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Loja Modern Sound pode fechar as portas

 
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RIO – O imenso salão lotado, na noite de segunda-feira, no show de lançamento do CD de estreia de Juliana Caymmi, em nada rimava com a notícia de que a Modern Sound estaria com seus dias contados. Mas, poucas horas antes, Pedro Passos, o fundador, há 44 anos, da tradicional loja de discos, admitira que iria entregar o ponto, na Rua Barata Ribeiro. As dívidas acumuladas nos três últimos anos inviabilizaram o negócio, mesmo que o bistrô, criado há dez anos para shows, continue sendo um sucesso, com programação agendada até 28 de dezembro.

– Tentamos encontrar parceiros e não achamos. Em agosto de 2009, iniciamos um acordo judicial para rolar a dívida, mas a pressão dos bancos foi muito forte. Com o atraso no aluguel, a situação ficou insustentável, e chegamos a um acordo com o proprietário. Nosso contrato iria até 2016, mas, em troca da dívida, entregaremos o imóvel no dia 31 – disse Passos, em casa, na manhã de terça-feira, acompanhado de seu filho, Pedro Otávio, que completou:

– Nos últimos anos, meu pai usou todos os seus bens, que não eram muitos, para tentar salvar a loja. Começamos o mês já devendo R$ 350 mil, entre aluguel, funcionários, encargos sociais, impostos… Enquanto isso, boa parte do nosso público potencial baixa gratuitamente pela internet CDs, filmes, livros.

Além da grande rede e da pirataria física – esta, segundo Pedro Otávio, nunca chegou a afetar a Modern Sound -, a política praticada pela indústria do disco a partir dos anos 90, vendendo grandes lotes de CDs a preço baixo para supermercados e lojas de departamento, foi um tiro no pé, acabando com as pequenas lojas de rua.

– Eles banalizaram o produto CD. Alguns títulos, nós comprávamos mais barato nesses magazines do que diretamente com as gravadoras. Há dez anos, eram cerca de 40 lojas de disco em Copacabana. Ultimamente, só restava a gente – comentou Pedro Otávio, negando que a ampliação da Modern Sound em 2000, quando criou seu palco para shows, tenha sido um passo em falso. – Na época, o negócio ia muito bem. Há cinco anos, percebemos uma estagnação e, nos últimos três anos, só perdemos dinheiro.

    ” Nos últimos anos, meu pai usou todos os seus bens, que não eram muitos, para tentar salvar a loja. Começamos o mês já devendo R$ 350 mil, entre aluguel, funcionários, encargos sociais, impostos… “

Para colecionadores é um baque, o fim de uma era, mas os Pedros, pai e filho, não pretendem desistir.

– Estamos procurando um imóvel menor em Copacabana. Até lá, vamos vender nosso estoque com descontos de 30% – adiantou Passos.

Enquanto a Modern Sound não renascer, muitos órfãos vão lamentar. Além de consumidores, músicos, produtores e executivos da indústria, como João Augusto, dono da gravadora Deck e que, este ano, reabriu a que hoje é a única fábrica de LPs de vinil na América Latina.

– Artistas independentes, além de gravadoras, multinacionais ou independentes, tinham na Modern Sound um local garantido para seus títulos, e ainda com a vantagem do bistrô para pequenas apresentações. Lá encontrávamos de tudo, enquanto em outras lojas ou redes a oferta era sempre limitada aos produtos mais populares – diz João, que arrisca um diagnóstico para a crise. – A queda de vendas de CDs se iniciou no momento em que o formato passou a ser oferecido nas bancas de supermercados e nos saldões de grandes redes de lojas de departamento. O produto CD perdeu todo o seu glamour. Remando contra a maré, a Modern Sound manteve a classe do produto. É uma perda imensa, que nos surpreende porque pensávamos que, exatamente por ser diferente, ela se manteria por muito tempo.

Para o cantor e compositor Marcos Valle, a perda é irreparável:

– Além de uma loja sofisticada, virara uma casa de shows excelente, perfeita para o lançamento de CDs, com shows que atraíam grande público e davam trabalho a muitos músicos. Sinceramente, lamento profundamente, como o fiz no fechamento do Mistura Fina.

Outro cantor e compositor, Ed Motta, lembra que pisou pela primeira vez na Modern Sound há quase três décadas:

– Eu tinha 10 anos e, desde então, esse foi o lugar que me abasteceu de milhares de títulos fundamentais para a minha formação.

O compositor Ronaldo Bastos, também sócio da gravadora Dubas Música, lamenta o fim de “um oásis de cultura e sofisticação”:

– Quando uma instituição como a Modern Sound fecha, o que se perde é o que a indústria da música mais precisa e, paradoxalmente, deixou se esvair pelo ralo: mágica – diz Bastos, que aponta outros vilões. – É lamentável ver que essas ilhas estejam sendo submersas enquanto quem deveria procurar a solução repete um discurso técnico contaminado por essa vanguarda do atraso que hoje toma conta da mídia e das instituições culturais, arrotando de boca cheia bobagens como o fim do disco, o fim do quadro, o fim dos direitos etc. Algo ideologicamente oposto aos interesses fundamentais da indústria cultural.

Produtor que migrou do disco (foi sócio das independentes Natasha e Nikita) para a internet (é diretor do iMusica), Felippe Llerena lista os méritos da loja:

– Era a única que comprava todo e qualquer lançamento de qualquer gravadora independente. E pagava adiantado. Era o orgulho das gravadoras independentes. Fãs e amigos que indagavam pelos álbuns sempre ouviam: “Vai na Modern Sound que lá tem!”

Algo confirmado, desde o fim dos anos 60, pelo cineasta e produtor musical Luiz Fernando Borges, um frequentador assíduo da loja, que foi a fonte principal para sua fabulosa coleção de LPs:

– O CD nunca me seduziu, portanto, nas últimos anos, eu já não comprava. Mas, graças à Modern Sound, tenho primeiras edições de LPs que hoje valem muito.

Dono do selo Lab344, que nos últimos três anos rema contra a corrente e aposta em catálogo internacional (de artistas dos 80, como A-ha e Cyndi Lauper, a novos, como Vampire Weekend e M.I.A.), Sérgio Martins é outro que chora a perda:

– A Modern Sound é referência para aqueles que sempre encararam a música como arte. Estávamos cogitando uma promoção com Cyndi Lauper aqui no Rio, durante sua turnê em fevereiro, e a Modern era a nossa primeira opção.

 
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