o Paul foi, andou pelas ruas e parques, o local do desfile era na esquina do meu hotel, porém 10 dias, apenas 10 dias após a minha volta ao Brasil. É muito azar!
Nova turnê e dessa vez dois shows na minha cidade e Floripa (que também fui). Um fato importante dessa nova turnê, foi o acréscimo no setlist de “The Night Before” e “Maybe I’m Amazed”, que são 2 músicas que sempre quis ver ao vivo. A primeira, como já comentei anteriormente e a segunda por motivo histórico e por ser uma das mais belas e emocionantes músicas de Paul (me acabei de chorar nas duas). A partir do show de POA e RJ eu levava uma faixa, feita de cartolina, porém em POA antes de entrar no estádio, devido a um pequeno tumulto na fila, perdi a cartolina, no RJ ao levantá-la, alguém a puxou, porém em Recife, fui a uma loja especializada e fiz um banner com fundo preto e letras amarelas: “Paul você só chama garotas ao palco, por favor, nos chame, pai e filho”.
No primeiro dia, ficamos o quarto a partir da grade e não consegui mostrar. No segundo dia parece que tudo conspirou para dar certo. Deixei Rafa dormindo e fui para a fila por volta das 10h. No caminho disse a minha esposa que lavasse a roupa do Sgt. Pepper, pois Rafa não queria ir no segundo show com a roupa, porque era muito quente, mas eu disse que lá ele trocava. Por volta das 13h, Brian (segurança do Paul) passou pela fila fazendo uma contagem. Em relação ao dia anterior tinha bem menos pessoas e nos convidou para o sound check. Nesse momento bateu meu desespero, pois Rafa não tinha chegado. Brian disse: “follow me” e eu fiquei chorando. Quando o grupo estava a cerca de 100 metros, indo em direção ao outro portão eu corri para alcançá-los, ao mesmo tempo que ligava para minha esposa para vir o mais rápido possível. No portão o Brian fez outra contagem e disse ao outro segurança do Paul (um alto careca), que a partir dali, do último da fila, não entraria mais ninguém e apontou pra mim e disse: só o filho dele. Em 5 minutos Rafa chegou e conseguimos entrar. Após cerca de 1 hora, fomos levado para um local dentro do estádio, Brian pediu para todos sentarem e disse que infelizmente não poderíamos assistir a passagem do som, pois alguém do pacote Hot Sound descobriu e ameaçou processar a produção, pois eles tinham pago e nós não. Mas ele nos deixou dentro e conseguimos ouvir toda a passagem do som, inclusive pelo telão.
Rafa já estava vestido de Sgt Pepper e eu comprei um programa caso subíssemos no palco, pois o vinil deixei na rua com a correria. Quando fomos liberados, Rafa correu e pegou a grade à esquerda do Paul e ele sempre se vira mais para a esquerda. Ficamos mostrando o banner o show inteiro e ele fazia sinal com a cabeça e piscava o olho, como se tivesse lido. Eu e Rafa cantamos várias músicas abraçados e de mão dadas, isso também ajudou, porque Paul é muito família. Perto do fim do show eu juntava as mãos e dizia: “please”. Durante “Yesterday” vi que o Brian chamou uma garota lá na lateral esquerda, pensei comigo: “pronto, vai chamar menina de novo”, pois a distância era grande. Fiquei olhando se outra menina seria escolhida, quando percebi que os 2 seguranças vinham com uma lanterna lendo os cartazes e se aproximando, aproximando, o nervosismo aumentado e quando chegaram a nossa frente, leram o banner e disseram: “Dad and son come on”. Não acreditei, Rafa pulou rapidamente a grade e eu tendo dificuldade, pois uma menina queria a todo custo ir. Dei-lhe um empurrão e pulei a grade. Na subida ao palco vi que tinham 2 meninas que não foram escolhidas e o Brian botou elas para fora, dizendo que nós três tínhamos sido a escolha do Paul, elas imploraram, mas outro segurança as tirou.
Visivelmente eu estava tão nervoso que um dos seguranças perguntou se eu não ia desmaiar e eu respodi: “I’m fine, I’m OK”. Primeiro entrou Cecília, de Brasília, depois eu e Rafa. Ele nos recebeu super bem, perguntando nome e de onde éramos, depois autografou o programa da turnê de Rafa e uma foto que eu tirei do programa antes de subir. Após o abraço, não sei como tive forças para dizer algo e saiu: “Paul, obrigado por fazer o mundo melhor com sua musica”, nessa hora ele disse: “oohhh!” e colocou a mão em meu rosto, como sinal de agradecimento. Sem dúvida, um dos melhores momentos da minha vida, nunca pude imaginar que seria dessa forma, em minha cidade, conseguir falar com Paul, ter autógrafo e um abraço. Quando descemos, liguei imediatamente para minha Fátima, chorando como uma criança. Imediatamente várias pessoas vieram para tirar fotos, bem como pessoal da imprensa local, mas a pessoa que eu mais queria ver naquela multidão era a Cláudia Tapety, pois ela sabia o quanto eu desejava aquele encontro, foi muita emoção.
Quero agradecer a Deus por essa dádiva, a minha esposa Fátima por entender essa loucura, a Cláudia Tapety que sempre acreditou nesse dia, Gustavo Montenegro, Jr, Lenira, Heloísa, Bruno (que fez a filmagem e postou no youtube), grande Ricardo Martinelli (que fez fotos maravilhosas), a todos que conheci na fila para os shows em POA, SP, RJ (Fernando, Júlia e Lívia, que conheci na fila e fizemos uma ótima amizade, ficando em minha casa aqui em Recife) e Recife, pelas palavras de carinho que recebi.
Forte abraço, all the best,
Hermilo
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